quinta-feira, novembro 24, 2005

BLOGOSFERA E ESTUPIDEZ

Quando um maçarico da blogosfera como eu (ou, como agora se diz, um “newcomer”), tem algum tempo para consultar parte da substância da quase infinita lista de blogues existentes, verifica que é um repositório quase total da multiplicidade de aspectos que a estupidez humana pode assumir, multiplicada exponencialmente quando se escreve ao abrigo do anonimato. Deixando para melhor ocasião a análise das consequências da maledicência obscura e anónima que campeia, analisemos, se bem que superficialmente, a problemática da estupidez.

Para muitos aquilo que se passa pode constituir uma grande admiração. Mas eu, que estúpido me confesso, penso que a blogosfera, não é, neste aspecto, um caso particular. Reflecte apenas a sociedade em que estamos inseridos.

Pitkin considerava que quatro quintos das pessoas tem quociente de estupidez suficientemente grande para poderem ser consideradas “estúpidas” e, se nós olharmos para as caixas de comentários dos blogues (particularmente os locais), verificamos que cumprimos com facilidade e garbo essa estatística.

Sou dos que pensa que não compensa varrer problemas para debaixo do tapete e que dada a gravidade do problema este assunto deve merecer alguma reflexão.

Uma vez que quando se fala de estupidez o trabalho de Carlo Cipolla é incontornável, comecemos por fazer uma análise rápida da teoria que explanou.

O Professor Carlo M. Cipolla (1922-2000), historiador italiano nascido em Pavia, especializado em história da economia, estudou na Sorbonne e na London School of Economics e, em 1959, após ter leccionado em várias universidades italianas entrou para a Universidade da Califórnia onde permaneceu até à sua reforma em 1991. Foi um autor prolífico, tendo publicado no seu livro “Allegro ma non Troppo” (1988) uma dos mais divulgados ensaios sobre a estupidez humana intitulado As Leis Básicas da Estupidez Humana.

Cipolla define a estupidez e a inteligência de acordo com os resultados que se obtém com uma determinada acção estúpida ou inteligente e, não só considera que a estupidez existe mas que domina o mundo o que é, aliás, facilmente demonstrável se atentarmos na forma como é governado.

As Cinco Leis Básicas da Estupidez Humana enunciadas por Cipolla são:

1- Subestimamos sempre o número de pessoas estúpidas.

2- A probabilidade de uma pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica da sua personalidade.

3- Uma pessoa estúpida é aquela que ocasiona um dano a outra(s) pessoa(s) sem conseguir qualquer vantagem para si ou mesmo originando um prejuízo para si próprio.

- Para além do estúpido Cipolla considera existirem mais três tipos de pessoas:

- O Infeliz (ou desesperado) – Aquele cujas acções geram um prejuízo pessoal e criam ao mesmo tempo vantagens para os outros.
- O Inteligente – Aquele cujas acções geram ao mesmo tempo vantagens para si e para os outros.
- O Bandido – Aquele cujas acções geram vantagens para si ao mesmo tempo que causam danos a outros.

4- As pessoas não estúpidas subestimam sempre o poder de causar dano das pessoas estúpidas, pois esquecem-se constantemente que, em qualquer momento e sob qualquer circunstância, associar-se com gente estúpida constitui, invariavelmente, um gravíssimo erro.

5- A pessoa mais perigosa que pode existir é a estúpida.

Estas Leis obrigam-nos, necessariamente a pensar. É aliás esse o desiderato deste post. E são essas reflexões que podem fazer melhorar a nossa sociedade pois, só evitando que pessoas estúpidas assumam cargos de liderança é que podemos evoluir.

As pessoas estúpidas são profundamente perigosas porque às pessoas “racionais” é muito difícil entender comportamentos estúpidos, totalmente erráticos, sem razão determinada e fim específico, que fogem a todas as regras da racionalidade.

Perante um indivíduo estúpido estamos completamente desarmados pois somos apanhados de surpresa e não estamos preparados para nos defendermos “racionalmente” de um ataque que nada tem de racional.

Ninguém sabe, percebe, ou pode explicar, porque é que um estúpido faz o que faz, a não ser por uma razão: estupidez.

De facto parece confirmar-se plenamente o que Claude Chabrol afirmou: “A estupidez é muito mais fascinante que a inteligência. A inteligência tem os seus limites, a estupidez não”.
E já que, pelos vistos, é impossível acabar com a estupidez, convirá ao menos identificar os estúpidos (como eu) que "botam faladura". Por isso combata (e ajude a combater) o anonimato na blogosfera.

2 Comments:

At quinta-feira, novembro 24, 2005 11:05:00 PM, Anonymous Anônimo said...

E sobretudo, meu caro, nunca discuta com uma pessoa estúpida: ela baixá-lo-á ao seu (dela) nível e batê-lo-á pela experiência
LOL

 
At sábado, novembro 26, 2005 12:22:00 AM, Anonymous Anônimo said...

bons artigos professor continue o bom trabalho! Vá ao http://iscaaveiro.blogs.sapo.pt porque adicionamos o seu link no nosso blog, se vir algum inconveniente diga. Já agora faça um comentário.

 

Postar um comentário

<< Home