terça-feira, dezembro 15, 2009

Epitáfio

Ainda correm lágrimas pelos
teus grisalhos, tristes cabelos,
na terra vã desintegrados,
em pequenas flores tornados.

Todos os dias estás viva,
na soledade pensativa,
ó simples alma grave e pura,
livre de qualquer sepultura!

E não sou mais do que a menina
que a tua antiga sorte ensina.
E caminhamos de mão dada
pelas praias da madrugada.


Cecília Meireles

domingo, dezembro 13, 2009

Leituras de fim-de-semana

Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva, as duas faces do cavaquismo na terceira idade, estão a dar um espectáculo triste evidenciando aquilo que esse mesmo cavaquismo foi, um projecto de poder sem qualquer projecto ou ideias para o país. Se Cavaco Silva lá vai mantendo aquela posse esfíngica que ele entende ser a apropriada para um Presidente da República, já Manuela Ferreira Leite deixou que o verniz se quebrasse e cada intervenção é um desastre, um chorrilho de declarações de puro ódio, sem qualquer consistência política e com um total desprezo pelo futuro do partido que lidera.

Se de Cavaco Silva se disse que era um eucalipto, secando tudo à sua volta, Manuela Ferreira Leite foi mais longe, sem tempo nem credibilidade para dirigir o partido por tempo suficiente para o secar, optou por tentar eliminar todos os adversários, os que com ela disputaram a liderança do PSD e os que pudessem vir a fazê-lo contra futuros candidatos cavaquistas. Incapaz de se afirmar pelas ideias que não tem e pelos projectos que não apresenta, a líder do PSD optou por tentar eliminar actuais e futuros adversários, a excepção foi Santana Lopes que se submeteu docilmente a troco de um emprego.

Ao fim de tantos anos em que cavaquismo foi apresentado como o melhor para o país e para o PSD os portugueses tiveram a aoportunidade de conhecer os métodos de duas personalidades de topo dessa "seita". Sem dinheiro para distribuir Cavaco Silva revelou-se um político banal, diria mesmo que quase rasca, um político sem coragem para apoiar um projecto, um político calculista que tudo condiciona à sua ambição pessoal. A sua actuação ou, como nos pretendem fazer crer, a actuação dos seus assessores no caso das escutas foi indigno de quem está na Presidência da República. Ferreira Leite revelou-se uma política pimba, sem ideias, sem princípios no debate político, chegando ao ridículo de esconder a sua pobreza intelectual com o argumento de não querer ver as suas ideias copiadas.

A dupla cavaquista insiste em manter-se, Ferreira Leite vai resistindo na liderança do PSD condicionando o partido às ambições pessoais de Cavaco Silva. A saída de Manuela Ferreira Leite está agendada para data mais próxima da decisão de Cavaco Silva se recandidatar, com a saída da sua amiga da liderança do PSD o ainda Presidente pode ensaiar um afastamento da futura liderança numa tentativa de enganar mais uma vez os eleitores de esquerda. Num papel invertido de viúva negra Manuela Ferreira Leite vai simular o seu fim político proporcionado a Cavaco Silva um exemplo de neutralidade política.

Resta encontrar uma alternativa que ponha fim ao cavaquismo, um cadáver político que insiste em fugir ao enterro.

...

Quem também parece ter dado início ao seu próprio funeral foi Manuel Alegre que, ao mesmo tempo que diz que não é refém de ninguém, tenta tornar o PS e os militantes socialistas reféns da sua ambição pessoal. Depois de ter andado anos a liderar a oposição e a fazer tudo para transferir o maior número de votos possíveis do PS para o Bloco de Esquerda, Manuel Alegre reaparece começando por passar a mão pelo pêlo a Sócrates criticando a justiça no caso Face Oculta, ele que no caso Freeport manteve-se em silêncio. Feita a cerimónia da lavagem das mãos na água benta deu-se início à peregrinação dos jantares onde os PRDs alegristas se manifestam empenados na cidadania e exigem a Alegre que se candidate, uma farsa mal montada para lançar Alegre ante de o PS escolher candidato.

Só que muitos dos que votaram em Alegre se sentiram traídos por um ex-candidato que fez dos seus votos reféns da sua ambição pessoal, no PS perdeu credibilidade ao ter seguido uma estratégia de chantagem permanente sobre o governo, no PCP perdeu irremediavelmente qualquer hipótese de vir a ser apoiado por este partido depois de ter feito o jogo de Francisco Louçã. Manuel Alegre é um cadáver político que insiste em fugir da cova que ele próprio cavou. Poderá vir a ser candidato presidencial, até poderá servir de alento à reeleição de Cavaco Silva mas nunca será Presidente da República. Falta a Alegre a lucidez que teve Otelo Saraiva de Carvalho que não voltou a candidatar-se depois de derrotado.


A oposição prossegue a sua estratégia suicida, alheios aos problemas do país e dos portugueses os líderes da oposição e os seus deputados decidiram iniciar um PREC na versão parlamentar, transformando o parlamento num imenso bacanal onde é possível encontrar Ferreira Leite, Louçã, Jerónimo de Sousa e Portas embrulhados na mesma cama. O pior é quando ninguém souber de quem é o filho nascido no fim desta orgia.


O
Jumento

Aos meus amigos


E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. És bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Não posso brincar contigo, disse a raposa. Ainda não me cativaste.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm espingardas e caçam. É bem incómodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exactamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! Não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.

Mas a raposa voltou à sua ideia.
- A minha vida é monótona. Caço as galinhas e os homens caçam-me. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu aborreço-me um pouco. Mas se me cativas, a minha vida encher-se-á de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros fazem-me entrar debaixo da terra.
Os teus chamar-me-ão para fora da toca, como se fossem música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e examinou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! Disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens já não têm tempo de conhecer as coisas. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me!
- O que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Primeiro sentar-te-ás um pouco longe de mim, na relva. Eu olhar-te-ei pelo canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três que começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É necessário um rito.
- O que é um rito? Perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem em qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar? Disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais a lucrar nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Compreenderás que a tua é única no mundo. Voltarás para me dizer adeus, e eu far-te-ei presente de um segredo.
O principezinho foi rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela amiga. Ela agora é única no mundo.
As rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Um transeunte qualquer seguramente pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (excepto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, para se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, para se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, para se lembrar.

Antoine de Saint-Exupéry (adapt.)

terça-feira, dezembro 08, 2009

Vai longe!


Pouca gente conseguiu compreender a razão do nosso nóvel vereador Miguel Fernandes ter subido para cima de um alqueire no desfile comemorativo do 101º aniversário dos Bombeiros Novos.

Pura vaidade disseram uns! Totalmente ridículo afirmaram outros!

Afinal a razão é outra e bem mais simples (e prosaica). Miguel Fernandes, acautelado como é, sabendo que os fotógrafos iam lá estar, não quis enlamear os sapatos (o que normalmente acontece a qualquer mortal que seja obrigado a pôr os pés no chão, em Aveiro).

É que os passeios, as ruas e as estradas (e outras vias pretensamente circulantes) do nosso concelho estão... uma verdadeira miséria.

Mas isso só demonstra a sua superior inteligência. O Presidente, absorto nos superiores desígnios do nosso concelho (como de costume), não teve o mesmo cuidado e vejam como se apresentou na Gala dos Campeões.



Vamos ver! Vamos ver!

Esta é para calar aqueles que acham que o nosso Presidente não trabalha bem (e depressa).

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Ansiedade


Quero compor um poema
onde fremente
cante a vida
das florestas das águas e dos ventos.

Que o meu canto seja
no meio do temporal
uma chicotada de vento
que estremeça as estrelas
desfaça mitos
e rasgue nevoeiros — escancarando sóis!


Manuel da Fonseca

sábado, dezembro 05, 2009

Pregar no deserto!


Quando leio que Ministro do Petróleo da Arábia Saudita Ali al-Naimi afirmou esta semana que "os preços do petróleo estão bem neste momento, entre os 70 e os 80 dólares" fico a pensar que se calhar só agora é que lhe entregaram a tradução do que este humilde escriba aqui publicou há mais de um ano e que os omniscientes administradores da Galp não ligam a bitaites de arraia miúda.

Uma coisa é certa. Imaginem os milhões que teriam sido poupados ao País e aos automobilistas se os administradores da Galp tivessem seguido as sugestões que apresentámos. Tantos que até justificariam os faustosos vencimentos que auferem.

Bem. Reconheço que não são os primeiros (nem serão os últimos) que não ligam ao que eu digo. Por cá é, aliás, o costume. E com as mesmas consequências.


sexta-feira, dezembro 04, 2009

AdRA - Águas da Região de Aveiro

Recebemos de um funcionário dos SMA uma carta em que apresenta o seu preocupante dilema laboral. E porque pensamos que este problema, para o qual em altura oportuna alertámos, é um problema de estrema gravidade, tendo em atenção a situação económica e social que actualmente atravessamos, decidimos, depois de retirar os encómios e os elementos identificativos do remetente (não vá o diabo tecê-las), publicar a carta que reza (mais ou menos) assim:



Caro Dr.,


É com enorme preocupação pela falta de clareza na abordagem que as Águas de Portugal (AdP) fizeram aos funcionários dos Serviços Municipalizados de Aveiro (SMA) estes dias, que lhe escrevo estas sinceras e preocupadas palavras.


Sou funcionário dos SMA há alguns anos e nunca pensei passar por uma situação destas.


Por não concordar com a política da autarquia em conceder por 50 anos os destinos da nossa água a uma empresa que apenas procura o lucro fácil, pretendo transitar para a Câmara Municipal de Aveiro (CMA).


Qual não é o meu espanto, quando ouço a CMA a informar a opinião pública que aceita todos os trabalhadores que não queiram ingressar na AdRA e, internamente, dá ordens para dizer aos trabalhadores que não aceita ninguém, numa clara tentativa de pressionar e empurrar as pessoas para um contrato de cedência, sem o mínimo de garantias e direitos.


Uma dessas vozes internas é a do vereador Pedro Ferreira que, claramente, tem ficado muito mal nesta fotografia e que em nada tem ajudado aqueles que tem dado o seu melhor esforço à causa Aveirense.


Estamos numa fase complicada da nossa situação, onde nos deram prazos para decidir e os trabalhadores continuam sem saber o futuro, tanto de um lado como do outro.


Dr., gostaria de saber se sabe alguma coisa sobre isto e mais que tudo, qual a verdadeira posição da autarquia para com os trabalhadores dos SMA que não queiram ingressar na AdRA.


O meu muito obrigado pela atenção.



Pois caro amigo. Está numa situação delicada que esta Câmara não soube, atempadamente acautelar, fazendo (mais uma vez) ouvidos moucos aos alertas que fizemos.


E, neste momento, tem de optar por "ser cedido" à ADrA, confrontando-se com uma nova realidade laboral e com um tipo de cultura empresarial distinta da dos SMA, procurando incorporar-se até ao final da sua vida de trabalho, numa organização com uma estrutura, direcção, métodos de gestão e finalidade bem diversa daquela em que exerceu durante largos anos a sua actividade, ou manter-se na CMA sem saber exactamente o que é que vai fazer e sujeitando-se, no caso da autarquia querer, um destes dias, atacar o problema do seu défice orçamental pelo lado da despesa - o que nos parece inevitável dado não mostrar coragem política para intervir pelo lado da receita - a ir parar ao quadro de excedentes, com o cotejo de consequências negativas que tal acarreta.


Esta opção é uma opção difícil que só cada um dos funcionários poderá fazer e para a qual eu me sinto totalmente incompetente de opinar.


Apenas reitero o velho e sábio provérbio popular que "as cadelas apressadas parem os filhos cegos" uma vez que a decisão foi infelizmente tomada sem ter sido devidamente avaliada não tendo a CMA conseguido fazer valer os inúmeros trunfos de que dispunha (e eram tantos que sem a adesão de Aveiro a ADrA não existiria).

Nem sequer para cuidar, adequadamente, dos direitos e interesses dos trabalhadores que, durante tanto tempo, abnegadamente, a serviram.



quarta-feira, dezembro 02, 2009

BLOG


Mantivera no fim da adolescência
aquilo a que chamava simplesmente
o seu diário íntimo:
páginas manuscritas onde ardiam
rastilhos de mil sonhos que rasgavam
as mordaças da angústia social,
a timidez tão própria da idade.

Nessa caligrafia cuja cor
fora ainda a do sangue
colheu a energia necessária
pra atravessar como um sonâmbulo
o ordálio daquela juventude,
o seu incandescente calendário
de amizades vorazes, tão velozes
como os amores que julgava eternos
e outras feridas mal cauterizadas.

Hoje quase não volta a essas páginas:
estamos no século XXI
e em vez do diário de outros tempos
mantém agora um blog
onde todos os dias extravasa
recados, atitudes, confissões,
coisas no fundo tão inofensivas
como o fogo que outrora lhe acendia
as frases lancinantes
— embora hoje em dia quando escreve
tenha por um momento a ilusão
de que as suas palavras continuam
a propagar ainda o mesmo vírus,
e a alimentar, quem sabe, os mesmos
sonhos
sempre que alguém desconhecido as ler
como quem só assim escutasse
um segredo na noite do mundo.

Mas, apesar de todo o entusiasmo
que o mantém acordado por noites sem fim,
ele adivinha que também virá
um dia a abandonar sem saber como
o seu actual vício solitário
e dentro de alguns anos, ao reler
as frases arquivadas no computador,
talvez tudo isso lhe pareça então
fruto de gestos tão adolescentes
como os que antigamente preenchiam
esses cadernos amarelecidos
e hoje sepultados para sempre
em esquecidas gavetas de outro século.



Fernando Pinto do Amaral

terça-feira, dezembro 01, 2009

Não há Prémio Nobel para a coragem...


... mas devia haver, não devia?