quinta-feira, janeiro 17, 2008

Histórias de Caça: I - O Javali

Já aqui me confessei caçador. Para grande raiva de muitos ecologistas radicais que têm florescido entre nós, daqueles que sentados numa qualquer esplanada wireless, entre duas dentadas num BigMac, destilam ódio contra a actividade venatória enquanto esconjuram o autor deste post e programam a sua nova e mediática campanha contra a caça, explorando, muitas vezes indignamente, os seus aspectos intrínsecos (armas de fogo, sangue, morte de animais), para alimentar o desprezo do público pela actividade.

Esquecem-se que, não fora a acção dos caçadores na gestão racional e ordenada dos recursos existentes tendo em vista assegurar a sobrevivência da fauna cinegética e dos seus ecossistemas para as gerações vindouras, nos termos do chamado Uso Sustentável da Biodiversidade consagrado nos Princípios e Linhas Orientadoras de Addis Abeba e não teria sido possível preservar a biodiversidade que com ela está interligada.

A caça que na sua origem visou responder a necessidades materiais não pode hoje conceber-se senão associada a uma acção de conservação e gestão razoável, baseada no conhecimento científico e praticada debaixo de cânones éticos muito precisos. Aliás considero que só pode ser caçador quem ama a natureza e tudo aquilo que ela envolve: os tons, os cheiros e, obviamente, os animais. E para além do mais a caça é um óptimo meio para não só conhecer a natureza mas, fundamentalmente, para conhecer as pessoas e, se estivermos atentos, para dela retirar lições de grande utilidade para o nosso dia a dia.

Não sei se é certo os caçadores serem muito mentirosos mas que são muito faladores lá isso são pois, como vêem, estou-me a afastar do objectivo deste post, que é contar as peripécias de uma recente caçada aos javalis em que participei e a lição de vida que dela retirei.

A montaria ao javali é, para mim, uma actividade impar dentro do plano venatório nacional e lamento profundamente, não ter suficiente tempo disponível para poder frequentar as que, cheio de inveja, por aí vou vendo realizar. Significa, geralmente, horas de absoluto silêncio, de contemplação e de comunhão com a natureza, em que os caçadores se defrontam com um animal de grande bravura, que muitas vezes roça a agressividade, aparentemente tosco mas dotado de apuradíssimos instintos e manhas mil, que numa refrega “poder a poder” nenhum discípulo de Santo Huberto deve minorar se quiser substituir a estafada cópia dos girassóis de Van Gogh que tem por cima da lareira, por um bom par de navalhas (e amoladeiras) que metam inveja às visitas da casa.

(Continua)

6 Comments:

At quinta-feira, janeiro 17, 2008 6:22:00 PM, Blogger Pedro Neves said...

Custa-me a entender como é que alguem inteligente como o amigo possa ser caçador. A sério que custa.

 
At quinta-feira, janeiro 17, 2008 6:41:00 PM, Blogger RM said...

Caro Pedro Neves,
Olhe que já vi vícios bem piores :)
Raul Martins

 
At sexta-feira, janeiro 18, 2008 10:51:00 AM, Blogger Poeta de Fermelã said...

Bom dia

O problema da caça é o mesmo problema que existe noutras actividades.

Há os bons e os maus profissionais.

Se ser caçador já é uma actividade discutivel, então ser um mau caçador sem respeito pela natureza, sem respeito pelos outros e sem respeito por si proprio é um hobby e gosto muito duvidoso.

Infelizmente, andam caçadores assim a actuar na nossa área protegida do Baixo Vouga.

cmpts

 
At domingo, janeiro 20, 2008 5:01:00 PM, Blogger RM said...

Caro Poeta de Fermelã,
Sinto que pense que ser caçador já é, à partida, uma actividade discutível. E olhe que a caça não é uma actividade profissional.
Quanto ao problema da caça no Baixo Vouga e à melhor forma de preservar a sua riquíssima biodiversidade, muito teríamos a conversar. Mas para isso é necessário ter a mente aberta para, sem pré-conceitos, abordar esta problemática.
E, sem falsas modéstias, mesmo sendo um desses "desprezíveis caçadores destruidores da nossa fauna", penso já ter feito mais pela protecção das espécies da nossa baixa lagunar do que muitos dos novos arautos da ecologia. Que não distinguem um burro duma vaca quanto mais um fuselo de uma narceja, uma tarambola de uma galinhola ou um pato real de uma garça. Não o meu amigo que, pelo que tenho lido defende, sinceramente e sem mácula, a defesa do ambiente e a preservação do equilíbrio das espécies.
Quando quiser podemos discutir tudo isto à frente de um naco de presunto e broa acompanhado de um bom vinho. Pode mesmo ser nos campos de Salreu, na Ronca, no Monte Farinha ou noutro recanto deste maravilhoso delta lagunar que ambos conhecemos tão bem. E até podemos convidar o "odiado" João Artur (que como sabe é o “chefe” dos caçadores de Aveiro) que, como vai ver, é um indivíduo sensacional e, também, como todos os caçadores que se prezam, um acérrimo defensor da natureza. Estou certo que, no final, vai deixar de pensar da caça e dos caçadores o que actualmente (ainda) pensa.

Cumprimentos
Raul Martins

 
At segunda-feira, janeiro 21, 2008 11:20:00 AM, Blogger Poeta de Fermelã said...

Bom dia caro amigo.

É como lhe digo, há os bons e os maus...

Basta passar por lá para ver os diferentes estilos de caça em acção, os bons e os maus caçadores...

Um dia destes cruzamo-nos por aqueles caminhos de paz e harmonia.

sinceros cmpts

 
At segunda-feira, janeiro 21, 2008 11:05:00 PM, Blogger aveiro said...

Caça é um desporto, ou melhor uma arte...

É claro que nem todos podemos ser bons caçadores, pelo menos na arte de realizar um tiro certeiro, mas todos podemos e devemos ser preservadores da natureza!!!

Mas existe muito boa gente que não é caçador e que não tem nenhum tipo de preocupação ambiental.

Esta conversa dava pano para mangas.


Cumprimentos

 

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