sexta-feira, junho 15, 2007

VISTORIAS

Quando hoje se fala tanto da falta de condições higio-sanitárias de certos equipamentos municipais, lembrei-me de um telefonema que vi ou ouvi (não foi a minha andorinha que me contou, isso tenho a certeza), entre um antigo colaborador de uma instituição que dirigi, já lá vão mais de 20 anos (S) e um conhecido autarca (M).

Apesar de conter algumas pérolas linguísticas impróprias para menores, espero que sirva para saberem como é que este, à altura, destacado militante do PSD, resolvia os problemas resultantes das vistorias sanitárias a uma empresa de pescado da sua família. Ora vejam e aprendam (se gostarem do estilo).

M - Sim!
S - Estou, Sr. M.! Como está?
M - Ó Sr. Dr., já recebeu aí o tal relatório?
S: O relatório do IGAI ... (dirigindo-se a terceiro: pergunte-me ali se está ali o relatório... - imperceptível-)
M - Mas, agora, há aqui outra coisa relativamente àquilo que o senhor mandou!
S - Diga, diga!
M - É que aqui diz assim: “Os representantes do IDICT e da Autoridade de Saúde sugerem"!
S - Não! Se o senhor vir...
M - Não há aqui nenhuma ordem!
S - Não! No fax que eu lhe mandei...
M - No fax que o senhor me mandou... - ora pegue lá, se faz favor, se o tiver aí à mão! - ...
S - Estou! Tenho aqui sim...
M- Então, o que é que diz?
S - “No seguimento do nosso telefonema e para que possa analisar, junto envio a cópia do Auto de Vistoria, 14 ..., onde da parte do IDICT e da Autoridade..."...
M - Não, mas... mas leia o relatório... o relatório que foi feito pelos representantes do IDICT e do Aut...
S - “Os representantes da Autoridade de Saúde sugerem...”
M - Sugerem!
S - Exactamente!
M - Mas o que são sugestões?! Não são ordens!!!
S - Ó...ó...ó Sr. M...
M - Desculpe lá! Ó Dr., desculpe lá!
S - Ouça, mas...
M - Desculpe lá, ...isto é urna sugestão!
S - Sim...
M - Não é uma ordem para fazer num prazo tal!!! Desculpe lá!
(...)
M - Tem alguma ordem de prazo?! Mande-ma, se faz favor! Se tem, mande-ma, pá, que eu não tenho aqui, pá! Eu ... - ouça! - ...eu admito perfeitamente que aqui não estejam a cumprir! E, se não estiverem, a razão é vossa! Mas, perante isto, não me parece!
S - Não sei, já... isso já é...
M - Não sabe, porra???!!! Então o Dr. está aí e não sabe, caralho???!!!
S - Já... já é uma questão de...de...de...de entendimento jurídico, não é?
M - Entendimento jurídico, o quê???!!! Uma sugestão???!!!
S - Ó Sr ó Sr. M., ...espere aí espere aí! Desculpe-me lá, eu mandei-lhe a folha dois e três, falta a... Na última folha,
M - Ora, um momento!
S - Veja-me a última folha desse Auto!
M - Ora, aqui está: “Os representantes não sei o quê...” ...e depois?
S - Sim, sim, mas, na última folha,...
M - Qual última folha?
S - ...na última, antes das assinaturas, na folha dez, dez...
M - Dez, dez...
S - Não está aí no Auto que lhe mandei...
M - (Dirigindo-se a terceiro: Folha dez, dez, pá!) ...Não me mandaram dez, dez! Tenho nove, dez; oito, dez; ... (Dirigindo-se a terceiros: Ora, vê lá se está aí alguma dez, dez!)
S - Dez, dez!
M - dez, dez... não está aqui nenhuma, pá!
S - Ó Sr. M.,
M - Isto foi o que veio!
S - Não, não, que eu, agora, mandei-Ihe só a oito e nove, onde está feita a referência a esses...
M - Pronto! Então, mande-me lá a dez, dez, pá!
S - A dez/dez diz assim, no último parágrafo,: ‘No que respeita às anomalias...
M - Mas mande-ma, se faz favor, então, também!
S - ...apontadas...
M - Mas diga lá, então, o que é que diz na última, dez, dez!
S -... “No que respeita às restantes anomalias apontadas, que visam a melhor das condições estruturais, face à natureza e dimensão...
M - Sim...
S - ...bem como do estado físico das câmaras frigoríficas...
M - Sim...
S - ... de conservação de congelados, é entendimento dos peritos poder vir a ser concedido...
M - Poder vir!
S - .. um prazo até trinta de Março de dois mil e três, para apresentar à Entidade Coordenadora o respectivo projecto das alterações.”
M - Poder! Mas aí não... não... não manda, pá! Desculpe lá, pá!
S - Ó Sr. M.,...
M - Desculpe lá! Aí não está dado nenhum prazo para isto! Mas ó...ó...ó Dr., desculpe lá, caralho! O senhor sabe ler, eu também! Não é preciso sermos juristas! Não há aqui, que eu saiba, nenhuma ordem concreta: “Até tantos do tal, isto tem que estar feito, sob pena de... “!
S - Pois mas isso...
M - Como?!
S - ...repare...no...na...em...em sede...em sede de...de...de uma vistoria, o procedimento que se costuma ter é assim! Depois, a Entidade Coordenadora é que lhe vem a definir um prazo de...
M - Ó Dr., mas onde é que há alguém que tenha definido o prazo?! Desculpe lá, mostre-me isso, para eu ter a ...para vos dar razão, pá!
S - ... ... Sr. M.,...
M - Eu quero-vos dar razão, pá, mas...mas tem que me dar documentos! Se não me der documentos, como é que eu lhe dou razão???!!! Mas mande lá...a dez, dez! Isso aí não determina nada. Desculpe lá, pá!
S - ... Repare que... a única coisa que há, por essa ordem de ideias, nem deviam ter marcado a vistoria! Nem deviam ter mandado...
M - Ò... ó... ó... ó Sr. Dr., ... ó Sr. Dr., eu também mando fazer vistorias, caralho, pá!!!
S - Eu sei que sim...
M - E a gente, para fazer vistorias, tem que dar um prazo!!!
S - Exacto...
M - (gritando): Tem que dar um prazo, findo o qual... - ouça! - (...)
S - Mas, ó Sr. M., não... a fábrica não foi encerrada, a única coisa que...
M (gritando) - Não, o quê?! O senhor encerrou os frigoríficos, como é que trabalham???!!! O peixe está lá todo dentro!
S - Não, ainda tem muito aqui no coiso ... segundo me disseram,...
M - Tem muito aonde???!!!
S - ...ainda tinha muito peixe aqui! Da outra vez, transferiram ainda estavam a trabalhar com o peixe da F…!
(...)
M (gritando) - Ó...ó...ó Dr., mas aqui pode perigar???!!! Mas... - dá-me licença?! - ...mas pode perigar ...uma merda que está a funcionar mal há um ano e tal e que vocês não deram uma data limite para reparar???!!! Pode perigar???!!!
(...)
M (gritando) - Eu digo-lhe esta merda à sua frente, à frente do Secretário de Estado, do Ministro e do Primeiro-Ministro! O senhor é um burocrata!
S - Ò Sr. M….,
M (gritando) - O senhor não está a perceber o que eu lhe estou a dizer, caralho!
S - Não estou a perceber, não.
(...)
M (gritando) - O senhor é uma merda, que não devia estar nesse lugar!... porque... sabe porquê?, porque o senhor não tem cabeça para pensar!
(...)
S - ...mas sem cabeça, continuo a ser educado com o senhor!
(...)
M (gritando) - OIhe, vá bardamerda, que não estou para o aturar!
(...)
S - Está a ver...? Mas, apesar disso, sou educado.
M - (dirigindo-se a terceiro) : Vá chatear o caralho!!! Quem é este gajo, pá?!
Voz masculina - É ...um merdilheiro qualquer.
(...)

Infelizmente por mais voltas que dê à cabeça não me lembro onde é vi esta transcrição, nem do nome do tal senhor. Mas hei-de-me lembrar. Quanto mais não seja para lhe podermos telefonar para lhe pedir para vir dar uma mãozinha aos nossos autarcas se, por cá, surgirem problemas parecidos.

2 Comments:

At sexta-feira, junho 15, 2007 8:05:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Vejo uma ponte na Ria
E dá logo para ver
Como é que ficaria
O comboio de Cacia
Na proposta da Refer.

É mesmo d´arrepiar!
E é só um bocadinho!
Vamos todos pressionar
Até a Refer deixar
D´elevar aquele caminho.

Ai se fosse em Gondomar
Que tivesse acontecido!
O Major no celular
Com um "carvalho" p´ró ar
Já o tinha resolvido.

ZÉ MALAGUETA

 
At sexta-feira, junho 15, 2007 10:31:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Fodxxxx dr. que esta matéria é díficil pra cxxxxxx. É melhor contratar o VL para assessor do Câmara. Razão tem o CS quando diz que isto não é fácil.

 

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