sexta-feira, dezembro 23, 2005

DO BAÚ DAS MEMÓRIAS - 3 - Ninguém tem o direito de permanecer indiferente

Não nos podemos alhear da dimensão política se queremos compreender o nosso mundo e o nosso tempo, se queremos influenciar os nossos destinos.
Mas, então, como conceber a política?

Como afirma Edgar Morin a política lança o maior desafio ao saber. Diz respeito a todos os domínios do conhecimento do Homem e da Sociedade. Com efeito,tudo o que é aparentemente não-político comporta, pelo menos, uma dimensão política: a ecologia, a demografia, a juventude, a habitação, o bem-estar, etc..

A Política ocupa-se do que há de mais complexo e precioso: a Vida, o Destino, a Liberdade, em suma a Humanidade. Por assim dizer a vida e a morte de cada humano dependem, em certa medida, da determinação política. A sobrevivência da Humanidade entra, definitivamente, no jogo político.

Tudo depende da Política e esta, no fundo, depende de tudo. A Política lança, assim, o maior desafio à acção. Toda a acção é incerta e necessita de uma estratégia. Mas a estratégia política é um jogo particularmente incerto que pode provocar reacções que desvirtuam a Política.
No entanto, é na Política que imperam as ideias mais simplistas, menos fundadas e mais brutais.

Uma visão simplista deste fenómeno promove o pensamento fechado, o pensamento dogmático, o pensamento fanático, o tabu...

É nossa convicção que embora a Política corporize jogos de conflitos e de interesses, de classes e de ideologias, é no seu íntimo um jogo do erro e da verdade. Por outras palavras, é vital, não nos enganarmos em política.

A Política exige, primordialmente, um pensamento que consiga erguer-se ao nível da complexidade do Homem respondendo deste modo aos seus anseios mais profundos.

Talvez se desconheçam ainda, como se julgava outrora, quais são as receitas para tornar mais feliz uma Sociedade. Assumir esta ignorância é, sem dúvida, dar um grande passo em frente na procura desse caminho. Mas nós devemos saber o que não queremos: um poder que decide por nós, que nos tenta manipular, que nos menoriza, mesmo se tudo isso é feito com a "melhor das intenções".

Saibamos hoje interpretar a utopia do sonho perspectivando no presente as respostas do futuro.

Convidamo-lo, desde já, a vencer o ciclo vicioso do pessimismo.
Convidamo-lo a ganhar a esperança no novo quotidiano.

Ninguém tem o direito de permanecer indiferente.


A CORAGEM DE TRANSFORMAR, Aveiro, CD, Maio 1992
Um grande abraço natalício aos outros elementos do "bando dos quatro" - HC, MM e AR.