quinta-feira, abril 13, 2006

POEMA POPULAR


Vou-me embora vou partir, mas tenho esperança
Percorrer o mundo inteiro, quero ir
Quero ver e conhecer, rosa branca
E a vida de um marinheiro, sem dormir

E a vida de um marinheiro, branca flor
Que anda lutando no mar, com talento
Adeus adeus minha mãe, meu amor
Que eu hei-de ir hei-de voltar, com o tempo

Adeus adeus minha terra, vou partir
Mal de ti jamais direi, a ninguém
Dar ao mundo muitas voltas, quero ir
Mas não sei se voltarei, nota bem.

EXPLICAÇÃO DO PAÍS DE ABRIL

País de Abril é o sítio do poema.
Não fica nos terraços da saudade
não fica nas longas terras.

Fica exactamente aqui
tão perto que parece longe.

Tem pinheiros e mar tem rios
tem muita gente e muita solidão
dias de festa que são dias tristes às avessas
é rua e sonho é dolorosa intimidade.

Não procurem nos livros que não vem nos livros
País de Abril fica no ventre das manhãs
fica na mágoa de o sabermos tão presente
que nos torna doentes sua ausência.

País de Abril é muito mais que pura geografia
é muito mais que estradas pontes monumentos
viaja-se por dentro e tem caminhos veias
- os carris infinitos dos comboios da vida.

País de Abril é uma saudade de vindima
é terra e sonho e melodia de ser terra e sonho
território de fruta no pomar das veias

onde operários erguem as cidades do poema.

Não procurem na História que não vem na História.
País de Abril fica no sol interior das uvas
fica à distância de um só gesto os ventos dizem
que basta apenas estender a mão.

País de Abril tem gente que não sabe ler
os avisos secretos do poema.
Por isso é que o poema aprende a voz dos ventos
para falar aos homens do País de Abril.

Mais aprende que o mundo é do tamanho
que os homens queiram que o mundo tenha:
o tamanho que os ventos dão aos homens
quando sopram à noite no País de Abril.


Manuel Alegre

terça-feira, abril 11, 2006

UTOPIA

Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo mas irmão
Capital da alegria

Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu
desafio

Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio este rumo esta gaivota
Que outro rumo deverei seguir
na minha rota?


José Afonso: textos e canções, Assírio e Alvim
Tema incluído no álbum "Como se fora seu filho"

"A utopia com que sempre sonhei é concretizável"
Zeca Afonso
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quinta-feira, abril 06, 2006

LETRA PARA UM HINO

É possível falar sem um nó na garganta
É possível amar sem que venham proibir
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros.
Se te apetecer dizer não grita comigo: Não.

É possível viver de outro modo.
É possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.


Posted by Picasa Manuel Alegre, O canto e as armas

domingo, abril 02, 2006

PITÁGORAS E OS SALTOS-ALTOS

Todos sabemos que, cada vez mais, as mulheres estão a assumir as rédeas da autoridade e do poder. Daí que, actualmente, se assista à execução e apresentação pública de um sem-fim de estudos científicos a elas dedicados.

E como há mulheres que não se sentem bem se não tiverem uns (bonitos e caros) sapatos de salto (bem) alto calçados, Paul Stevenson, da Universidade de Surrey, realizou, recentemente, um interessante estudo para o Instituto Nacional de Física, destinado a determinar a altura máxima do salto de sapato que uma mulher pode usar, sem que o equilíbrio seja prejudicado. Desta forma pretende ajudar as mulheres a escolherem os sapatos certos para cada ocasião social.

Tendo-se baseado, como afirma, no Teorema de Pitágoras chegou à seguinte fórmula:

H = Q(12+3S/8)

Em que:

H é a altura máxima do salto,
S é o tamanho do pé, e
Q é um factor sociológico cujo valor, variando entre 0 e 1 é assim definido:

Q = [ p (y+9) L ] / [ (t+1) (A+1) (y+10) (L+£20) ] em que:

p é a probabilidade de, ao calçar os sapatos, conseguir ficar mais alta (0 – salto raso).
y é o número de anos de experiência no uso de saltos-altos
L é o custo dos sapatos (em libras)
t é o tempo que passou desde que o sapato era o expoente máximo da moda (0 – o que está na moda neste momento).
A - unidades de álcool consumidas (pode deitar todos os outros por terra)

Baseado nesta fórmula, o Professor Stevenson afirma que Sarah Parker (a intérprete de Carrie na série o Sexo e a Cidade) consegue calçar saltos de 12,5 cm se estiver sóbria, mas apenas consegue calçar saltos de 2,5 cm se tiver bebido o álcool que vemos na série.

É um trabalho interessante que gostaria que comentassem. Mas desde já aviso que, dado o seu carácter científico, não permitirei comentários foleiros do tipo, “entre nós e dado o estado dos passeios em Aveiro a altura encontrada tem de ser dividida por quatro”, ou “por uma questão de abaixamento do centro de gravidade, se a mulher for loira, temos de multiplicar o valor obtido por dois”.

O GRIFO E A ESFINGE

UM GRIFO come caviar, num restaurante de luxo. Bebe vinho branco do Reno, porque o champanhe lhe faz cócegas no nariz e provoca espirros, com grande estardalhaço.

Segue-se lagosta suada e acaba a refeição com dois cafés e um whisky. Fica algum tempo a falar com o chefe de mesa, depois levanta-se e sai.

Outro cliente chama o chefe de mesa e pergunta-lhe se o grifo é cliente habitual do restaurante.

«Oh, não! É um ser muito retirado, raramente aparece, embora saiba que temos a maior honra em lhe oferecer o jantar.»

«Quer dizer que não paga?»

«Oh, não!» (abusava de exclamações, o chefe de mesa). «Como disse, é uma honra para nós. É um ser fabuloso, existe nos contos e nos bestiários, como nos atreveríamos a apresentar-lhe uma conta?»

O cliente, nesse mesmo dia, conta o ocorrido a uma esfinge amiga. No dia seguinte, a esfinge vai ao restaurante de luxo. Mas dizem-lhe que está cheio, que só com marcação. Propõem-lhe emprego, como supervisora dos assados. A esfinge aceita.

Posted by Picasa José Alberto Oliveira