Caros amigos e leitores,
Venho aqui humildemente pedir-vos desculpa, pois não tenho tido tempo para colocar novos posts. Tenho andado assoberbado com trabalho e "não tem dado". E, no entanto, mesmo sem novidades, verifico que me continuam a visitar assiduamente. O que me honra mas me atribui uma responsabilidade a que não me tem sido possível corresponder.
E muito teria para vos dizer. Tenho em atraso, no mínimo, a lição de vida que um javardo sabidola me deu numa caçada a que fui recentemente, gostaria de vos contar da situação do empréstimo de saneamento financeiro dos 58 milhões de euros (mas como não são boas notícias podem esperar) e gostaria de falar do que está a acontecer na MoveAveiro e apoiar a luta dos seus trabalhadores. Mas, acreditem, não tenho tido hipótese.
Porém, algumas notícias do que se passa no “nosso” Infante D. Pedro deixaram-me profundamente preocupado e até, digo-vos sem subterfúgios, muito indignado. É que, não estamos a falar de política ou dinheiro. Estamos a falar de vidas humanas. E essas são sagradas.
Daí, enquanto deito o canto do olho ao Sporting-Beira-Mar, vir aqui num texto escrito ao correr da pena dizer-vos o que sinto (embora saiba que, mais uma vez, não vou ser politicamente correcto), deixando-vos algumas questões para reflexão a que peço juntem outras e pedindo-vos que teçam os vossos comentários para ver se, em conjunto, conseguimos extrair algumas conclusões que possam ajudar a construir um Aveiro melhor.
Se for considerado necessário, espero mais tarde rever este texto enriquecido que seja com as vossas opiniões. Mas vamos ao que interessa.
A- Dos factos (de acordo com as notícias dos jornais):
1- Na noite de sábado para Domingo um doente de Beduído-Estarreja, sentiu-se mal com dores e vómitos aparentemente provocados pela colelitíase de que padecia.
2- Recorreu à urgência (?) do Hospital Visconde de Salreu em Estarreja para onde foi transportado pelos bombeiros de Estarreja.
3- Os médicos que o observaram informaram a família que não era nada de grave. No entanto como passava da meia-noite foi transferido para o Hospital Infante D. Pedro em Aveiro para fazer exames complementares.
4- O doente, segundo os registos hospitalares, deu entrada no hospital de Aveiro pelas 02:47 tendo-lhe sido feita a triagem de Manchester que lhe atribuiu pulseira amarela.
5- De acordo com fontes hospitalares, cerca de 20 minutos depois, foi observado por um médico que, de imediato, lhe deu terapêutica e pediu exames complementares.
6- Após a triagem foi dito à família que o acompanhava que deveria aguardar por novidades.
7- Perante a angustiante falta de notícias, cerca das 05:00, a família procurou inteirar-se do estado do doente, tendo sido informada que deveria estar a fazer exames.
8- Farta de esperar e sem qualquer notícia, cerca das 06:00 (07:00 segundo fontes hospitalares) a esposa do doente aproveitou o momento em que o segurança foi fumar um cigarro e invadiu a urgência.
9- Aí foi deparar com o marido de bruços, caído no chão num corredor, envolto numa poça de sangue já coagulado, com um golpe na cabeça e com a maca por cima dele.
10- A senhora entrou em pânico, começou a gritar e tentou levantar o marido. Acorreu pessoal médico que começou a prestar assistência ao doente e mandou calar a esposa acusando-a de ter invadido as urgências sem autorização.
11- Segundo fontes hospitalares da queda resultou uma ferida que foi imediatamente suturada tendo-lhe sido feitos novos exames que já estavam previstos, aos quais se juntou o pedido de um TAC que concluiu não haver traumatismo craniano.
12- Mais tarde a esposa viu o marido, que nunca mais recuperou a consciência, já lavado, suturado e com o rosto desfigurado e foi informada que o iam transferir para o Hospital da Universidade de Coimbra.
13- Segundo fonte hospitalar, cerca das 11:00, devido ao agravamento do estado do doente, foi decidido transferi-lo em coma para o HUC, como acontece sempre que se trata de doentes neurológicos.
14- Em Coimbra a esposa foi informada pelo médico que atendeu o marido que este se encontrava em estado de coma profundo e teria uns minutos, horas ou no máximo dois dias de vida tendo falado em hemorragia interna.
15- Manuel Dias da Silva, acabaria por falecer no HUC, na segunda-feira dia 21, cerca das 19:15.
B- Notas Adicionais:
1- Está previsto encerrar a urgência do Hospital Visconde de Salreu em Estarreja.
2- Em meados de Dezembro passado, um doente deslocou-se à consulta externa do serviço de cardiologia do Hospital Infante D. Pedro. Como não havia elevadores funcionais (ao que me disseram por falta de peças para manutenção) teve de subir as escadas até ao 3º andar onde se situa esse serviço. Quando chegou ao balcão de atendimento, alegadamente devido ao esforço despendido, sofreu um enfarte e faleceu.
3- No dia 1 de Janeiro uma senhora deu entrada no Hospital de Aveiro pelas 14:00, recebeu na triagem uma pulseira amarela (que indicia a necessidade de ser vista por um especialista no prazo máximo de 1 hora) e viria a falecer no serviço de urgência pelas 17:45 sem ter chegado a receber assistência médica.
4- Não há, tanto quanto sabemos, público conhecimento das conclusões dos inquéritos internos (processos de averiguações?), que certamente foram abertos no seguimento destes infaustos acontecimentos.
5- O Gabinete de Comunicação do Hospital Infante D. Pedro afirmou desde logo (mesmo sem haver conclusões de qualquer inquérito) que, no caso do Sr. Manuel Dias da Silva, não houve período de espera entre a sua queda e a entrada da mulher e que foi feito tudo o que lhe competia e que não existe nada a apontar. Acrescentou ainda que a maca em que o doente se encontrava foi testada novamente e é segura.
6- Consta que as despesas do hospital Infante D. Pedro vem a crescer facto que não é acompanhado com um aumento de produtividade ou da qualidade de alguns serviços.
7- A Urgência do Hospital Infante D. Pedro foi recentemente inaugurada e pelo que pude constatar está materialmente bem equipada. Porém, contrariamente ao que acontece nalguns hospitais, não é ali permitido o acompanhamento do doente por um familiar e o sistema de informação da situação do doente é muito rudimentar.
C- Questões para reflexão:
1- Será que o que aconteceu recomenda manter aberto o serviço de urgências do Hospital Visconde de Salreu em Estarreja?
2- O Hospital Infante D. Pedro em Aveiro não merecerá ser gerido de forma mais eficiente e eficaz?
3- Se a Administração do HIP se conduzisse por princípios éticos não deveria, face a estes acontecimentos, imediatamente solicitar a sua demissão (e quando digo demissão não me estou a referir ao eufemismo “colocar o lugar à disposição”) ao Ministro da Tutela que após as necessárias averiguações determinaria se aceitava ou não a dita demissão?
4- Porque é que o Ministro da Saúde que é tão obstinado (e competente) a defender algumas posições (em que acredita mas que, algumas vezes, não acolhem o acordo público) não toma, nesta matéria, uma atitude?
5- Será que o HIP e os serviços existentes são aqueles que melhor defendem a saúde e a vida das populações que servem? Não deverá Aveiro exigir do poder político um novo hospital assente numa filosofia diferente e que potenciando as sinergias com os hospitais de Coimbra nos possa prestar melhores serviços com menores custos?
Vá lá caro leitor. Perca um bocadinho de tempo e dê-nos a sua opinião.
Quem sabe? Talvez um dia Aveiro lhe agradeça!
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