Recebemos de um funcionário dos SMA uma carta em que apresenta o seu preocupante dilema laboral. E porque pensamos que este problema, para o qual em altura oportuna alertámos, é um problema de estrema gravidade, tendo em atenção a situação económica e social que actualmente atravessamos, decidimos, depois de retirar os encómios e os elementos identificativos do remetente (não vá o diabo tecê-las), publicar a carta que reza (mais ou menos) assim:
Caro Dr.,
É com enorme preocupação pela falta de clareza na abordagem que as Águas de Portugal (AdP) fizeram aos funcionários dos Serviços Municipalizados de Aveiro (SMA) estes dias, que lhe escrevo estas sinceras e preocupadas palavras.
Sou funcionário dos SMA há alguns anos e nunca pensei passar por uma situação destas.
Por não concordar com a política da autarquia em conceder por 50 anos os destinos da nossa água a uma empresa que apenas procura o lucro fácil, pretendo transitar para a Câmara Municipal de Aveiro (CMA).
Qual não é o meu espanto, quando ouço a CMA a informar a opinião pública que aceita todos os trabalhadores que não queiram ingressar na AdRA e, internamente, dá ordens para dizer aos trabalhadores que não aceita ninguém, numa clara tentativa de pressionar e empurrar as pessoas para um contrato de cedência, sem o mínimo de garantias e direitos.
Uma dessas vozes internas é a do vereador Pedro Ferreira que, claramente, tem ficado muito mal nesta fotografia e que em nada tem ajudado aqueles que tem dado o seu melhor esforço à causa Aveirense.
Estamos numa fase complicada da nossa situação, onde nos deram prazos para decidir e os trabalhadores continuam sem saber o futuro, tanto de um lado como do outro.
Dr., gostaria de saber se sabe alguma coisa sobre isto e mais que tudo, qual a verdadeira posição da autarquia para com os trabalhadores dos SMA que não queiram ingressar na AdRA.
O meu muito obrigado pela atenção.
Pois caro amigo. Está numa situação delicada que esta Câmara não soube, atempadamente acautelar, fazendo (mais uma vez) ouvidos moucos aos alertas que fizemos.
E, neste momento, tem de optar por "ser cedido" à ADrA, confrontando-se com uma nova realidade laboral e com um tipo de cultura empresarial distinta da dos SMA, procurando incorporar-se até ao final da sua vida de trabalho, numa organização com uma estrutura, direcção, métodos de gestão e finalidade bem diversa daquela em que exerceu durante largos anos a sua actividade, ou manter-se na CMA sem saber exactamente o que é que vai fazer e sujeitando-se, no caso da autarquia querer, um destes dias, atacar o problema do seu défice orçamental pelo lado da despesa - o que nos parece inevitável dado não mostrar coragem política para intervir pelo lado da receita - a ir parar ao quadro de excedentes, com o cotejo de consequências negativas que tal acarreta.
Esta opção é uma opção difícil que só cada um dos funcionários poderá fazer e para a qual eu me sinto totalmente incompetente de opinar.
Apenas reitero o velho e sábio provérbio popular que "as cadelas apressadas parem os filhos cegos" uma vez que a decisão foi infelizmente tomada sem ter sido devidamente avaliada não tendo a CMA conseguido fazer valer os inúmeros trunfos de que dispunha (e eram tantos que sem a adesão de Aveiro a ADrA não existiria).
Nem sequer para cuidar, adequadamente, dos direitos e interesses dos trabalhadores que, durante tanto tempo, abnegadamente, a serviram.