segunda-feira, novembro 28, 2005

30 ANOS É MUITO TEMPO

No passado sábado 26 de Novembro, desloquei-me a Lisboa para me integrar na comemoração dos 30 anos dos cursos de Economia e Finanças (de 1970/1975) do ISCEF, depois ISE e agora ISEG.

Já lá vão 30 anos e não consigo deixar de cair no velho lugar comum “parece-me que ainda foi ontem”.

Embora eu tenha começado a minha licenciatura muito jovem, nas velhinhas instalações da Faculdade de Economia do Porto da "Praça dos Leões", foi no “Quelhas” que a completei e me fiz homem e cidadão e, é sempre com sentimentos cruzados de saudade e gratidão que revejo o velho Convento das Inglesinhas em que brilhantes professores como Pereira de Moura, Jacinto Nunes, Mário Murteira e tantos outros ensinaram.

Lá nos encontrámos. Mais velhos, mais barrigudos e com menos cabelo, aspecto bem desolador quando comparado com o das nossas colegas que parece terem encontrado a fonte da juventude. O nosso colega Emanuel dos Santos que é o actual secretário de Estado do Orçamento apresentou um notável e optimista trabalho subordinado ao tema “Portugal 30 anos depois – A política orçamental desde 1975 e os desafios para o futuro”que espero rever com atenção quando me mandarem o CD, após o que fizemos uma visita às instalações.

O Convento foi restaurado (uma notável obra por sinal) e, nalguns casos, foi difícil encontrar imediatamente alguns sítios de memórias marcantes como a sala 32 de cuja janela alguns alunos se lançaram para o saguão para fugir aos “choques”, o anfiteatro Ribeiro Santos onde este foi mortalmente baleado pela PIDE e o José Lamego foi ferido, a biblioteca palco de uma célebre refrega entre MRs e PCs e tantos outros locais que, de uma forma ou outra, estão ligados a acontecimentos que contribuíram para nos formar como homens.

Foram algumas horas muito intensas que acabaram num almoço e convívio, já nas novas instalações do ISEG. Ficámos com a promessa de nos juntarmos outra vez, agora daqui a dois anos e não cinco, porque não vamos para novos e temos de aproveitar enquanto podemos, para nos revermos outra vez.

domingo, novembro 27, 2005

PETER DRUCKER - FRASES PREFERIDAS

O meu colega Jorge Nascimento Rodrigues com quem, nos anos 70, compartilhei as carteiras do ainda ISCEF no Quelhas (digo isto para impressionar e os leitores poderem pensar que eu sou tão inteligente e sei tanto como ele), entre outras coisas CEO do grupo Adventus, escritor e jornalista emérito e editor de www.janelanaweb.com e de www.gurusonline.tv (que aconselho vivamente a visitar) coligiu algumas frases preferidas de Peter Drucker que, pela sua profundidade e actualidade, aqui faço eco. Deliciem-se.



Aprender a partir dos sucessos não dos erros. Concentrem-se esforços no que cada um é capaz de fazer, e não naquilo para o qual não damos [algo que aprendeu com a sua professora primária Miss Elsa]


Os principais acontecimentos que determinam o futuro já aconteceram irrevogavelmente. O futuro já aconteceu. Não sou fã do futurismo. A última adivinhação que fiz foi em Setembro de 1929 e saíu literalmente ao contrário (o «crash» bolsista deu-se no mês seguinte).


Há apenas uma definição válida para a razão de ser de um negócio: criar clientes. A finalidade está por isso fora do quadro do próprio negócio. Está na sociedade, na medida em que a empresa é um orgão da sociedade.


Uma sociedade baseada na máxima de que os vícios privados se tornam virtudes públicas é insustentável (crítica ao conceito de racionalidade económica da mão invísivel do mercado).


Os bons resultados advém sempre de se explorar (novas) oportunidades e não de se resolverem problemas.


As novas realidades económicas significam que o governo já não consegue controlar o «tempo» económico dos ciclos de recessões e «booms», do desemprego, da poupança ou da despesa. Ao invés, devemos concentrar esforços no «clima», evitando o proteccionismo, ou educando o povo para uma sociedade do saber. Ou seja, é preferível a medicina preventiva em vez das tentativas cegas de querer resolver o curto prazo.


Desde que se começou a falar da globalização há 35 anos que se começou a contar os dias ao Estado-Nação e que se espalhou a ideia de que a interdependência económica mundial ou regional impediria as paixões nacionalistas. No fundo a mesma predição vem sendo feita desde há 200 anos, desde Immanuel Kant em 1795. Mas sempre que as paixões políticas e os Estados-Nação colidiram com a racionalidade económica, os primeiros ganharam.

sábado, novembro 26, 2005

OUTRA VEZ A LEI DE GRESHAM

“Our sterling pieces, all of pure Athenian mould, … These we use not: but the worthless, pinchbeck coins of yesterday, vilest die and basest metal, now we always use instead”

Não usamos as nossas peças de prata, de puro molde Ateniense. Usamos sempre, na sua vez, as antigas moedas de pechisbeque, sem dignidade, do mais baixo cunho e do mais inferior metal”
. Aristófanes, (405 AC), As Rãs. (trad. nossa)

A Lei de Gresham, cuja articulação é atribuída a Sir Thomas Gresham (1515-79), um homem de negócios inglês especialista em moeda externa e conselheiro financeiro de príncipes, é uma antiga peça do senso comum que, numa frase sucinta e muito conhecida, afirma o seguinte:

A má moeda expulsa a boa.

O conceito expresso na frase é muito facilmente percebido se considerarmos que, se num determinado momento, uma moeda de xelim contiver menos prata do que uma outra moeda de xelim, a “má moeda” (aquela que contém menos prata) entra em circulação e a “boa moeda” (a que contém mais prata), é entesourada e sai de circulação, enquanto existirem “más moedas” para fazer pagamentos.

Nesta guerra entre Cavaco Silva e Santana Lopes só não consigo perceber onde é que estava, está e estará o cofre onde ciosamente se guarda a “moeda boa”, expulsa pelas “má moeda” que circula.

Ou será que a frase de Santana Lopes “As eleições presidenciais encerram um ciclo. Mas também iniciarão outro” é já uma instrução do futuro mapa do tesouro?

sexta-feira, novembro 25, 2005

DO BAÚ DAS MEMÓRIAS - 1

Nas últimas eleições autárquicas assistimos ao regresso de alguns políticos que julgávamos estarem, definitivamente, retirados. Felizmente que essa nossa suposição não era correcta. E ainda bem, porque Aveiro precisa do esforço de todos.

O seu regresso levou-me a vasculhar o baú das minhas memórias onde fui encontar muitas coisas que, com saudade, me fizeram relembrar tempos passados.

Como alguns dos protagonistas desses tempos estão novamente “na ordem do dia”, inauguro com este post a reposição de algumas situações que, por uma qualquer razão particular, me trazem especiais recordações.

Aqui vai uma intervenção que fiz na AM já lá vão uns anitos. Outros textos se seguirão. Espero não perturbar ninguém com esse repositório. No entanto, se alguém se sentir incomodado, agradeço me informe que eu imediatamente abandonarei esta (talvez peregrina) ideia .

Aos visados nessa intervenção, caros companheiros e adversários de outras lutas, os meus cumprimentos. Um prémio especial para quem ainda souber quem era, à altura, o Presidente da Câmara e os seus Vereadores.

Um cumprimento especial ao Dr. Rogério Leitão, pessoa que muito admiro e foi um exemplar Presidente da Mesa da Assembleia Municipal , cujo exemplo gostaríamos que, nos dias de hoje, servisse de modelo.



Senhor Presidente da Mesa da Assembleia Municipal,
Dig.mos Membros da Mesa,
Senhor Presidente da Câmara,
Senhores Vereadores,
Caros Colegas,
Minhas Senhoras e Meus Senhores:

Vejo, na bancada do Executivo Camarário, algumas pessoas que tomaram um ar preocupado e até carrancudo quando pedi a palavra, certamente por recearem que a minha intervenção sirva apenas para criticar, apontando erros e omissões ao documento apresentado pelos Serviços Municipalizados de Aveiro.

Tranquilizem-se e animem-se pois, desta vez, não vou criticar o documento, provando assim a esta Assembleia que não me caem os parentes na lama quando tenho de tomar partido a favor do Executivo, pese embora todas as divergências que, felizmente, nos separam.

Faço isto por duas ordens de razões:

- Em primeiro lugar porque sou antecipadamente sensível às doutas palavras de encómio que o Sr. Dr. Simões Dias vai, certamente, tecer ao documento no final desta discussão,

- Em segundo lugar e fundamentalmente porque não sendo eu um homem bom, na acepção que ao termo é dada pelo Sr. Nuno Tavares, sou um bom homem que reside numa rua que, entre outras coisas, não tem saneamento e que tem necessidade urgente de o ter.

Assim coloco-me inteiramente ao lado do Executivo e, especialmente, do Sr. Vereador e Presidente do Conselho de Administração dos Serviços Municipalizados Engº Victor Silva, para o ajudar a defender-se de algum deputado municipal mais exigente que venha aqui com a bizantinice de, por exemplo, dizer que na página 13 do documento nas colunas Ano em Curso e na linha Subtotal existe um erro de 1250 contos (a coluna Valor Total que deveria ser igual à soma das colunas Financiamento Definido e Financiamento Não Assegurado excede essa soma em 1250 contos), que na página 14 em idênticas colunas e linha, existe um engano de 4800 contos e que, conclusivamente, na linha do Total da página 15, existe um “gato” de 3550 contos.

Desta forma e posta de parte a ideia do Sr. Eng. Carlos Santos que pretender ter um documento totalmente correcto é colocar a fasquia alta de mais, não vá alguém olhar para nós e dizer que não é a fasquia que está alta de mais, nós é que estamos gordos, elaborei um rol de argumentos que pode permitir sair airosamente desta situação.

O 1º argumento a utilizar pode ser um argumento de natureza filosófica. Pode-se aqui introduzir a temática da filosofia da nova matemática, tentando demonstrar que as velhas ideias da exactidão da ciência aritmética estão hoje ultrapassadas e podem, inclusivamente, mostrar-se prejudiciais para o bom andamento dos serviços públicos.

Um 2º argumento a utilizar pode ser um argumento de natureza legal. Assim deve-se invocar o D. Lei nº 228/93 de 22 de Junho que estabelece o Novo Regime de Contabilidade dos Serviços Municipalizados dizendo que, em nenhuma parte desse fundamental documento legal se diz, expressamente, que os documentos previsionais obrigatórios têm de ter as respectivas contas certas.

Um terceiro argumento utilizável pode ser o argumento de natureza metodológica. De facto, analisar um documento desta importância à luz dos erros nele inscritos é uma visão miserabilista, nada dignificante. Deve-se, outrossim, enaltecer o facto de 99% do documento ter as contas certas e criticar profundamente as "forças do bloqueio" que, servindo-se de argumentos de "lana caprina", pretendem embaraçar o trabalho do executivo.

Se nenhum destes argumentos resultar e porque convém casar a culpa antes que esta, mais uma vez, morra solteira e uma vez que casos recentes demonstraram não ser de bom-tom atirar as culpas para cima dos serviços, recomendo que se assuma uma pose de Estado e se informe esta Assembleia, invocando, se possível, a nossa condição de homens que têm muitas dúvidas e frequentemente se enganam, que a culpa, a culpa… foi do computador.

TESTE DE ÉTICA

Imagina que estás em Washington, no meio de um terrível caos provocado pelas enxurradas resultantes de um período de chuva torrencial, ocorrido devido à passagem de mais um tornado.

És um repórter fotográfico “free-lancer” e estás desesperado, a tirar as fotos que possam ter maior impacto.

De repente vês o Presidente Bush num automóvel, lutando desesperadamente para não ser arrastado pela corrente, lodo e pedras.

No entanto, Bush acaba por ser arrastado pela corrente e tu tens a oportunidade de o salvar ou de tirar a fotografia, que daria a volta ao planeta, mostrando a morte do homem mais poderoso do mundo.

Baseado nos teus princípios éticos e morais responde sinceramente: farias a foto a preto e branco ou a cores?

quinta-feira, novembro 24, 2005

BLOGOSFERA E ESTUPIDEZ

Quando um maçarico da blogosfera como eu (ou, como agora se diz, um “newcomer”), tem algum tempo para consultar parte da substância da quase infinita lista de blogues existentes, verifica que é um repositório quase total da multiplicidade de aspectos que a estupidez humana pode assumir, multiplicada exponencialmente quando se escreve ao abrigo do anonimato. Deixando para melhor ocasião a análise das consequências da maledicência obscura e anónima que campeia, analisemos, se bem que superficialmente, a problemática da estupidez.

Para muitos aquilo que se passa pode constituir uma grande admiração. Mas eu, que estúpido me confesso, penso que a blogosfera, não é, neste aspecto, um caso particular. Reflecte apenas a sociedade em que estamos inseridos.

Pitkin considerava que quatro quintos das pessoas tem quociente de estupidez suficientemente grande para poderem ser consideradas “estúpidas” e, se nós olharmos para as caixas de comentários dos blogues (particularmente os locais), verificamos que cumprimos com facilidade e garbo essa estatística.

Sou dos que pensa que não compensa varrer problemas para debaixo do tapete e que dada a gravidade do problema este assunto deve merecer alguma reflexão.

Uma vez que quando se fala de estupidez o trabalho de Carlo Cipolla é incontornável, comecemos por fazer uma análise rápida da teoria que explanou.

O Professor Carlo M. Cipolla (1922-2000), historiador italiano nascido em Pavia, especializado em história da economia, estudou na Sorbonne e na London School of Economics e, em 1959, após ter leccionado em várias universidades italianas entrou para a Universidade da Califórnia onde permaneceu até à sua reforma em 1991. Foi um autor prolífico, tendo publicado no seu livro “Allegro ma non Troppo” (1988) uma dos mais divulgados ensaios sobre a estupidez humana intitulado As Leis Básicas da Estupidez Humana.

Cipolla define a estupidez e a inteligência de acordo com os resultados que se obtém com uma determinada acção estúpida ou inteligente e, não só considera que a estupidez existe mas que domina o mundo o que é, aliás, facilmente demonstrável se atentarmos na forma como é governado.

As Cinco Leis Básicas da Estupidez Humana enunciadas por Cipolla são:

1- Subestimamos sempre o número de pessoas estúpidas.

2- A probabilidade de uma pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica da sua personalidade.

3- Uma pessoa estúpida é aquela que ocasiona um dano a outra(s) pessoa(s) sem conseguir qualquer vantagem para si ou mesmo originando um prejuízo para si próprio.

- Para além do estúpido Cipolla considera existirem mais três tipos de pessoas:

- O Infeliz (ou desesperado) – Aquele cujas acções geram um prejuízo pessoal e criam ao mesmo tempo vantagens para os outros.
- O Inteligente – Aquele cujas acções geram ao mesmo tempo vantagens para si e para os outros.
- O Bandido – Aquele cujas acções geram vantagens para si ao mesmo tempo que causam danos a outros.

4- As pessoas não estúpidas subestimam sempre o poder de causar dano das pessoas estúpidas, pois esquecem-se constantemente que, em qualquer momento e sob qualquer circunstância, associar-se com gente estúpida constitui, invariavelmente, um gravíssimo erro.

5- A pessoa mais perigosa que pode existir é a estúpida.

Estas Leis obrigam-nos, necessariamente a pensar. É aliás esse o desiderato deste post. E são essas reflexões que podem fazer melhorar a nossa sociedade pois, só evitando que pessoas estúpidas assumam cargos de liderança é que podemos evoluir.

As pessoas estúpidas são profundamente perigosas porque às pessoas “racionais” é muito difícil entender comportamentos estúpidos, totalmente erráticos, sem razão determinada e fim específico, que fogem a todas as regras da racionalidade.

Perante um indivíduo estúpido estamos completamente desarmados pois somos apanhados de surpresa e não estamos preparados para nos defendermos “racionalmente” de um ataque que nada tem de racional.

Ninguém sabe, percebe, ou pode explicar, porque é que um estúpido faz o que faz, a não ser por uma razão: estupidez.

De facto parece confirmar-se plenamente o que Claude Chabrol afirmou: “A estupidez é muito mais fascinante que a inteligência. A inteligência tem os seus limites, a estupidez não”.
E já que, pelos vistos, é impossível acabar com a estupidez, convirá ao menos identificar os estúpidos (como eu) que "botam faladura". Por isso combata (e ajude a combater) o anonimato na blogosfera.

quarta-feira, novembro 23, 2005

CONSELHOS DE VIDA

Se os seguíssemos a vida era muito mais fácil!

Ouve, vê e cala
e viverás vida folgada.
Tua porta çerrarás,
teu vezinho louvarás,
quanto podes nam farás,
quanto sabes nam dirás,
quanto vês nam julgarás,
quanto ouves nam crerás,
se queres viver em paz.
Seis cousas sempre vê,
quando falares te mando:
de quem falas, onde e quê,
e a quem, como e quando.
Nunca fies nem perfies,
nem a outro enjuries,
nom estês muito na praça,
nem te rias de quem passa,
seja teu todo o que vestes;
a ribaldos nam doestes,
nam cavalgarás em potro,
nem ta molher gabes a outro;
nom cures de ser picam,
nem travar contra rezam.
Assi lograrás tas cãas,

ou tuas queixadas sãas.


D. João Manuel, séc. XV

segunda-feira, novembro 21, 2005

MORREU O "PAPA"

Peter Drucker, o pai da administração moderna, por muitos considerado o “papa da gestão”, morreu na manhã de sexta-feira dia 11 de Novembro de 2005, a alguns dias de fazer 96 anos de idade, na sua sóbria casa de Claremont na Califórnia, onde vinha ultimamente a receber cuidados terminais. Aquele que alguns despeitados académicos nunca deixaram de considerar um mero jornalista, deixa-nos após uma notável carreira de quase 75 anos, durante a qual escreveu 39 livros, que estão traduzidos em mais de 30 línguas, o último dos quais “O Executivo Eficiente em Acção” (em co-autoria com Joseph Maciariello) estará nas bancas no início do próximo ano. Deixa a sua esposa Doris Schmitz, quatro filhos e seis netos.

Foi com os escritos do professor do fato de flanela cinzento, que pouca relevância atribuía à ciência económica e afirmava que nunca poderia ser um economista, porque o que lhe interessava eram as pessoas , que aprendi que as pessoas são o recurso mais importante das organizações e a regra fundamental para lidar com a turbulência dos nossos dias – “a mudança não se gere; antecipa-se e lidera-se”.

De facto a vida e a obra de Peter Drucker marcaram-me profundamente. Nascido em 1909 em Viena de uma família judia, obteve uma bolsa para a Universidade de Frankfurt onde, em 1931, se doutorou em Direito Público e Internacional. Fugiu para Londres em 1933, escapando-se à Alemanha Hitleriana onde, passados 4 anos, se casou com Doris e rumou para aos Estados Unidos, tendo sido professor de gestão de 1950 a 1971 na Graduate Business School da Universidade de Nova York. Em 1971 foi para a Califórnia, onde ajudou a criar o primeiro MBA em gestão, tendo exercido o cargo de professor de Ciências Sociais em Claremont até 2003, ano em que deixou dar aulas e acompanhar de perto os seus inúmeros alunos com quem, como dizia, tanto aprendia. Tornou-se consultor da "sua" escola a partir dessa data. Da sua vastíssima obra - o primeiro livro que escreveu nos Estados Unidos foi em 1939 e o seu último artigo na Harvard Business Review foi publicado em 2004 – destaco e recomendo três livros, sempre actuais mas escritos em épocas distintas: “The Pratice of Management”, “The Effective Executive” e “Innovation and Entrepreneurship

Peter Drucker conhecia bem Portugal que visitou na companhia da sua mulher e considerava os portugueses “desenrascados” e empreendedores pelo facto de terem tido a sorte de nunca ter existido em Portugal um Governo central eficaz.

A filosofia de Drucker assenta no facto de considerar que a gestão é uma arte que tem a ver com as pessoas e os seus valores, o seu desenvolvimento, a estrutura social, a comunidade e com os valores da responsabilidade social e ética empresarial. Nos últimos anos da sua vida investiu grande parte do seu tempo disponível a trabalhar para organizações sem fins lucrativos (o terceiro sector), muitas vezes “pro bono”.

Morreu o visionário da gestão. Morreu o homem que, no final dos anos 40, foi o primeiro professor a ensinar formalmente a disciplina de gestão, que defendia que, numa organização, as preocupações com o marketing e com a inovação devem vir sempre antes das preocupações com as finanças. Morreu o defensor da gestão por objectivos, da inovação, do empowerment, da gestão do conhecimento e da qualificação dos trabalhadores. Morreu o homem que trabalhou com muitas das maiores empresas mundiais, com pequenas empresas empreendedoras, com organizações não lucrativas e agências dos governos dos Estados Unidos, Canadá e Japão. Morreu o homem que com uma simples declaração fazia mudar o modo como alguns dos mais poderosos gestores mundiais geriam os seus negócios.
Fica a sua obra.

Até sempre professor.