sábado, dezembro 31, 2005

PEQUENOS DEUSES CASEIROS

Pequenos deuses caseiros
que brincais aos temporais,
passam-se os dias, semanas,
os meses e os anos
e vós jogais, jogais
o jogo dos tiranos.

Pequenos deuses caseiros
cantai cantigas macias
tomai vossa morfina,
perdulai vossos dinheiros
derramai a vossa raiva
gozai vossas tiranias,
pequenos deuses caseiros.

Erguei vossos castelos
elegei vossos senhores
espancai vossos criados,
violai vossas criadas,
e bebei, o vinho dos traidores
servido em taças roubadas.

Dormi em colchões de penas,
dançai dias inteiros,
comprai os que se vendem,
alteai vossas janelas
e trancai as vossas portas,
pequenos deuses caseiros
e reforçai, reforçai as sentinelas.

Sidónio Muralha

RELEMBRAR SIDÓNIO MURALHA

Sidónio Muralha, considerado um dos melhores poetas para crianças em língua portuguesa, foi um homem sorridente, gargalhante, certo de suas certezas, entusiasmado, vital, por vezes arrogante. Escreveu (muitas) coisas maravilhosas como este poema de Natal que nos deixou:

NATAL

Hoje é dia de Natal.
O jornal fala dos pobres
em letras grandes e pretas,
traz versos e historietas
e desenhos bonitinhos,
e traz retratos também
dos bodos, bodos e bodos,
em casa de gente bem.
Hoje é dia de Natal.
- Mas quando será de todos?

Sidónio Muralha foi um homem íntegro e solidário que definiu assim a sua rota:

Parar. Parar não paro.
Esquecer. Esquecer não esqueço.
Se carácter custa caro
pago o preço.


Exemplar!

quinta-feira, dezembro 29, 2005

CULTURA EMPRESARIAL E COMUNICAÇÃO

Uma empresa portuguesa encomendou a uma empresa japonesa 10.000 componentes electrónicos, para instalar nuns aparelhos que produzia, tendo informado que aceitava 0,1% de peças defeituosas.

No limite do prazo estabelecido para a entrega recebeu as peças com a seguinte nota.

Junto remetemos as 10.000 peças encomendadas que incluem as 10 peças defeituosas.

Pedimos desculpa por apenas agora fazermos a entrega mas tivemos de mandar fazer à mão as peças defeituosas e isso fez-nos demorar algum tempo.

Esperamos que fiquem satisfeitos.

ÁRVORE DE DECISÃO


Um amigo meu telefonou-me, logo de manhã, muito aflito, a dizer que ao chegar ao seu posto de trabalho tinha encontrado o computador partido e não sabia o que havia de fazer.

Para o ajudar mandei-lhe a árvore de decisão desse problema, elaborada para os funcionários públicos do país vizinho. Dada a urgência demonstrada mandei-lha mesmo sem tradução.

Aqui vai uma cópia. Um Bom Dia para todos.

terça-feira, dezembro 27, 2005

LISBOA-DAKAR

O Dakar 2006 – a mais famosa prova de todo o terreno vai este ano arrancar de Lisboa. O Lisboa–Dakar parte dia 31 de Dezembro do Centro Cultural de Belém e decorre até 15 de Janeiro.

O meu vizinho também queria ir mas estampou-se nos treinos.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

O MAIOR

Um juiz, um bispo e um gestor municipal juntaram-se para tomar uma bica e conversar um pouco. Como eram todos muito vaidosos, depressa a conversa descambou para a questão de tentar provar quem era o maior.

O Juiz disse: A minha posição é de dignidade e poder. Quando entro numa sala de audiências o oficial de justiça diz: Todos de pé! E sem excepção, todos os presentes se levantam em sinal de respeito.

É de facto muito interessante, disse o bispo. As pessoas na sala de audiências levantam-se em sinal do respeito que lhe têm. Porém quando recebo alguém em audiência ele ajoelha-se, beija-me o anel e trata-me por Sua Eminência Reverendíssima.

O gestor municipal que até aí se mantivera em silêncio, colocou um sorriso de vencedor e disse:

De facto eu sou o maior. Ainda ontem fui à Assembleia Municipal apresentar os resultados da minha gestão no último ano e, mal o acabei de fazer, toda a gente olhou para mim e disse: OH MEU DEUS!

sábado, dezembro 24, 2005

BOM NATAL


Este ano parece que o Pai Natal não vem...

Mas, mesmo sem prendas, aproveitem para festejar.

UM SANTO NATAL PARA TODOS

LIDERANÇA FEMININA

Recentemente, surgiu o interesse em saber identificar as diferenças entre líderes masculinos e femininos, por forma a ajuizar em que medida a sensibilidade de cada sexo interfere na sua actuação e eficácia, dada a crescente ascensão de mulheres a lugares de liderança (v. g. …)

Existem, reconhecidamente, alguns obstáculos ao desenvolvimento da carreira das mulheres, entre os quais a responsabilidade biológica, o facto de, tradicionalmente, a mulher carregar a responsabilidade da família, a invisibilidade das mulheres e a falta de redes profissionais, a sua atitude preconceituosa em relação à liderança e às lutas que envolve (embora se verifique , nalguns casos , uma absoluta falta de escrúpulos de que a ascensão “na horizontal” é paradigmática), os estereótipos acerca de papel do sexo feminino e a discriminação sexual, as crenças sobre os tipos de tarefas que são adequadas às mulheres, as diferentes experiências de carreira e, particularmente, o “Tecto de Vidro” ("Glass Ceiling") que consubstancia todas as barreiras artificiais baseadas em preconceitos, que impedem pessoas qualificadas e, em especial, as mulheres, de progredir nas organizações.

Apesar de, historicamente, os homens deterem a predominância de posições de liderança nas organizações isso não significa que tenham sempre vantagens sobre as mulheres.

A análise empírica demonstrou que não existe um padrão claro de diferença de estilos de liderança entre líderes masculinos e líderes femininos. A Harvard Business Review publicou, inclusivamente, um estudo do qual (entre outras) podemos retirar as seguintes conclusões:

- É muito mais provável que as mulheres utilizem mais o poder baseado no carisma, na reputação profissional e nos contactos, do que o poder baseado na sua posição hierárquica;

- As mulheres utilizam mais a liderança transformacional, o que significa motivar os seus seguidores pela transformação do seu interesse pessoal nos objectivos de organização;

- As mulheres que assumem a sua “feminilidade” ou são “neutras”, obtêm maior êxito, do que as mulheres que são classificadas como "masculinas".

E eu que não tenho espírito de seguidor (tenho a certeza) e muito menos feminino (penso eu) e reconheço que o supra-sumo do machismo se consubstancia no nosso simpático “macho das obras”, acho que uma nova (e aparentemente empática) líder local deveria reanalisar, face a estas conclusões da HBR, a forma de exercício da sua liderança.

Penso eu de que...

GOPs E ORÇAMENTO DA CMA

O meu amigo João Manuel Oliveira (que espero rever na próxima AM para saldar uma dívida que, com ele, tenho) escreveu no seu distintíssimo e considerado blogue AveiroLx (peço desculpa por ainda não saber linkar - coisas de newcomers que sei que ele vai ajudar a solucionar) que as Grandes Opções do Plano e Orçamento da Câmara Municipal de Aveiro tal como foi enviado aos deputados municipais - foram apresentadas online o que ele, justamente, considera um enorme passo em frente!

Já agora, como diz o Júlio Almeida, não acham que o acontecimento mereceria umas GOPPs e um Orçamento melhores?

sexta-feira, dezembro 23, 2005

DO BAÚ DAS MEMÓRIAS - 3 - Ninguém tem o direito de permanecer indiferente

Não nos podemos alhear da dimensão política se queremos compreender o nosso mundo e o nosso tempo, se queremos influenciar os nossos destinos.
Mas, então, como conceber a política?

Como afirma Edgar Morin a política lança o maior desafio ao saber. Diz respeito a todos os domínios do conhecimento do Homem e da Sociedade. Com efeito,tudo o que é aparentemente não-político comporta, pelo menos, uma dimensão política: a ecologia, a demografia, a juventude, a habitação, o bem-estar, etc..

A Política ocupa-se do que há de mais complexo e precioso: a Vida, o Destino, a Liberdade, em suma a Humanidade. Por assim dizer a vida e a morte de cada humano dependem, em certa medida, da determinação política. A sobrevivência da Humanidade entra, definitivamente, no jogo político.

Tudo depende da Política e esta, no fundo, depende de tudo. A Política lança, assim, o maior desafio à acção. Toda a acção é incerta e necessita de uma estratégia. Mas a estratégia política é um jogo particularmente incerto que pode provocar reacções que desvirtuam a Política.
No entanto, é na Política que imperam as ideias mais simplistas, menos fundadas e mais brutais.

Uma visão simplista deste fenómeno promove o pensamento fechado, o pensamento dogmático, o pensamento fanático, o tabu...

É nossa convicção que embora a Política corporize jogos de conflitos e de interesses, de classes e de ideologias, é no seu íntimo um jogo do erro e da verdade. Por outras palavras, é vital, não nos enganarmos em política.

A Política exige, primordialmente, um pensamento que consiga erguer-se ao nível da complexidade do Homem respondendo deste modo aos seus anseios mais profundos.

Talvez se desconheçam ainda, como se julgava outrora, quais são as receitas para tornar mais feliz uma Sociedade. Assumir esta ignorância é, sem dúvida, dar um grande passo em frente na procura desse caminho. Mas nós devemos saber o que não queremos: um poder que decide por nós, que nos tenta manipular, que nos menoriza, mesmo se tudo isso é feito com a "melhor das intenções".

Saibamos hoje interpretar a utopia do sonho perspectivando no presente as respostas do futuro.

Convidamo-lo, desde já, a vencer o ciclo vicioso do pessimismo.
Convidamo-lo a ganhar a esperança no novo quotidiano.

Ninguém tem o direito de permanecer indiferente.


A CORAGEM DE TRANSFORMAR, Aveiro, CD, Maio 1992
Um grande abraço natalício aos outros elementos do "bando dos quatro" - HC, MM e AR.

CANÇÃO DE EMBALAR (o Élio)

Arranja-me um emprego

Tu precisas tanto de amor e de sossego
- Eu preciso dum emprego
Se mo arranjares eu dou-te o que é preciso
- Por exemplo o Paraíso
Ando ao Deus-dará, perdido nestas ruas
Vou ser mais sincero, sinto que ando às arrecuas
Preciso de galgar as escadas do sucesso
E por isso é que eu te peço

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego

Se meto os pés para dentro, a partir de agora
Eu meto-os para fora
Se dizia o que penso, eu posso estar atento
E pensar para dentro
Se queres que seja duro, muito bem eu serei duro
Se queres que seja doce, serei doce, ai isso juro
Eu quero é ser o tal
E como o tal reconhecido
Assim, digo-te ao ouvido

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego


Sabendo que as minhas intenções são das mais sérias
Partamos para férias
Mas para ter férias é preciso ter emprego
- Espera aí que eu já lá chego
Agora pensa numa casa com o mar ali ao pé
E nós os dois a brindarmos com rosé
Esqueço-me de tudo com um pôr-do-sol assim
- Chega aqui ao pé de mim

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego

Se eu mandasse neles, os teus trabalhadores
Seriam uns amores
Greves era só das seis e meia às sete
Em frente ao cacetete
Primeiro de Maio só de quinze em quinze anos
Feriado em Abril só no dia dos enganos
Reivindicações quanto baste mas non tropo
- Anda beber mais um copo

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego.


Sérgio Godinho

quarta-feira, dezembro 21, 2005

HISTÓRIAS DE VEREADORES

Um novo vereador municipal ao instalar-se no seu novo gabinete de trabalho encontrou uma nota escrita pelo seu predecessor que dizia: “Deixo-te três envelopes numerados na gaveta de cima da tua secretária. Se, por acaso, acontecer uma crise para a qual não tenhas solução, abre um envelope”.

Passados três meses nada corria bem. O novo vereador não acertava os números do orçamento, tinha sérios problemas de tesouraria, não conseguia arrancar com os novos investimentos e estava debaixo de intenso fogo da opinião pública. Tudo lhe corria mal.
Lembrou-se então da nota do seu anterior colega e decidiu abrir o primeiro envelope.
A mensagem dizia: “Põe as culpas no teu antecessor”.
Imediatamente o vereador convocou uma conferência de imprensa onde acusou o anterior executivo de tudo o que estava a acontecer e, miraculosamente a pressão desapareceu.

Uns tempos depois o clima estava outra vez muito negro. Os fornecedores queixavam-se da falta de pagamentos, os munícipes demonstravam a sua insatisfação pelo facto de não serem feitas as prometidas transferências financeiras, as obras não arrancavam e os serviços manifestavam sérios indícios de insatisfação. O Presidente andava com cara de poucos amigos e face a tudo isto o nosso vereador decidiu abrir o segundo envelope.
A mensagem dizia.
“Informa publicamente que vais proceder a uma reorganização interna e vais aplicar uma série de novas medidas para enfrentar a crise”.
O vereador assim fez e, como por milagre e pela segunda vez, a crise desvaneceu-se.

Três meses depois sobreveio uma nova crise e o vereador decidiu abrir o terceiro envelope.
A mensagem dizia: “Prepara três envelopes”.

RELEMBRAR ADRIANO

Este parte, aquele parte
E todos, todos se vão
Galiza ficas sem homens
Que possam cortar teu pão

Tens em troca

órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pai

Coração
que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará


Rosalia de Castro

segunda-feira, dezembro 19, 2005

ONDE ESTÁ O PROBLEMA?

... O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria-prima de um país...

Porque pertenço a um país onde a esperteza é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal e se tira um só jornal, deixando-se os demais onde estão.

Pertenço ao país onde as empresas privadas são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se defrauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes....

... Como "matéria-prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos...

...É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um Messias. Nós temos que mudar. ...

Eduardo Prado Coelho - Público
Enviado por Nuno Couteiro

domingo, dezembro 18, 2005

VIVA O FUTEBOL


Portugal vai receber a fase final do Campeonato Europeu de Sub/21.

Ao menos nesta área não há quem nos bata.

Um novo "cluster" a explorar?

sábado, dezembro 17, 2005

LIDERANÇA

Como eu sempre digo aos meus alunos, a liderança é, certamente, a mais estudada de todas as funções da gestão e, possivelmente, a menos compreendida. De facto quando se pretende abordar o tema é fácil perdermo-nos num interminável labirinto em que nos defrontamos com um sem número de definições, um infindável número de artigos publicados e uma grande profusão de, nunca acabadas, polémicas.

No actual contexto ambiental, crescentemente complexo e volátil, é, cada vez mais reconhecido, que não basta gerir eficientemente as organizações. A diferença competitiva depende, não só da inovação mas, sobretudo, da criatividade e isso implica a necessidade da existência de uma liderança eficaz.

Daí assistir-se, na investigação actual, a um progressivo deslocamento da importância das funções de gestão para a importância das funções de liderança.

Embora se encontrem as mais variadas formas para a definir, a liderança é comummente relacionada e reduzida a um processo pelo qual se dirigem e influenciam as actividades dos membros de um determinado grupo.

Tradicionalmente a Liderança é definida como o processo pelo qual uma determinada pessoa - o líder - influencia o comportamento de outras - seguidores ou subordinados - tendo em vista o alcance de determinados objectivos, por si definidos.

A Liderança, de acordo com Yukl, consiste num processo de influência que afecta a interpretação dos eventos pelos seguidores, a escolha dos objectivos para a organização ou grupo, a organização das actividades para o alcance dos objectivos, a motivação dos seguidores para que se atinjam os objectivos, a manutenção das relações de cooperação e do espírito de equipa e a obtenção de apoio e cooperação de pessoas exteriores ao grupo ou organização.

Já Jago considera que a liderança consiste no uso da influência não-coerciva para dirigir e coordenar as actividades dos membros de um grupo organizado, visando o alcance dos objectivos do grupo .

Está claro que este humilde escriba não poderia (presunção e água benta...) deixar de ter a sua própria opinião pessoal sobre o conceito. Aí vai:

A liderança é uma arte através da qual o líder consegue que os seus subordinados (ou seguidores) façam o que ele quer, julgando que estão a fazer aquilo que querem.

Se gostarem utilizem. Mas não se esqueçam de mencionar a fonte! (LOL)

Ah! E hoje (17/12/05) foram dados à estampa alguns textos muito interessantes sobre esta matéria, no XIS, que é um dos suplementos do Público. Quem se interessar pelo tema não deve deixar de ler.

Recomenda-se a sua leitura aos líderes políticos da nossa praça. Mas quando abordarem o carisma não se esqueçam do "Dark Side of the Force".

INDIFERENÇA POLÍTICA

Um dos piores sintomas de desorganização social, que num povo livre se pode manifestar, é a indiferença da parte dos governados para o que diz respeito aos homens e às coisas do governo, porque, num povo livre, esses homens e essas coisas são os símbolos da actividade, das energias, da vida social, são os depositários da vontade e da soberania nacional.

Que um povo de escravos folgue indiferente ou durma o sono solto enquanto em cima se forjam as algemas servis, enquanto sobre o seu mesmo peito, como em bigorna insensível se bate a espada que lho há-de trespassar, é triste, mas compreende-se porque esse sono é o da abjecção e da ignomínia.

Mas quando é livre esse povo, quando a paz lhe é ainda convalescença para as feridas ganhadas em defesa dessa liberdade, quando começa a ter consciência de si e da sua soberania... que então, como tomado de vertigem, desvie os olhos do norte que tanto lhe custara a avistar e deixe correr indiferente a sabor do vento e da onda o navio que tanto risco lhe dera a lançar do porto; para esse povo é como de morte este sintoma, porque é o olvido da ideia que há pouco ainda lhe custara tanto suor tinto com tanto sangue, porque é renegar da bandeira da sua fé, porque é uma nação apóstata da religião das nações – a liberdade!

Antero de Quental - Prosas da Época de Coimbra

domingo, dezembro 11, 2005

LEITÃO DA BAIRRADA

O Jorge Fiel escreve esta semana no Expresso um interessante e pedagógico artigo, sob o título Leitão da Bairrada que, no meu entender, ninguém deverá deixar de ler.

Começando por afirmar:

“Na minha opinião o melhor leitão assado à moda da Bairrada não se come na Mealhada mas sim no Vidal, um restaurante que fica em Aguada de Baixo…”

opinião que é partilhada por muitos dos que apreciam esse manjar dos deuses e, fazendo uma análise ligeira, mas acertada, da “indústria”, acaba por concluir que:

“Regra geral, a livre concorrência é óptima para os consumidores porque reduz os preços e aumenta a gama de oferta – e é magnífica para as empresas, que aumentam a sua eficiência. Mas o caso do leitão assado à moda da Bairrada ensina-nos que nem sempre a concorrência estimula a qualidade. Sem questionar a eficácia da mão invisível, a verdade é que o mercado entregue a si próprio nem sempre traz a felicidade”.


Ora aí está outro ponto em que comungamos totalmente de opinião. Para mim no que diz respeito a visibilidade e a mãos, só “A Mão Vísivel” de Chandler.

Aos que perfilham a tese da “Mão Invisível” desafio-os a testarem a qualidade do bicho nos vários restaurantes da região e vamos lá a ver se a nossa margem tem ou não razão. Peço desculpa ao Vidal por assim poder afastar, temporariamente, alguns dos seus potenciais clientes, para a concorrência, mas toda a gente sabe que ele não precisa de publicidade suplementar.

Quanto ao Jorge Fiel obrigado pelo artigo e por se lembrar de utilizar o caso do leitão. E já agora porque não fazer outras pesquisas de mercado de produtos da nossa região para provar empiricamente a sua (e a nossa) tese e depois apresentar os resultados no Expresso. Que tal para começar os ovos-moles, o bacalhau e os espumantes. Mas há muito que investigar: as enguias, a chanfana, a carne marinhoa e arouquesa e no que diz respeito a doces, o pão-de-ló, as fogaças, as morcelas, etc. etc. Quanto a vinhos e digestivos nem é bom falar.

E quanto às despesas do trabalho de campo não se preocupe. Haverá sempre alguém disposto a ajudar um (bom) investigador. Cuide é à partida de garantir o patrocínio de um bom ginásio, para quando regressar a Lisboa (se quiser regressar).
Mas não se esqueça: Os quilitos a mais pode-os perder; Mas o sorriso de felicidade que ficará estampado no seu rosto, nem as atitudes nem os actos de alguns dos economistas da nossa praça, jamais lho farão perder.

sábado, dezembro 10, 2005

UM NOVO AFORISMO POPULAR

No domínio da gestão, quando se fala de planeamento e visão estratégica e se pretende vincar a sua importância e as consequências negativas que a sua falta acarreta, é normal utilizarmos o velho provérbio marítimo que diz:

- Nenhum vento é bom para o navegador que não sabe para onde vai.

Estava a pensar neste ditado enquanto ouvia na rádio algumas declarações de um novo responsável pela gestão do nosso Município e, no meu mais profundo entendimento de que o povo, na sua infinita sabedoria, já teria encontrado um aforismo aplicável à situação em causa, tentei em vão descobri-lo.

Não consegui e, para não sobrecarregar ainda mais o meu já tão cansado cérebro, decidi inventar um. É um legado que deixo para a posteridade e que, desde que indiquem a fonte, poderão utilizar à vontade.
Aqui vai:

- Até um barco desgovernado aponta, às vezes, no rumo certo.

É profundo não é? E também cheira a ria e a mar.

O problema é que com todo este exercício intelectual me esqueci do que ouvi.
Mas o que é que eu ouvi? Que seria? Alguém me ajuda?

A TEORIA DOS JOGOS

A Teoria dos Jogos, assim chamada por ter as suas raízes no estudo de jogos bem conhecidos como o poker o xadrez ou as damas, é um ramo da Matemática que estuda situações estratégicas em que existem vários agentes e a escolha óptima de cada um depende das expectativas relativas às escolhas dos outros. A Teoria dos Jogos que se transformou numa sofisticada abordagem das interacções humanas que envolvem, simultaneamente, a cooperação e o conflito, e se estendeu pelos campos da sociologia, economia, política nacional e internacional e ciência militar, saltou, novamente para a ribalta em virtude da atribuição do Nobel da Economia deste ano ao economista Thomas C. Schelling e ao matemático Robert J. Aumann, devido aos seus trabalhos nesta área.

Thomas Schelling, de 84 anos, professor nas Universidades de Maryland e Harvard é licenciado em economia pela Universidade de Berkeley e doutorado por Harvard e tem um trabalho voltado para a parte prática da aplicação da teoria dos jogos, tendo-se especializado na análise da estratégia de conflitos internacionais, como a guerra fria em torno da possibilidade de uma guerra nuclear e o "equilíbrio do terror" típico dessa era.

Os primeiros aspectos da teoria dos jogos foram explorados pelo matemático francês Émile Borel e a teoria tornou-se um ramo proeminente da matemática na década de 40, especialmente depois da publicação, em 1944, do livro Theory of Games and Economic Behaviour, do matemático húngaro John Von Newmann (1903-1957) e do economista austríaco Oskar Morgenstern (1902-1976).
Schelling, que tinha pertencido à equipa do embaixador Averell Harriman na administração do Plano Marshall em Paris, foi recrutado em 1958 pela Rand Corporation, o chamado “Think Tank”, onde desenvolveu estudos no sentido de aplicar a teoria dos jogos à situação internacional que então se vivia. Escreveu então The Strategy of Conflic (1960), considerada uma obra de referência das ciências sociais, onde analisa a corrida ás armas durante a Guerra Fria e procura demonstrar que há situações nas quais a capacidade de exercer represálias é mais eficaz para intimidar o adversário do que a possibilidade de resistir a um ataque, tendo também demonstrado que, através de concessões de curto prazo, podem ser obtidas vantagens de longo prazo, por exemplo, criando um clima de confiança que permita passar do conflito à cooperação.

Segundo Schelling, a dissuasão não deve ser um jogo de soma zero (mata-mata como diz o nosso seleccionador nacional) mas uma mistura de competição e de cooperação tácita. Assim no decurso da Guerra Fria pode-se ganhar em teatros de operação periféricos sem, em contrapartida, se provocar o apocalipse nuclear. Uma teoria que, como sabemos, trouxe grande felicidade aos industriais do sector do armamento.

Schelling é acusado, por muitos dos seus detractores, de ter aconselhado a fracassada estratégia de campanhas de bombardeamento com duração crescente, na guerra do Vietname (iniciada a 2 de Março de 1965 com a operação Rolling Thunder), que inaugurou um dilúvio de fogo, durante o qual se lançaram seis milhões de toneladas de bombas e que provocou 2 milhões de mortos, mas não teve qualquer influência na determinação do povo vietnamita.

Posteriormente Thomas C. Schelling voltou a ensinar em Harvard, ao mesmo tempo que era consultor da CIA. É neste período que começa a aplicar a teoria dos jogos às negociações comerciais internacionais e que publica Micromotives and Macrobehavior (1978), seguido de Choice and Consequences (1984). Em Junho de 2002 regressa ao palco publicando um controverso artigo na revista do Council of Foreign Relations, Foreign Affairs, em que justifica a recusa do presidente George W. Bush em ratificar o Protocolo de Quioto.

A questão da cooperação está no centro da obra do outro premiado, Robert Aumann, cidadão israelita de 75 anos, da Universidade Hebraica de Jerusalém, o mais teórico dos dois laureados e ex-aluno de J. Nash, com um trabalho altamente matemático e "quase filosófico em alguns aspectos", tendo-se igualmente ilustrado pelas suas investigações esotéricas acerca dos códigos escondidos da Tora.

Aumann, nascido em Frankfurt, foi um pioneiro na análise dos "jogos de repetição infinita" em que os participantes interagem reiteradas vezes ao longo de um extenso período de tempo. Ele mostrou que a cooperação pacífica é frequentemente uma solução de equilíbrio em jogos desse género, mesmo entre participantes com interesses divergentes.

Uma situação típica é, por exemplo, quando duas empresas duopolistas decidem encetar uma guerra de preços. Se ambas não iniciassem a guerra, cada uma manteria metade do mercado com um preço alto. Se uma baixa os preços e a outra não reage, a que baixa os preços absorve a quota de mercado da concorrente. Mas se as duas lutam até ao fim, cada uma delas vai acabar por ficar com metade do mercado, porém a um preço mais baixo do que no inicio da guerra. A conclusão óbvia é que, no fundo, a melhor decisão por parte de cada uma das empresas depende da sua suposição sobre qual é a melhor decisão para a outra.

Outra contribuição de Aumann à teoria dos jogos, mencionada pela Academia de Ciências Sueca na justificação do prémio, é a inclusão da análise do impacto, sobre os diversos aspectos dos jogos, do conhecimento que cada uma das partes tem. Trata-se de um aspecto que pode ser decisivo para tomar decisões e que Aumann desenvolveu ao lado de Michael Maschler na teoria conhecida como “teoria dos jogos repetidos com informações assimétricas”, nos quais um dos participantes tem mais informações do que os outros sobre alguns aspectos do jogo.

Robert J. Aumann é, no entanto, apontado, pelos seus detractores, como sendo partidário do “Grande Israel”, numa base racial judia e teorizar o princípio da "cooperação forçada" pelo "medo da sanção" no tratamento infligido aos palestinianos.

Mas não é a primeira vez que a trabalhos sobre a Teoria dos Jogos são premiados pela Academia Sueca. Em 1994, por trabalhos sobre o mesmo tema, ganharam o Nobel os economistas John Nash, John Harsanyi e Reinhard Selten.

John Forbes Nash, nascido em 1928, cuja primeira façanha foi demonstrar aos 14 anos um dos teoremas de Fermat e que viveu nos mundos opostos da racionalidade e da loucura, teve a sorte de poder desfrutar dos anos mais efervescentes de Princeton, que já foi chamada o "centro do Universo" da matemática, estudando e trabalhando com matemáticos e cientistas cuja a genialidade e importância é sobejamente conhecida, como Einstein, John von Neumann, Godel e Oppenheimer. Nash desenvolveu, aos 21 anos, o teorema do equilíbrio em jogos não-cooperativos (o chamado Equilíbrio de Nash), que lhe valeria o Nobel 44 anos depois.

A sua ascensão meteórica foi interrompida pela esquizofrenia, tendo sido internado pela primeira vez em 1959 e, após ter passado largos anos em tratamentos e vagando pelo Instituto de Estudos Avançados de Princeton, ocorreu, nos anos 90, uma inesperada remissão da doença, que lhe permitiu, poucos anos depois, receber das mãos do monarca sueco, o Nobel, que dividiu com Harsanyi e Selten.

Todavia Nash e o chamado “equilíbrio de Nash” (que corresponde a uma situação em que nenhum jogador se arrepende de sua estratégia, dadas as posições de todos os outros), acabariam por ser popularizados pelo filme “Uma Mente Brilhante”, inspirado na sua biografia escrita pela jornalista Sylvia Nasar, que ganhou 4 Óscares (incluindo o do melhor filme e direcção) no qual a vida e os problemas psiquiátricos de Nash foram interpretado por Russell Crowe, mas no qual, e infelizmente, como alguns economistas defendem, a única indicação sobre o assunto está errada.

Mas este post está a ficar como a espada de D. Afonso Henriques. Comprida e chata. Por isso vou acabar por aqui. Mas fica a promessa de retornar ao tema pelo menos para explicitar melhor a classificação dos jogos e falar um pouco sobre o chamado “Dilema do Prisioneiro” popularizado pelo matemático Albert W. Tucker, que tem muitas aplicações no estudo da cooperação entre indivíduos e que nos poderá dar muitas pistas sobre comportamentos dos nossos políticos e, particularmente, dos líderes dos partidos da coligação “Juntos por Aveiro” face ao seu candidato "independente".

terça-feira, dezembro 06, 2005

2 DOS DEFEITOS DOS PORTUGUESES

INVEJA

O sentimento de independência, o poder de individualidade, é também a virtude deste defeito. A vil tristeza apagou-nos o carácter, o dom de ser. Somos fantasmas querendo iludir a sua oca e triste condição. Por isso, o valor alheio nos tortura, revelando, com mais clareza, a nossa própria nulidade. A inveja é ainda uma reacção do indivíduo contra a morte; e a calúnia é a sua arma (...)

INTOLERÂNCIA

Este defeito é uma forma da vaidade susceptível que se alimenta da sua quimera dolorosa. Quem duvida do próprio valor não pode suportar a dúvida alheia que lhe diz, em voz alta e clara, o que ele mal se atreve a murmurar. Mas a intolerância tem outra origem mais positiva; é ainda um processo de defendermos os nossos interesses. Se é uma utilidade para mim a seita (política, religiosa, etc.) a que eu pertenço, os princípios que esta segue, compete-me torná-los dogmáticos, absolutos, indiscutíveis. Sim... porque discutir uma ideia é pô-la em conflito com a verdade.(…) A intolerância defende os interesses de uma seita e imprime à criatura o mais odioso fácies! (…)

Teixeira de Pascoaes – Arte de Ser Português

sábado, dezembro 03, 2005

CRISE FINANCEIRA?

Ainda não se sabe qual é a verdadeira situação financeira da Câmara.
Mas, pelo que ouvi, estou desconfiado que não é muito boa.
É que um amigo meu com responsabilidades na área financeira da autarquia, num destes dias, ao chegar ao seu posto de trabalho, encontrou um ladrão, com mau aspecto e ar de poucos amigos, a remexer nas secretárias.
Muito alarmado e fingindo uma fortaleza que não sentia, perguntou em voz alta:
- Que faz o senhor aqui?
- Ando à procura de dinheiro, disse o intruso.
Retorquiu o meu amigo, já mais calmo:
- Então deixe-me pousar o casaco que vamos procurar os dois.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

DÍVIDA E DÉFICE

Já apurou o montante da dívida da Câmara?
(…)
Ainda não temos um valor exacto por algumas razões: primeiro há deliberações de Câmara que não são quantificadas, como permutas de terrenos ou os processos negociais de adjudicações de obras. Há o exemplo da Casa do Povo de Esgueira, em que estamos a falar da promessa de um terreno que ainda não foi adquirido (
…)

Esse valor inclui já as dívidas das empresas municipais e dos serviços municipalizados?
(…)
Em relação às empresas municipais e aos serviços municipalizados posso dizer que são todos deficitários. Todos. Uns mais, outros menos, uns protocolados, outros não... Não há nenhum que seja um contribuinte líquido para a Câmara (
…)

Pedro Ferreira - vereador da Câmara de Aveiro com o pelouro das Finanças, Diário de Aveiro, 2/12/2005)


Todos os dias aprendemos coisas novas.

DO BAÚ DAS MEMÓRIAS - 2

A DEMOCRACIA E AS ELITES POLÍTICAS

Todo o processo político é posto em marcha e é continuamente alimentado pelo interesse, quer este assuma uma forma material, quer assuma uma pura natureza psicológica. O reconhecimento da existência de interesses comuns motiva o aparecimento de grupos, organizados ou não, que procuram transformar esses interesses em políticas.

A transformação dos interesses em decisões políticas está dependente da força dos apoios que esses interesses conseguirem agregar. A tarefa das estruturas "agregadoras de interesses", entre as quais os partidos políticos, consiste em reunir os interesses individuais dispersos, mobilizar os recursos disponíveis e fazer a sua gestão de modo a obter apoios que lhes permitam influenciar a formulação das decisões políticas que desejam ver implementadas.

A criação de estruturas organizadas e o aparecimento de líderes que protagonizam a luta por um determinado interesse gera, normalmente, complexas teias de relações biunívocas de apoio/protecção que jogam um papel primordial no posicionamento individual dos cidadãos. A negociação entre as organizações, pedra de toque de todo o processo de decisão política, deve ser efectuada de molde a não ser prejudicada a tempestividade da decisão e permitir, ao mesmo tempo, a participação directa dos cidadãos individuais no processo decisório.

A observação atenta da realidade dos nossos dias leva-nos à constatação de uma progressiva formação do elitismo, detentor de uma filosofia própria e distinta da democracia, pois não reflecte as aspirações populares mas sim os seus próprios interesses e valores. Não estando necessariamente em conflito com as massas que lhe servem de suporte, as elites dirigentes afastam-nas das decisões políticas que passam a ser tomadas no seu seio, negociando e selando compromissos em nome das massas.

Assim, contrariamente ao que o sistema democrático faria prever, são elites políticas, perfeitamente organizadas e prosseguindo uma total unidade de objectivos que governam as massas, apáticas e politicamente mal formadas e informadas. O papel de "guardiões da liberdade e garante do sistema democrático" é desta forma transferido das massas para as elites. O "must" da ironia do sistema reside no facto da ameaça aos valores democráticos poder partir da influência das massas sobre as elites e de, em casos de manifesta pressão social, as elites poderem tomar medidas no sentido de tornar a sociedade menos democrática com o fim de preservar a democracia.

O crescente desinteresse pela actividade política a que assistimos, alfobre do aparecimento de elites políticas que cuidam da "nossa" estabilidade é, no nosso entender, derivado da profundamente limitativo entendimento do homem apenas como cidadão que desempenha um papel perfeitamente pré-definido e absolutamente balizado na vida política, que urge alterar. Só esta inversão poderá evitar que a humanidade seja conduzida a um progressivo holocausto político.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

A LEI DE MURPHY

Ontem, precisei de utilizar o scanner para digitalizar um texto de que tinha urgente necessidade e “nickles”. A máquina recusou-se a trabalhar e eu tive de me socorrer, à última hora, de umas fotocópias recortadas.

Fiquei muito aborrecido, até porque recentemente tinha mandado verificar o equipamento e hoje, que tenho algum tempo disponível, decidi verificar o que é que estava mal. Não é que o hp3970 funcionou à primeira. Lembrei-me logo da Lei de Murphy. "Se algo puder dar errado, dará"

Embora existam muitas teorias sobre a sua origem, a Lei de Murphy que se tornou um “must” na cultura ocidental, tem a sua história ligada a Edward Murphy, coronel da Força Aérea dos EUA, que enunciou o seu princípio em 1949 na base de Edwards, de onde sairiam os primeiros astronautas do programa espacial americano.

Murphy era um dos engenheiros que trabalhava nas experiências que estavam a ser feitas para testar a tolerância humana à aceleração.

O projecto tinha sido criado pelo Major John Paul Stapp, que não tinha um dispositivo eficiente para medir os Gs da desaceleração produzida pelo aparelho. No primeiro teste efectuado com os sensores concebidos por Murphy, o teste falhou porque (todos) os 16 sensores tinham sido ligados ao contrário. Foi então que o coronel enunciou a sua famosa lei que, segundo o seu filho Robert Murphy assumiu, no início, a seguinte forma:

Se houver mais do que uma maneira de fazer um trabalho e uma delas puder culminar em desastre, alguém o fará dessa maneira.

A Lei de Murphy , transformada nos nossos dias num princípio universal, foi galardoada na 13ª edição do IgNobel com o IgNobel da Engenharia, tendo o prémio sido entregue numa cerimónia realizada no Teatro Sanders, da Universidade Harvard. O IgNobel é o Nobel da ciência inútil, concedido anualmente a pesquisas que "não poderiam ou não deveriam ser reproduzidas" criado pela revista de humor "AIR", abreviação em inglês de "anais da pesquisa improvável" (www.improbable.com), como uma paródia da ciência "séria" (segundo seus criadores, "séria demais para não rirmos dela").


Muitas variantes da lei foram criadas pela imaginação popular e há algumas interessantíssimas. Aqui deixo algumas que escolhi:


Generalistas:

Tudo requer mais tempo do que pensamos.
Se há possibilidade de varias coisas saírem erradas, aquela que provoca o maior estrago é a que acontecerá primeiro.
Nada está tão mal que não possa piorar.
Se alguma coisa parece que está a correr bem, é óbvio que nos esquecemos de alguma coisa.
Se a experiência funcionou na primeira tentativa, há algo errado.
A outra fila sempre anda sempre mais depressa que a nossa.
Uma gravata nova atrai sempre a sopa do dia.
Todo o corpo mergulhado numa banheira faz tocar o telefone.
Se se está a sentir bem, não se preocupe, isso passa.
Toda a dor de dentes tende para a noite de sábado.
Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
Nenhum produto é à prova de idiotas, se for usado por um idiota legítimo.
De vez em quando o homem tropeça na verdade mas, a maior parte das vezes, levanta-se e segue em frente.

E especialmente para estudantes:

-Quanto mais geral for uma matéria, menos aprenderás com ela.
-Quanto mais específica for uma matéria, menos te servirá no futuro.
Não há uma maneira certa de fazer uma coisa errada.
A informação mais necessária é sempre a menos disponível.
Nunca repitas uma experiência bem sucedida.
Nunca reveles erros que não saibas corrigir.
Nunca ninguém te está a ouvir, até dizeres uma asneira.
Cada professor parte do pressuposto de que não tens mais nada que fazer senão estudar a matéria dele.
Oitenta por cento da tua prova de exame final será baseado na única aula que perdeste. Os outros vinte por cento serão baseados no único livro que não leste.
A citação mais valiosa para a tua exposição é aquela de que não consegues lembrar o nome do autor, nem o título do livro.
Sempre que tens as respostas certas, ninguém te faz as perguntas.
A matéria que não estudaste vai calhar no exame. E o colega por quem tinhas combinado copiar vai ser mudado de lugar pelo professor, momentos antes do início da prova.
O que te esqueceste de fazer é sempre mais importante do que tudo aquilo que fizeste.
Qualquer ideia, por mais simples que seja, pode ser expressa da forma mais complicada.
A aprovação de um projecto só será concedida quando ficar assegurado que nenhum dos orientadores poderá ser culpado se o projecto fracassar e todos se poderão vangloriar se o projecto for um sucesso.
Quando alguém que admiras muito te parecer imerso em pensamentos profundos, normalmente está a pensar no almoço.

E se achares que estás mal lembra-te da Filosofia de Murphy:

“ Sorri, amanhã será pior ”

DIETA

Estou gordo. Gordo não! Muito gordo.
O meu médico disse-me:
- Raul se queres perder peso já sabes! Verduras e peixe!
E aqui estou eu a digerir uma salada e um peixinho grelhado.
Chove lá fora.
No National Geographic Channel está a dar um programa sobre elefantes e baleias.

O que é que estes "bichos" comerão quando querem fazer dieta?

DIA DA RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA

No dia 1 de Dezembro de 1640, um grupo de 40 fidalgos dirigiu-se ao Paço da Ribeira, matou o secretário de Estado Miguel de Vasconcelos e aprisionou a duquesa de Mântua que, à altura, governava Portugal em nome de seu primo Filipe IV de Espanha, terminando com o domínio filipino sobre Portugal e restaurando a nossa independência.

Nesse sábado de 1640 terminou a União Ibérica, o maior império que já existiu no mundo em todas as eras. A União Ibérica agrupou territórios de quase todos os cantos do mundo: América Central, México, Cuba, América do Sul, África, Índia (Goa, Calecut), Filipinas, China (Macau, Cantão), Indonésia (Timor-Leste) e o Sacro Império Romano-Germânico, já que Filipe II era da dinastia dos Habsburgos.

A União Ibérica que existiu no período de união pessoal entre Espanha e Portugal, que compreendeu o reinado dos 3 Filipes da Terceira Dinastia que governaram Portugal entre 1580 e 1640, deteve todo o poder do comércio e desenvolvimento tecnológico da época. O Império da União das Coroas de Portugal e Espanha foi muito maior que o Império Romano, o Império Mongol ou o Império Macedónico.

A dinastia filipina havia subido ao trono português na crise sucessória, iniciada após a morte, sem descendentes, de D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir e do seu sucessor e tio-avô Cardeal-Rei D. Henrique. Nas convulsões da crise, Filipe de Habsburgo, Rei de Espanha e neto de Manuel I por via feminina, acabou por ser reconhecido como rei de Portugal nas Cortes de Tomar, embora a ideia da perda de independência tenha levado a uma revolução liderada pelo prior do Crato, que chegou a ser proclamado rei, mas que acabou derrotado, fundamentalmente, pela falta de apoio da nobreza tradicional e da burguesia que apoiavam Filipe.

Sessenta anos passados e um sentimento profundo de autonomia, partilhado por toda a população, estava a crescer e deu os seus primeiros sinais no tumulto do Manuelinho de Évora, em 1637. De facto, os cidadãos nacionais vinham a perder privilégios e piorava a nossa situação de subalternidade relativamente a Espanha pois, ao contrário do que os monarcas espanhóis haviam prometido os impostos aumentavam, a população empobrecia, os burgueses eram afectados nos seus interesses comerciais, a nobreza perdia postos e rendimentos e o Império Português era ameaçado por Ingleses e Holandeses, perante o generalizado desinteresse dos governadores filipinos.

O esforço nacional para que a restauração se consumasse foi mantido durante vinte e oito anos, tendo sido possível suster as sucessivas tentativas de invasão do exército Espanhol e vencê-lo nas importantes batalhas do Montijo (1644), Linhas de Elvas (1659), Ameixial (1663), Castelo Rodrigo (1664) e Montes Claros (1665). O tratado de paz definitivo acabaria por ser assinado em 1668.

A 1 de Dezembro de 1640 um pequeno grupo da elite, restaurou a independência de Portugal e acabou com a União Ibérica.
Foi há 365 anos.