segunda-feira, junho 09, 2008

INCIDENTE PAR(A)LAMENTAR

A reunião decorria. Morna!

A bancada da Câmara desfalcada. Certamente para providenciar os pedidos de documentos da Inspecção de Finanças que, nesse dia, iniciara uma auditoria financeira à Câmara, comentavam alguns.

Debatia-se o Sistema Nacional de Saúde no Concelho de Aveiro.

O Sr. António Regala introduzira o tema e o Dr. António Rodrigues dissertava sobre as virtudes da medicina preventiva e da importância das medidas que a Câmara Municipal de Aveiro deveria implementar para diminuir os riscos de doenças e acidentes e, assim, evitar a medicina curativa.

Reconfortado de uma árdua (e longa) jornada de trabalho por um jacuzzi retemperador, totalmente descontraído e satisfeito com o que, até então, nesse dia me tinha acontecido, fazia uns acertos de última hora na intervenção que pretendia fazer sobre a matéria em discussão, para que me tinha inscrito.

Entretanto é aceite pela Mesa e começa a ser discutida uma proposta apresentada pelo Grupo Municipal do Partido Social Democrata.

Constatando a ilegalidade regimental do facto, largo a minha modorra e faço, aliás sem grande convicção de ser atendido como é costume, um ponto de ordem à Mesa lendo o ponto nº 5 do art. 19º do Regimento da Assembleia Municipal de Aveiro:

“A discussão e votação de propostas não constantes da ordem do dia das reuniões ordinárias, depende de deliberação tomada por, pelo menos dois terços do número legal dos seus membros, que reconheça a urgência de deliberação sobre o assunto”.

Da parte da Presidência da Mesa, como já previa, nada! Prosseguiu os trabalhos sem proceder à necessária votação. Apenas um nervoso afastar do cabelo da frente dos olhos, acusando o toque, e um olhar faiscante quando indiquei que este meu ponto de ordem deveria constar da acta da reunião.

Voltei aos retoques na minha intervenção.

De repente oiço o matraquear apressado duns saltos altos a vir na minha direcção.

Olho e vejo a Dra. Regina Bastos, a encolher-se para passar por detrás das costas dos deputados do BE e PCP e do meu camarada Dr. João Pedroso para chegar à minha frente.

Aí chegada de uma forma desabrida e insolente, invectivou-me por ter exigido o cumprimento do regimento, acusando-me de, por isso, estar a prejudicar uma proposta que iria ser discutida no ponto da ordem de trabalhos seguinte (alteração ao listel do Brasão de Aveiro) que também não constava da ordem do dia. Tudo isto numa pose e num tom agressivo verdadeiramente intolerável.

Como os colegas de bancada que se sentam ao meu lado podem testemunhar aguardei que terminasse de falar e, quando me preparava para responder à referida Sra., numa inaudita e inadmissível atitude voltou-me ostensivamente as costas.

Não pude refrear a minha indignação e, mesmo antes da Dra. Regina Bastos ter conseguido chegar às escadas laterais do hemiciclo, lhe verberei o seu inaceitável acto de má-criação chamando-lhe mal-educada.

Facto de que não me orgulho porque assim me coloquei ao seu nível. Nível a que eu tinha jurado nunca descer.

Mas, como quem não se sente não é filho de boa gente (e eu prezo muito as minhas origens) faltei ao prometido aos meus camaradas. De facto, como hoje é unanimemente reconhecido, o velho axioma cartesiano foi substituído pelo novo postulado “emociono-me logo existo”. E eu não gosto que me faltem ao respeito e, muito menos, me virem as costas. Especialmente a quem não reconheço qualquer autoridade moral para o fazer.

E, não fora a paulatina aproximação da Sra. da Mesa da Assembleia fazer-me lembrar que a Dra. Regina Bastos iria novamente assumir o papel de Presidente da Assembleia que, para a infelicidade de todos os aveirenses, ocupa e muito mais lhe teria para dizer. Até para saber que entre nós quem faz arruaça é tratada como arruaceira e quem não se sabe comportar com dignidade recebe o respectivo troco.

É que, para que saibam, não é a primeira vez que a Dra. Regina Bastos vem à nossa bancada, armada com a sua infinita sapiência, intolerância e arrogância, provocar os deputados municipais do PS.

Já o fez à Dra. Ana Maria Seiça Neves a quem a esmerada educação cortou a resposta. Já o fez ao Dr. Pires da Rosa que, face ao desaforo, vi educadamente balbuciar “Ó Dra. Regina vou fazer de conta que não ouvi”.

Está claro que a referida Sra., useira e vezeira nestas andanças, quando alguém lhe respondeu à letra, imediatamente se refugiou nos seus galões de Presidente da Assembleia (cargo que obviamente não pode utilizar para andar a subir as bancadas e insultar os deputados da oposição) e aqui D’el-rei que a Assembleia Municipal de Aveiro foi insultada etc., etc. (o costume) e, como já nos habituou, chamou os líderes de bancada "à salinha" onde assumindo a costumeira pose de madona ofendida, exigiu um desagravo.

Coisa que o Dr. Carlos Candal, que não assistiu ao que se passou porque, a ter assistido, estou certo não o faria, na sua infinita paciência, cavalheirismo e tolerância se propôs a fazer propondo assumir o “excesso” em nome da bancada. Só que quem deveria pedir desculpas pelo acontecido deveria ser, em primeiro lugar, a Dra. Regina Bastos que se veio meter e vituperar quem estava bem sossegado.

Frustrados os seus intentos a Sra. não deixaria de espezinhar o Dr. Carlos Candal que lhe devia merecer outra consideração. Depois uns deputados do PP e PSD mais falhos de bom-senso e princípios democráticos não deixaram de enfatizar a "grave ofensa" por mim cometida enquanto, mais uma vez, me foi cortada a palavra quando pretendia explicar à Assembleia aquilo que se passou.

Sobre estas continuadas atitudes anti-democráticas tive ocasião de me pronunciar no discurso que, no ponto seguinte da ordem de trabalhos, fiz e que abaixo publiquei.

No entanto a reunião não terminaria sem que a Sra. Presidente cometesse mais um atropelo ao Regimento que, recordemos, foi por si proposto e aprovado com os votos da bancada da maioria.

Pretendendo preterir o último ponto da Ordem de Trabalhos para a próxima sessão ordinária levou o assunto a votação. Votação na qual me abstive. Após algumas considerações menos abonatórias sobre o teor da minha posição fez repetir a votação que teve o mesmo resultado. Aprovada sem votos contra.

Então, demonstrando o seu total desrespeito pelo regimento, fez continuar os trabalhos lançando sobre os meus ombros o ónus da continuidade da reunião, noite fora.

Não vos quero maçar mais com este assunto, pois ensinaram-me a não gastar cera com maus defuntos, mas gostaria de vos deixar com aquilo que o regimento prescreve no nº 3 do seu art. 19º:

“A ordem do dia não pode ser preterida nem interrompida, a não ser nos casos expressamente previstos no regimento, ou por deliberação da assembleia, sem votos contra”.

Palavras para quê?


Notícia no DA aqui.

11 Comments:

At segunda-feira, junho 09, 2008 11:57:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Com a pior Presidente da Assembleia e Câmara de Aveiro que há memória, não hà paz, progresso e democracia em Aveiro.

 
At segunda-feira, junho 09, 2008 1:54:00 PM, Anonymous Anônimo said...

E uma moção de censura à Mesa da Assembleia Municipal de de Aveiro; sim è Mesa e não à presidente; os restantes membros da Mesa também têm responsabilidades.

È que assim, cai a Mesa, novas eleições, fica o orgão em gestão administrativa, serve perfeitamente à câmara para aprovar o que ainda falta até ao fim do mandato, e evitava-se um mal maior, o de Aveiro estar devido entre uma geurrinha de competencias e incompetencias, e a falta de desenvolvimento e captação de investimento, coisa que prolifera nos concelhos limitrofes menos em Aveiro.
E por outro lado, já chega de intretenimento à base de politica local, para que não há nada mais para fazer, ou que Aveiro está num estado de graça que se pode permitir andar a brincar aos presidentes e presidentas...
Moção de Censura Já! A bem de Aveiro.

 
At segunda-feira, junho 09, 2008 7:12:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Pois, lembrei-me agora da questão da maioria, que coloca a moção de censura em saco roto, e não passa de um acto de masturbação, como já lhe ouvi chamar, a proposito da moção do CDS apresentada ao Governo...
Fica a ideia!

 
At quarta-feira, junho 11, 2008 10:57:00 AM, Blogger RM said...

Caros amigos
Estou há quase uma semana sem net. Julguei que era do computador. Mas o malandro quando se viu na softnova desatou a trabalhar como nunca lhe tinha visto. Arribado a casa negou-se, outra vez, a cumprir a sua missão. Deve ser dos ares do mar. Se calhar o problema é da ligação da Vodafone. Logo verei.
Até lá. Com as minhas desculpas.

Raul Martins

 
At quarta-feira, junho 11, 2008 11:17:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Era mais um feito para a/e Presidentes, cometerem mais um acto histórico para Aveiro, agora na Assembleia.

Coitados, assim aconteceu outro acto histórico nas celebrações do dia 10 de Junho, na promessa de um novo monumento ao Soldado Desconhecido, na Avenida,
que deveriam ter vergonha e respeito por aqueles que tombaram em defesa da Pátria, na limpeza higiénica que o Monumento merece, principalmente neste dia comemorativo.

Enfim, é a Câmara que temos.

 
At quarta-feira, junho 11, 2008 11:30:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Caro Dr Raul Martins,

Só para testemunhar que tudo o que escreve sobre tal incidente corresponde, rigorosamente, à verdade dos factos.

 
At quarta-feira, junho 11, 2008 11:33:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Caro Dr. Troque por favor o nome de Armando Regala, por António Regala que é o representante do PCP na AM de Aveiro, não vá o leitor confundir-se.

 
At quarta-feira, junho 11, 2008 1:48:00 PM, Blogger RM said...

Caro anónimo,

Obrigado pelo aviso. Esta cabeça já não é o que era. Então não é que fui trocar o nome ao meu velho companheiro de escola. Velho e(também) honrado amigo. Com um invejável percurso de vida e luta contra a ditadura, a opressão e a prepotência. De quem eu aliás ainda recentemente falei na AM. Só é pena que seja do PCP.
Mas se não mudou até agora é certo que já não vai mudar que as pessoas da idade dele são muito teimosas.

Caro Pires da Rosa,

Obrigado por confirmar o meu relato. Mas quem me conhece sabe que eu nunca minto (pelo menos deliberadamente). Mesmo quando a verdade me é desagradável. Quando não posso falar verdade faço como as honradas gentes do mar me ensinaram: Calo a ronca.
Nota: O Dr. Pires da Rosa, que já foi vítima de um caso similar, para quem não saiba senta-se ao meu lado direito no hemiciclo donde amiúde me honra com os seus atinados conselhos.

Abraço
Raul Martins

 
At quinta-feira, junho 12, 2008 1:03:00 AM, Blogger ZÉ FAGOTE said...

No tempo em que não “havia” violência doméstica o que as crianças mais temiam quando se portavam mal, era levar das mães duas palmadas no “cu extremo”, como então se dizia e fazia.
Aquilo, para quem respeitava o fundo das costas, era uma vergonha, não pela dor em si, mas pelo vexame.
É que, um cu, ao léu, é sempre um cu ao léu, seja ele como for, e de quem for.
Passados uns anitos, tudo mudou, Graças a Deus.
Hoje, felizmente, já se combate a violência doméstica em todas as suas vertentes.
Essas funções, até deveriam ser atinentes à ASAE.
Mas enquanto a ASAE não toma conta do “pelouro” diga-me lá se muitas vezes não sabia bem chegar junto de certas criaturas arrevesadas, tirar-lhe as calças, ou levantar-lhes as saias, e enfiar-lhe duas palmadas naqueles “cus extremos”.
Para grandes males, grandes remédios...mas isso era quando não “havia” violência doméstica!

 
At quinta-feira, junho 12, 2008 2:44:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Doutor, o senhor que é um génio das finanças (ok, ok, é apenas muito bom em finanças), diga-me uma coisa se souber: Como é que a CMA compatibiliza o plano de saneamento financeiro que apresentou ao Tribunal de Contas com este anúncio de 21 milhões de euros de financiamento comunitário? (então a comparticipação camarária para esses milhões?)
Ou a CMA aldrabou no plano ou aldrabou neste anúncio. Ou nos dois!
Fico à espera dos seus sempre sábios ensinamentos.
Quanto ao mais, não ligue: é loura!

 
At quinta-feira, junho 12, 2008 4:26:00 PM, Blogger RM said...

Caro Zé Fagote

Que violento que o menino anda hoje! Com que então umas palmadinhas no "cu extremo" (ou extremoso?). Não queria o menino mais nada. E, ainda por cima com essas manápulas de jogador de baskete. Deixe-se dessas coisas senão ainda chamo a proctolecção, perdão a protecção civil, que só de o ler me dá arrepios.
Tome um Xanax que isso passa-lhe.


Caro anónimo,

Até que enfim que aparece por aqui alguém conhecedor das minhas vastas qualidades. E pode-me chamar génio que eu não me ofendo (mas sei que há por aí alguns génios e cientistas que vão ficar ofendidos). Aliás já por aqui (e por outros lados também) me têm chamado tudo. E eu só fico verdadeiramente chateado quando me chamam... tarde para jantar.

Quanto ao assunto que coloca da compatiblização do pretenso plano de saneamento financeiro e das comparticipações da Câmara nos investimentos comparticipados pelo QREN não ligue. São Loiros!

Cumprimentos,
Raul Martins

 

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