sábado, junho 14, 2008

O Novo Pedido de Empréstimo de 58 Milhões de Euros

Aprendi com a leitura das obras de Aristóteles que toda boa política deve visar sempre o bem comum.

E aprendi também que um verdadeiro político se defronta com deveres aos quais não pode fugir e que não pode desconhecer. É que diferentemente dos demais cidadãos, cabe aos políticos uma maior quota de obrigações que de direitos, em parte pelo ofício que escolheram, em parte por terem sido eleitos para exercerem um mandato popular. Aceitamos que um político possa, de boa-fé ter ideias e implementar medidas que se venha a demonstrar serem erradas. Não podemos é admitir que um político sério possa sacrificar o bem colectivo em favor das suas conveniências pessoais, atraiçoando o mandato que lhe foi conferido.

E é disso de que aqui estamos a falar. O que o Sr. Presidente da Câmara nos propõe hoje não é uma hipótese ou um caminho para que o saneamento das nossas contas municipais possa acontecer. Longe disso!

A pretensa operação de saneamento financeiro que o Dr. Élio Maia aqui nos apresenta mais não é do que uma última tentativa de salvar a sua pele política. A todo o custo!

Fazendo tábua rasa da sua promessa eleitoral de resolver a conhecida situação financeira que herdou, pretende, a troco do seu imediato interesse político pessoal, deixar para os vindouros uma situação de muito difícil resolução, uma situação muitíssimo mais grave do que aquela que herdou.


Enredado em mesquinhas querelas político-partidárias, emparedado pela incompetência do seu executivo, sem rumo nem políticas, o Sr. Presidente da Câmara joga aqui uma cartada que, a ter sucesso, augura o pior para o futuro do nosso Município. É que à sombra desta suposta operação de saneamento financeiro que, na realidade, nada vai sanear porque recusa assumir os sacrifícios que o saneamento da actual situação financeira exige, pretende obter um financiamento de 58 milhões de euros, valor bem superior ás receitas totais anuais da edilidade, com o único fito de dispor de capacidade financeira imediata para poder sobreviver politicamente.

O Partido Socialista recusou-se a retirar dividendos políticos das fundadas conclusões do severo relatório que o Tribunal de Contas fez à conformidade legal do contrato de empréstimo oportunamente proposto, a que, em altura oportuna, já tinha tecido as pertinentes criticas, mas sente que toda a boa vontade que empenhou neste processo e o benefício da dúvida que emprestou a este executivo municipal, que julgou ser capaz de o elaborar e conduzir, foram traídos pela manifesta incompetência demonstrada de que resultou um rotundo fracasso, que veio frustrar todas as expectativas entretanto geradas.

Na manifesta ausência da publicitação de um plano alternativo e não pretendendo ver repetida a situação que coloca em causa capacidade do Município Aveirense resolver os problemas financeiros existentes, o Partido Socialista apresentou oportunamente as bases gerais para que um novo e verdadeiro Plano de Saneamento Financeiro, fosse elaborado, aqui aprovado e remetido a Tribunal de Contas onde, certamente obteria o necessário visto. Apelámos, inclusivamente para que o executivo presidido pelo Dr. Élio Maia e a Coligação que o suporta tivessem, a bem de Aveiro, o bom-senso suficiente e a humildade necessárias para aceitarem e seguirem o nosso contributo para se poder efectuar o saneamento financeiro do nosso Município e recuperar a sua credibilidade financeira.

Esta maioria decidiu fazer orelhas moucas aos conselhos que, de boa-fé lhe oferecemos. E optou pela solução mais fácil. Decidiu "densificar" o Plano apresentado, pretendendo, desta forma, obter a sua desejada conformidade legal. Só que a "densificação" do Plano acabou por trazer para a ribalta aquilo que o primitivo plano trazia escondido. E o que mostrou é de índole a provar que o Dr. Élio Maia e este executivo poderão ter algo a ganhar com a sua aprovação.

Mas Aveiro sempre perderá.


Por manifesta falta de tempo não vos maçarei com a discussão exaustiva de um rol de medidas inócuas e iníquas que a densificação trouxe à tona de água. Limitar-me-ei a apresentar aqui algumas questões sobre as operações de maior vulto que estão incluídas no dito Plano

- A transferência dos serviços prestados pelas empresas SUMA, SA e ERSUC SA para a gestão dos Serviços Municipalizados vai representar uma poupança líquida de cerca de 13,74 milhões de euros para a CMA no período em análise. Mas, esta poupança para a CMA não implica um custo adicional para os Serviços Municipalizados do mesmo montante aproximado?

- Prevê-se a alienação por um fantasioso montante de cerca de 4 milhões de euros de 83 habitações sociais. Será desejável e exequível? E se é desejável e exequível porque é que já não se efectuou essa alienação.

- É dito que a aprovação do plano tem como consequência directa uma libertação imediata da tesouraria em cerca de 490.000 euros mensais. Obviamente porque o empréstimo tem dois anos de carência. Mas o que é que vai acontecer ao Município passados esses dois anos em que terá de pagar não só os 58 milhões de euros pedidos como também os 24,6 milhões de encargos financeiros previstos para a operação ou seja um total de 82,6 milhões de euros?

- 82,6 milhões de euros a que é necessário juntar os 36,6 milhões de euros previstos como resultado desse incrível negócio de lesa-Aveiro que é a constituição de uma parceria público-privada para a construção e manutenção das escolas do ensino básico do concelho e a construção e exploração de 4 parques de estacionamento, quando o recurso ao QREN para a implementação da Carta Educativa consumiria certamente um valor não superior a um quinto desse montante e a CMA ainda poderia usufruir das rendas da concessão dos parques de estacionamento. Ora a simples adição destes valores parcelares elevam-se a cerca de 120 milhões de euros. Que alguém há-de pagar.

Da parte das receitas de monta previstas o Plano apresenta algumas medidas (verdadeiramente) extraordinárias:

- A constituição de um Fundo Imobiliário, que agora é prometido criar e que geraria um desejável encaixe acumulado de 6,5 milhões de euros, a venda de todo o património municipal conhecido o que geraria uma inatingível mais-valia de 27,23 milhões de euros e imagine-se:

- A concessão dos SMA com todas as suas valências, nomeadamente as novas de que há pouco falei, que poderão levar as contas do SMAS ao vermelho, por 50 milhões de euros

- A concessão do Estádio Municipal por (benzam-se!!!) por 65 milhões de euros.

- Pelo meio fica a proposta de alienação de parte do capital da Moveaveiro (uma nova moda depois da privatização e da concessão) e a extinção das outras empresas municipais Aveiro Expo, Tema, TA e EMA convertendo-as numa única unidade empresarial. Mesmo como no caso da Aveiro Expo 49% do capital é privado. Enfim algo que não dá sequer para discutir e que obviamente são projectos para outros realizarem.

Uma última nota para dizer que o empréstimo se destina a consolidação financeira ou seja transformar dívida de curto prazo em dívida de médio/longo prazo. Continua a estranhar-se que parte do empréstimo se destine à consolidação dos factorings que aqui sempre têm sido apresentados (ainda na última sessão da AM o foram) como dívida de médio/longo prazo. Ora uma dívida não pode ser de curto prazo nuns dias e de médio/longo prazo noutros, ao sabor do interesse do momento.

Gostaríamos que a CMA honrasse os seus compromissos.

E gostaríamos que esse desejado facto assentasse em verdadeiras medidas de saneamento financeiro que permitissem resolver a grave situação financeira do Município.

Mas esta Câmara não tem ideias, não tem soluções e com este processo não quer resolver os problemas financeiros do Município. O Dr. Élio Maia e o seu executivo apenas querem salvar a sua pele política nem que seja à custa de multiplicarem o problema empurrando-o para a frente para que outros o resolvam.

E até o poderão conseguir se o Tribunal de Contas não levar em conta as múltiplas falácias, ilegitimidades e iniquidades deste Plano.

Mas não com o nosso voto!

11 Comments:

At sábado, junho 14, 2008 10:51:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Nova trapalhada da Presidente da Assembleia Municipal de Aveiro.
Só os Vereadores da maioria podem falar em plenário,a rolha para os outros da oposiçao, como aconteceu ao respeitadissimo Dr. Rocha Andrade, que se viu forçado a abandonar a Assemblia Municipal e prometeu falar só em sessão pública da próxima reunião da Câmara
Lamentável atitude da dita dura, Presidente da Assembleia Municipal de Aveiro,Dra. Regina Bastos, natural de Estarreja.
É a democracia desta maioria que desgoverna Aveiro, PPD/PSD-CDS/PP.

 
At sábado, junho 14, 2008 4:03:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Vai-te embora Élio.
Não te chamo Dr para não ofender os Doutores.
Não te chamo burro,para não ofender os pobres animais.
E não te trato por Maia, porque tive um grande amigo que se chamava Mário Maia, funcionário dos SMAveiro, onde era conhecido por Mário Fala Barato, que quando via chefes sem categoria tinha uma expressão para os classificar, que eu acho que neste ponto da situãção se pode aplicar perfeitamente: PEGA NA MANTA E CABEÇALHO E VAI PARA ... O ALBERGUE, QUE ATÉ FICAVA NA TUA FREGUESIA.
Deixa Aveiro em paz e leva a camarilha toda atrás de ti.

 
At sábado, junho 14, 2008 9:52:00 PM, Blogger ZÉ FAGOTE said...

Excelente intervenção.
Efectivamente VC leva a “coisa pública” mesmo a sério, estuda os assuntos ao pormenor, e demonstra fazer os deveres de casa.
Em abono da imparcialidade, reconheço que, o PCP e mesmo o BE, também demonstram preocupação com os pontos que se discutem, pese embora não serem especialistas em matéria de economia.
Mas estou certo que, lá pelos seus “acantonamentos” devem ter economistas, e portanto, ensaiam bem as matérias.
Assim, meu Caro, tem várias frentes a chamar-lhe a adrenalina:
Os PPs; PSDs; presidente da Mesa, e ainda os arremessos furtivos dos comunistas e bloquistas, que, claro, sempre que podem, não perdem a oportunidade para tentar sacar uns votitos ao seu PS.
Ora, pese embora a inestimável ajuda de alguns dos seus companheiros, particularmente do Dr. Candal, mesmo assim, VC deve chegar ao fim arrasado…
Mas “quem corre por gosto não cansa”
E assim, muitas vezes, o martírio da cabeça e do corpo, é uma "sauna" tranquilizante para o espírito.
.
Não se entende que a Câmara insista num “projecto” que sendo seu, é certo, distrai-se grosseiramente, das directivas que a Lei afirma e prevê. Entre outros pontos a cumprir, sabemos que, de grosso modo, o empréstimo não pode exceder 50% das receitas previstas da edilidade. Arrecadando a nossa Câmara 45 milhões de Euros por ano, o máximo que poderá pedir, e isto se cumprir todas as regras previstas, são 22,5 milhões de euros. Assim, não é entendível que continue a insistir nos 58 milhões, embora eles fizessem um jeitão, mas sabe-se que, é um tribunal que vai analisar o solicitado.
Estarão à espera de jeitos?
Não acredito que se façam. O presidente da Câmara de Lisboa, ex-ministro, amigo e camarada de “A” + “B” e não sei de mais quem, correu e saltou, e nada conseguiu. Não vejo que, para os nossos lados, alguém consiga melhor. Mas nunca se sabe…
O PP e o PSD, todos sabem, tem gente muito “prendada”.

Para acabar:
Então a presidente da mesa tornou a “borrar” o quadro democrático. Permite que um deputado do PSD ofenda um Vereador do PS. Este, pedindo a palavra para se defender, (ela tenta atrapalhá-lo disfarçadamente, na minha opinião) questiona qual é a figura do Regimento que invoca para tal. Depois de muita conversa fiada, lá lhe dá a palavra, mas de seguida não deixa um outro Vereador falar, mas permite-se deixar o “provocador” ripostar, “obrigando” com este comportamento reprovável, na minha opinião, que todos os Vereadores da oposição abandonem como forma de protesto, os seus lugares na Assembleia Municipal, e lá volta ela durante tempos infinitos com o “blá,blá,blá, convencida que tem razão, ou pensando que alguém a está a ouvir, quando afinal está a falar só para si, não se apercebendo que está errada e sem bom senso.
Cisma que põe tudo no "fio da navalha" e se calhar ela é que se vai "afiambrar" com ela.

Sei que alguém vai anotando estes “incidentes” desastrados e quem sabe se não vai dar um “romance” com mais sucesso que o “EQUADOR” do Miguel Sousa Tavares?
Pois é!

Depois da bancada do PSD, um sujeitinho, veterano em palermices, às vezes com as muletas de outras criaturinhas, ri, e riem às gargalhadas de nervosismo, quando alguns deputados fazem as suas intervenções. Não só da sua bancada, mas também de outros partidos mais à esquerda.

A senhora de cabeça enfiada na “secretária”, em minha opinião, como as crianças do ATL, faz bonequinhos, ou faz que escreve, e não “ouve” nada.
Nem os secretários lhe chamam a atenção para a “arruaçada” que se está a desenrolar.
E mais:
Soubesse o meu Amigo, ler os lábios, e “ouviria” adjectivos interessantíssimos que saem lá de cima dos “altos”.
Pois é!

E já agora, com certeza que se recorda da desconsideração que o “líder” da bancada do PSD fez ao seu colega de bancada Dr. Pires da Rosa, chamando-lhe “rosa do pires” ou “rosa em cima do pires” rematando em tom de desconsideração completa, que, “pires da rosa” “rosa do pires” ou “pires em cima da rosa” era tudo a mesma coisa...
O seu camarada não lhe respondeu, se calhar não se quis “agachar” tanto.

E da “PRESIDENTA”?
Ouviu-a reclamar de tanta infâmia numa casa tão nobre, como reclama às bancadas de esquerda?

Mas o engraçado é que, o homem, na sua voz napoleónica, é mais um que anda sempre a apregoar que haja elevação....
Que haja elevação nas intervenções!
Eu por mim não o entendo!

O seu comportamento leva-me a supor que, a tal elevação tão apregoada,seja praticada por ele, na solidão de uma cagadeira, cagando de pé!

Cumprimentos de felicitações.

 
At sábado, junho 14, 2008 10:34:00 PM, Blogger Marechal Ney said...

Meu caro Dr.R.M.:

Este plano com conotações que só a Maquiavel lembrariam, caso seja possível ser implementado, o que não acreditamos, tem uma faceta, como V.Exª referiu, de contornos graves de ética política:

O período de carência é um presente envenenado para ser degustado pelo próximo mandato.

Até parece que estes senhores já sabem que não vencerão as próximas eleições, ou então, vão sair, de fininho, de cena.

Do Marèchal Ney

 
At domingo, junho 15, 2008 11:17:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Caro Zé Fagote.
Eu estive a assistir á dita Assembleia, presidida pela tal aberrante PPD/PSD, e em síntese relata verdadeiramente, tudo o que se passou, impedindo sempre aos da oposição o uso da palavra quando não lhes agrada.
O espanto, é que á coligação da maioria, até lhes pergunta, então não querem responder?
Dualidade de critérios, que não dignifica a Democracia.
Sobre a atitude lamentável do corte da palavra, ao Vereador
Dr. Rocha Andrade, até nem merece comentários.

 
At domingo, junho 15, 2008 3:17:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Ò amigo Élio, nem com 100 milhões lá ias.
Quando um gajo não sabe.... até os ditos estorvam.
O único que teve alguma visão, foi o Greno. Saíu de mansinho, mas safou-se.
Pede asilo politico ao padre Félix, e vai para a tua freguesia ajudar.
Mas vai rápido, pois em Aveiro começas a cheirar mal

 
At domingo, junho 15, 2008 10:33:00 PM, Anonymous Anônimo said...

estou para ver se a CMA vai pagar ao Beira Mar!
vai haver mosquitos por cordas em aveiro!

 
At segunda-feira, junho 16, 2008 11:37:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Todos, em Aveiro, conhecem a lhaneza de trato do dr. Rocha Andrade. É, sempre foi, um Senhor.
Ser, como foi, desconsiderado pela fulana que está a presidir à AM não me supreende. O que me surpreende - e desgosta - é ela não ter sido de imediato repreendida pelas bancadas que a elegeram.
Por exemplo, pelo dr. Jorge Nascimento que tinha a especial obrigação de impedir que o seu colega Rocha Andrade fose desrespeitado. Já não falo do dr. Manuel António Coimbra porque toda a gente sabe que simplesmente "não dá para mais".
Pobre Aveiro, como andas tu....

 
At segunda-feira, junho 16, 2008 1:03:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Todos em Aveiro já sabem a forma de agir da Srta de Veiros. É preciso que todos os aveirenses tomem uma posição. Há já poucos deputados da oposição com quem nao tenha utilizado os seus métodos ditatoriais. Não se esqueçam de Brecht. Hoje foi ele...

 
At segunda-feira, junho 16, 2008 2:55:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Até os jornalistas (ver o blog do jornalista Júlio Almeida) já não têm quaisquer dúvidas em rotular o desempenho dessa tal Regina Bastos de muito mau!
O que é que as pessoas da coligação PDS/CDS esperam para dizer à senhora para se "esquecer de vir" às sessões que faltam até ao fim do mandato? Cada vez que vem presidir, é uma vergonha que se acrescenta a esses dois partidos...

 
At segunda-feira, junho 16, 2008 10:08:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Valha-me a Nossa Senhora da Alumieira...
Esta gente não sabe lidar com o “abrupto”
Inspirem-se em Mahatma Gandhi, ou como sugeriu o anónimo acima, no Brecht.
Cada um à sua maneira lutava contra a brutalidade com a arma do amor...
Preferi o segundo, não foi por nada de especial, mas achei a coisa mais tenra.

Aulas de amor
Menina, vai com calma
Mais sedução nesse grasne:
Carnalmente eu amo a alma
E com alma eu amo a carne.
Faminto, me queria eu cheio
Não morra o cio com pudor
Amo virtude com traseiro
E no traseiro virtude pôr.

Muita menina sentiu perigo
Desde que o deus no cisne entrou
Foi com gosto ela ao castigo:
O canto do cisne ele não perdoou.

Bertold Brecht

 

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