sábado, março 17, 2007

De Espanha nem bom vento…

Recordo-me de, menino e moço, ouvir o meu professor de História apelidar o Rei D. João VI, de bondoso e “clemente” mas também de indolente, timorato e indeciso, um jovem príncipe que assumiu o poder mal preparado para o seu exercício, mais sensível aos prazeres da mesa do que aos prazeres femininos, que, sucessivamente e contra sua vontade, foi transformado em regente do reino (pela interdição que a loucura de sua mãe ditou) e, por morte desta, em Rei.

D. João VI teve o seu casamento arranjado com D. Carlota Joaquina Teresa Cayetana de Borbón y Borbón, quando esta tinha apenas 10 anos de idade, coisa que as leis republicanas de hoje levariam a que qualquer dos intervenientes (noivo inclusive), passasse uma larga temporada no aljube.

Conta-se que esta infanta de Espanha que se transformou em Princesa do Brasil (país que detestava e achava de negros e macacos cuja terra nem nos sapatos queria), e Rainha de Portugal, lhe teria roído uma orelha na noite nupcial quando o marido, que achava horroroso, “pretendeu exercer os seus direitos” e "consumar" o casamento.

Esta D. Carlota Joaquina segundo consta era feia e marcada pela varíola, mal-humorada, ambiciosa, violenta e, sobretudo, ninfomaníaca. Daí a longa vida do casal ter sido marcada pelas suas traições conjugais.

Tiveram 9 filhos mas os cronistas hesitam em dizer quantos eram realmente filhos do casal real sendo que se afirma que, depois de 1801, nenhum era filho do Rei.

Assim se passou grande parte do reinado em que a “Megera de Queluz” ia acasalando com quantos homens escolhia, enquanto o seu marido, conformado à sua sorte, desfiava as suas desditas em parcas aventuras amorosas e ia agraciando, com comendas e honrarias, os mais notáveis amantes da Rainha, interessante costume deste Rei e deste Reino de brandos costumes.

Todas estas recordações me vieram à memória quando, ao clicar num link do Diário de Aveiro, deparei com o site da Real Casa de Portugal e li:

“ O erário público pagava a um apontador para apontar as datas do acasalamento real, mas ele tinha pouco trabalho. Isso não impedia D. Carlota Joaquina de ter filhos com regularidade e, ao mesmo tempo advogar inocência e dizer que era fiel a D. João VI, gerando assim filhos da imaculada Conceição.No caso de D. Miguel, havia cerca de 2 anos que D. João VI não acasalava com a sua mãe. Mas uma coisa é saber-se que não era o pai, outra é dizer quem era o pai, porque D. Carlota Joaquina, não era fiel nem ao marido nem aos amantes”.

Fiquei impressionado com este ofício de apontador que embora, no caso, pouco trabalhoso, deve ser bem interessante e exigir alta especialização para que possam ser expurgados os "actos falhados" ou "fingidos" dos realmente "consumados". E não sei quais são os verdadeiros intuitos deste site, mas acho particularmente curioso que haja quem lute pelo reconhecimento de que é descendente deste singular "pater familias" real.

E, se conheço bem Aveiro, penso que ainda vai fazer rebentar alguma borrasca, pois estou certo que vão aparecer muitos aveirenses que, incomodados com estas declarações, não vão deixar impune quem assim pretende macular a paternidade do Senhor D. Miguel.

Ainda bem que sou republicano e socialista!