quarta-feira, maio 02, 2007

Números são Números

No dia 2 do corrente mês de Maio foi dado público conhecimento de partes do Relatório Final da Auditoria Financeira à Câmara Municipal de Aveiro, realizada por Auren Auditores e Associados, SROC, S.A. datado de 30 de Março último e cuja proposta de execução havia sido apresentada pela Bancada do Partido Socialista e merecido o voto favorável da Assembleia Municipal de Aveiro.

Após uma primeira e rápida leitura dos documentos que foram disponibilizados online no site da Câmara, pude constatar tratar-se de um documento que reflecte um trabalho realizado de acordo com as melhores normas e metodologias geralmente aceites de auditoria, que pode, e deve, servir como base não só da elaboração das estratégias públicas a serem prosseguidas mas, também, para promover a melhoria dos procedimentos dos próprios serviços municipais .

Das conclusões avulta a identificação do passivo da CMA com referência a 22-10-2005, peça fundamental para que se possa conhecer o valor da dívida nessa data. O valor do passivo aparece dividido em 3 grandes grupos a que procuraremos, de uma forma muito simples, dar significado:

1- Obrigações (passivo exigível) constituídas por:

1.1- Dívida propriamente dita (aquilo que realmente se deve e que para saldar é necessário pagar) e que é constituído pelas dívidas a terceiros de médio e longo prazos (aquelas que tem o vencimento a mais de 1 ano) e dívidas a terceiros de curto prazo (as que tem o vencimento a menos de 1 ano.

1.2- Provisões para riscos e encargos que são valores que, no momento da análise, não são dívidas propriamente ditas mas que se podem transformar em encargos se se verificar o risco associado à situação que a provisão pretende financeiramente acautelar. São passivos de tempestividade ou quantia incerta e são efectuados por um valor estimado suficiente para fazer face ao cumprimento de uma obrigação que existe no presente, resultante de um acontecimento passado. Para serem saldados implicam a utilização da provisão.

2- Acréscimos e diferimentos que neste caso respeitam fundamentalmente à especialização por exercícios de subsídios, a fundo perdido, recebidos. Estes valores reflectem, de uma forma geral, a capacidade que o executivo teve em obter financiamentos a fundo perdido.

Simplificadamente (os meus colegas que me perdoem a simplificação que apenas pretende que os não iniciados na matéria percebam melhor do que se está a falar) são consideradas 3 classes de Passivo:

- A que corresponde a dívidas existentes que é necessário pagar - (dívidas a terceiros)
- A que não sendo dívida no presente (são valores que se destinam a prevenir a ocorrência de certos riscos), pode ser necessário utilizar no futuro - (provisões para riscos e encargos)
- A que não é dívida no presente nem nela se poderá transformar no futuro - (acréscimos e diferimentos).

Dada esta explicação prévia e deixando os acréscimos e diferimentos para uma segunda análise os valores encontrados pela auditoria e reportados a 22-10-2005 são os seguintes (em milhares de euros):



CÂMARA MUNICIPAL DE AVEIRO

Dívidas a terceiros – Curto Prazo ------------ 59.648
Dívidas a terceiros – M/L Prazo--------------- 90.221

Total da Dívida da CMA---------------------- 149.869

Provisões para riscos e encargos ------------- 4.175

Total do Passivo Exigível da CMA---------- 154.044

Nota: As provisões para riscos e encargos respeitam a riscos de natureza específica e provável relacionados com as seguintes entidades. Condop, CPE, Eurest, FDO, J.A. Arquitectos, Manuel Figueiredo Dias, Rodimo e Vitasal.


SERVIÇOS MUNICIPALIZADOS DE AVEIRO

Dívidas a terceiros – Curto Prazo ----------- 9.591
Dívidas a terceiros – M/L Prazo-------------- 1.464

Total da Dívida da SMA---------------------- 11.055

Provisões para riscos e encargos ------------- 0

Total do Passivo Exigível da SMA---------- 11.055



TOTAL DO GRUPO MUNICIPAL
(CMA+SMA+EMPRESAS - MOVEAVEIRO, TRANSRIA, EMA, TEATRO AVEIRENSE, TEMA, AVEIRO-EXPO, PDA)

Dívidas a terceiros – Curto Prazo ------------ 71.616
Dívidas a terceiros – M/L Prazo--------------- 91.685

Total da Dívida ------------------------------ 163.301

Provisões para riscos e encargos ------------ 4.838

Total do Passivo Exigível ------------------ 168.139



Finalmente restará assinalar que o total dos acréscimos e diferimentos ( passivo não exigível) é de 33.171m€ o que dá um Passivo Total (Exigível + Não exigível) para o Total do Grupo Municipal de 201.310m€.

Uma consideração final. Estes valores da dívida que não se afastam muito dos que foram fornecidos pelo relatório da IGF (que não apurou as provisões para riscos e encargos) são, como sempre dissemos, preocupantes mas não são dramáticos. Exigem sim medidas concretas para corrigir o défice estrutural do Município que visem impedir que mesmo num quadro de quase total ausência de novas obras, a dívida venha, desde Outubro de 2005, a aumentar a um ritmo inquietante e permitam a diminuição do valor da dívida.

Mas, como já anteriormente afirmámos, mais grave do que reconhecer que o actual executivo não tem ideias nem “unhas” para pôr em execução as medidas vitais necessárias é, por simples teimosia a que o Sr. Presidente da Câmara chama cumprimento de promessas eleitorais, insistir em tomar medidas que vão ao arrepio de todas as recomendações que têm sido feitas. Que, para bem de Aveiro e de todos nós, deviam ser aceites e seguidas pois o grande problema que Aveiro hoje enfrenta não é o défice financeiro. O grande problema é o défice de ideias e o défice de decisões acertadas do actual executivo.

Mas, cumprindo a parte que nos cabe, brevemente apresentaremos (mais) algumas ideias simples que, se forem seguidas (o que duvidamos dado o autismo com que as nossas propostas foram, até agora, recebidas), contribuirão, certamente, para a resolução deste problema. Já se perdeu tempo demais. Aveiro não pode continuar adiado.

7 Comments:

At quarta-feira, maio 02, 2007 2:04:00 AM, Blogger Terra e Sal said...

Meu Caro Dr. Raul Martins:

Você sabe, eu já contei daquela vez que o assessor de imprensa da Câmara me chamou inculto, mas deixe-me contar outra vez…
Desde pequenino que os professores diziam que eu não tinha jeito nenhum para os números, mas que tinha um jeitão para as letras…Aquela coisa de não ter jeito para os números sempre se reflectiu e até veio a acentuar o meu jeito para as letras pela vida fora, ainda hoje, e quem me conhece sabe, que estou atafulhado de letras junto de dois bancos, com quem trabalho…

Por isso compreendo e sou solidário com o senhor Presidente que tal como eu, não sabe lidar com os números, e vê a dívida a “medrar” todos os dias, que mete medo, eu sei como é, comigo era igual…
Ora eu falei com uns conselheiros destas Instituições que ajudam quem não tem jeito para os números, e eles deram-me uma receita simples, que me está a ajudar a livrar das malditas letras para que tenho jeito desde garoto. Gostaria por isso, e se me for permitido, de repartir esta experiência, com o meu Edil.

Ora sabemos que a dívida embora seja grande, à volta de 168 milhões de Euros (mais ou menos 33,6 milhões de contos em moeda antiga) não é de modo nenhum desesperante…
O que está errado nem é a dívida, o que está errado é ela estar a aumentar assustadoramente todos os meses, e sem fim à vista…
O que está verdadeiramente errado é o senhor Presidente não fazer nada para a estancar, e apenas tentar atabalhoadamente endossar a dívida da sua governação à dívida antiga deixada pelos Socialistas, como se isso o confortasse...
Ora isso. é meter a cabeça na areia, e não resolver coisíssima nenhuma, e olhe que o povo um dia não lhe vai perdoar essas "habilidades"

E não vai aceitar porque não é justo, e não se iluda já que, os Aveirenses não são propriamente uns ignorantes ou almocreves, que engulam tudo aquilo que se lhes quer dar...
Siga o meu conselho, já que eu, tal como o meu respeitável Amigo, também nunca tive jeito para a gaita dos números, e por isso mesmo, andava sempre aflito e de calças na mão, com a trampa das letras:

Comece a cortar as despesas na Câmara, não se arme em santinho, porque quando for embora vão “excomungá-lo”...
Vá por mim que sei como é...

Crie receitas, justifique-as perante a população, eles vão compreender. Exija junto de todos para que a Câmara funcione como uma empresa, e uma empresa sua, e acredite que ela moralmente é,e está a caminhar a passos largos para a falência, porque Vª Exª não se impõe..
Fale com o senhor Vereador que é empresário, pergunte-lhe como fazer e o que tem a fazer...
Por uma questão de moral comece por "vagar" os empregos aque arranjou de compadrio político,eles são um sorvedouro dos dinheiros públicos por pessoas que andam por lá a monte e com fé em Deus. Levam todos os meses para casa parasitariamente, muitas das suas horas de sono.
Vá por mim senhor Presidente, porque se não for, a sua passagem pela Câmara vai ser de fraca memória...

 
At quarta-feira, maio 02, 2007 11:10:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Por falar em presidente, li por estes dias nos jornais que a CMA licenciou uma bomba de gasolina de um supermercado... que já estava a funcionar há mais de um mês?!
Que cowboyada é esta? Agora é assim? Faz-se primeiro e licencia-se depois?
E o seu PS não faz nada?

 
At quarta-feira, maio 02, 2007 2:36:00 PM, Anonymous Anônimo said...

O anonimo anterior, deve ter acordado agora... então e no mandato anterior licenciou-se o Ritel Park, um ano depois de estar em funcionamento; o Forum igual, e outrossssss tantos, que tal...
ò anonimo..., sempre foi asim, e vai continuar a ser, quem pode é quem tem dinheiro, e mais nada!

 
At quarta-feira, maio 02, 2007 7:19:00 PM, Blogger veritas said...

Pois...parece que o nosso presidente é um homem das filosofias...
Gostei de te conhecer. Também linkei.

Cumprimentos.

 
At quinta-feira, maio 03, 2007 9:33:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Excelente esclarecimento. E concordo consigo, numeros são numeros, venham as ideias e as nozes são para quem tem dentes...

 
At quinta-feira, maio 03, 2007 7:25:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Caro Dr. RM,
O resumo é esclarecedor, no entanto, ficamos sem saber se as conclusões são um problema herdado ou uma oportunidade de reestruturar.
Não se vislumbram medidas ou estratégia. Em resumo propostas alternativas.
Conhecer apenas os numeros é redutor.
Borges Coutinho

 
At sexta-feira, maio 04, 2007 7:00:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Qerem saber como se governava a CMA
com pouco dinheiro?
Vão perguntar ao Elmano como geria os armazéns sem engenheiros.
Vão perguntar ao Godinho como acessorava sòzinho os vários presidentes que ele acompanhou.
Vão perguntar ao Engeheiro Gaioso como se administravam os serviços municipalizados sem prejuízo.
Tantos TACHOS para governar a câmara só pode esturro.
Senhor Presidente, pegue nos seus vereadores e acessores e leve-os para o asilo em S. Bernardo e ponha-os a fazer as obras de recuperação que só lhes fará bem.
Passei por aí muitos anos e sei onde reside a miséria.
Saudações

 

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