Entrevista DA 25/2/2009
O Dr. Élio Maia pertence ao grupo, cada vez mais vasto, de políticos que, pelo facto de ter sido eleitos para o exercício de um cargo de serviço público, se julgam “os ungidos de Deus” a quem, a troco de algumas benesses, todos devem submissão e têm a obrigação de elogiar, mesmo quando nada fazem ou cometem equívocos e injustiças. Esses políticos reagem muito mal quando encontram alguém que lhe apontam os erros e as omissões que vêm a cometer. Melhor seria para Aveiro que o Dr. Élio Maia aceitasse as críticas e ouvisse as múltiplas sugestões e conselhos que lhe temos dado e corrigisse a sua actuação de molde a colher louvores no futuro. Mas não. Embalado pelos elogios dos néscios que pululam na sua corte fechou os olhos à realidade. Estive convencido que o Dr. Élio Maia, apesar de completamente inábil para o exercício do cargo que ocupa era, no fundo, um munícipe genuinamente empenhado na resolução dos problemas que afectam os aveirenses. Mas tenho vindo a alterar gradualmente essa minha posição.
Mas não acha que há um excesso de crítica por parte do PS?
Élio Maia diz que uma grande percentagem das promessas eleitorais está já cumprida. Admite que alguma coisa foi feita?
Que pensa das relações deste executivo com o Beira-Mar?
Élio Maia tem reclamado para si parte dos louros da vinda para Aveiro de vários organismos públicose de alguns investimentos. Reconhece mérito ao presidente da Câmara nesses processos?
Nessa matéria o Dr. Élio Maia comporta-se como um verdadeiro cuco político, reclamando para si os louros do regresso e criação de organismos em Aveiro para ao quais nada contribuiu. Os louros competem por inteiro ao Governo e especialmente ao seu representante entre nós o governador civil dr. Filipe Neto Brandão, e aos deputados de Aveiro entre os quais avulta Afonso Candal. Mas o dr. Élio Maia também tem obra, é forçoso reconhecê-lo. Trouxe para o concelho a estação de tratamento do lixo e apoiou sem reservas a abertura de uma terceira célula no aterro de Taboeira, pretendendo transformar Aveiro na capital ou como alguns dizem num cluster do lixo. Pobre destino.Também se pode “orgulhar” de ter contribuído para a dissipação do “know-how”, de toda a excelente capacidade técnica e forte iniciativa dos muitos e competentes funcionários do quadro municipal que, face à total ausência de liderança e de objectivos, definham, angustiados com o que está a passar. Quase tudo passou a ser feito por consultores externos e os custos destas consultorias subiram em flecha. Agora até os jardins foram entregues ao cuidado de privados. Os passeios, onde ainda os há, estão esburacados e a grande maioria das vias municipais quase intransitável. Os transportes terrestres e os fluviais de ligação a S. Jacinto funcionam mal ou não funcionam e a MoveAveiro, atulhada em dívidas e incapaz de cumprir com a dignidade mínima a sua missão é o verdadeiro paradigma da incapacidade de gestão deste Executivo.
Quando será conhecido o candidato do PS?
O candidato do PS vai ser escolhido na reunião da comissão política concelhia que se realiza no dia 2 do próximo mês, na sede do partido, pelas 21 horas.
Quem vai ser escolhido?
Existem muitos socialistas e até independentes próximos do PS que poderiam desempenhar com êxito o exigente lugar de presidente da Câmara de Aveiro. O problema da escolha reside em saber, face ao actual ambiente económico e político e à missão a desempenhar, qual o candidato que reúne as melhores condições de liderança para desempenhar com êxito esse mandato.
Tem-se falado muito em José Costa. É neste momento o candidato mais provável?
O Dr. José Costa pode assumir com êxito uma candidatura à Câmara. Tem formação académica na área económica, que é uma competência desejável nas actuais circunstâncias. Para além disso tem um curriculum profissional invejável, quer na actividade privada quer na administração pública, e possui uma experiência autárquica relevante. Cultiva uma postura low-profile, que privilegia a negociação e o compromisso, podendo ser capaz de gerar consensos da esquerda à direita. Possui vastos conhecimentos junto do poder central e é um humanista, homem sério, trabalhador e de palavra que tem deixado amigos por onde tem passado. Estou certo que, se for escolhido, dará um excelente Presidente da Câmara de Aveiro.
E o candidato à Assembleia Municipal?
Também terá de passar pelo crivo da comissão política concelhia. Mas, no meu entender, o dr. Carlos Candal deverá manter-se como cabeça-de-lista. Só se apresentar motivos muito fundados para se poder “livrar” do encargo é que o Partido Socialista o poderá libertar.
Acredita que a coligação PSD/CDS se vai repetir?
Não sei nem esse facto é relevante para a estratégia autárquica do PS. Pessoalmente, gostaria que a Coligação se repetisse e, francamente, considero que é o que vai acontecer. Apesar da ausência de qualquer projecto político comum e mesmo de costas voltadas, os interesses vão falar mais alto e a coligação vai acabar por se repetir.
Mas o líder concelhio do CDS afirmou recentemente que o partido pondera concorrer sozinho às próximas eleições e está disponível para ser o candidato.
Essas declarações devem, a meu ver, ser avaliadas no contexto próprio. O dr. Miguel Fernandes é um político da nova geração PP, de verbo fácil, sobranceiro e agressivo. Pena que o estilo gongórico do seu discurso lhe faça perder credibilidade e, na sua ânsia de dar nas vistas, não sustenha a sua verbosidade e se esgote em guerras do alecrim e manjerona com os seus adversários políticos, especialmente do Bloco de Esquerda, esquecendo que, não raramente, os nossos verdadeiros inimigos políticos se acomodam nas nossas costas. Dou-lhe o mérito de se ter apercebido que, se o CDS/PP repetir a Coligação, vai ver, no futuro, o seu eleitorado totalmente absorvido pelo PSD e, face à hipótese de conseguir lutar nas urnas pelo segundo vereador, resiste à coligação e coloca-se à disposição do partido para encabeçar essa missão. Louvo-lhe o gesto quixotesco que, no meu entender, não passará daí, pois vai ser engolido e trucidado pelos interesses daqueles que sobrevivem à sombra da coligação.
Sei que vou escandalizar algumas pessoas, mas gostaria de dizer que nutro pelo sr. Rocha de Almeida admiração pessoal e política e considero que durante os seus mandatos contribuiu de forma importante para sanear o atoleiro político em que se tinha convertido o PSD de Aveiro. Claro que nem sempre conseguiu levar a bom porto o seu desiderato, dada a intrincada teia de interesses pessoais e políticos que encontrou. Mas reconheço que trabalhou afincadamente na construção de um Aveiro melhor e tentou contornar da melhor forma os múltiplos escolhos que lhe foram colocando no caminho. Com a frontalidade que costumo assumir, penso que o sr. Rocha de Almeida com a sua experiência de autarca, cedo se apercebeu da incapacidade deste executivo e, particularmente, do dr. Élio Maia para resolver os problemas do nosso município bem como da fragilidade política da coligação. No meu entender, a teia de interesses instalada, sentindo a sua cada vez maior indisponibilidade para manter a coligação, criou condições para o afastar, fazendo com que lhe fosse lançando o repto para se recandidatar à Câmara de Mira. Repto que como militante empenhado decidiu aceitar. Sinto que parta. Mas compreendo a sua posição e o seu cansaço face a todas as adversidades que lhe plantaram no caminho e até compreendo as declarações políticas abonatórias que, de partida, tem feito à actuação quer do Executivo camarário quer da presidente da Assembleia Municipal. Claro que não sou hipócrita e não digo que lhe desejo a vitória na Câmara de Mira. Mas gostaria que o PSD se lembrasse dele aquando da feitura das suas listas para a Assembleia da República. Ganharíamos um excelente deputado. Pena é que com a sua saída, o PSD de Aveiro regresse à situação em que estava antes de assumir a presidência da concelhia.
Que papel lhe estará destinado no município e no partido no futuro próximo? Vai-se recandidatar a líder concelhio do PS?