domingo, março 12, 2006

REENGENHARIA

Sou um profundo defensor da inovação, da criatividade e da mudança nas organizações mas nunca fui grande fã do conceito de reengenharia, que Michael Hammer e James Champy introduziram, no início dos anos 90.

Sempre fui muito mais pela mudança gradual de processos do que pela rotura rápida e pela reinvenção radical, que penso dever ser guardada para alguns casos (muito) drásticos. Penso até que a reengenharia, tão louvada por alguns consultores, foi responsável por muitas empresas caírem na armadilha de fazerem mudanças drásticas de coisas que, ao fim e ao cabo, não precisavam de alteração, apenas de simples melhorias.

Embora o conceito tenha sido esmagado, quase no seu início, pelo Downsizing e, posteriormente, pela atenção dada à Nova Economia, continuou a ter um importante grupo de seguidores e a actual crise parece querer fazê-lo renascer das cinzas. Daí o aparecimento do mais recente livro de Hammer The Agenda: What Every Business Must Do To Dominate The Decade, ao mesmo tempo que Champy lançou X-Engineering The Corporation, onde reclama a "reinvenção" da reengenharia no quadro do mundo digital de hoje.

Meus amigos. A reengenharia está de volta e, portanto, convém relembrar histórias antigas, antes que se voltem a cometer os mesmos erros.

Aqui vai uma muito conhecida, ao jeito de fábula, que, pensamos, pode servir para esclarecer algumas mentes menos atentas
.

Duas pulgas que viviam no pêlo de um cachorro em contínuo terror de serem trucidadas pela patorra do bicho que as procurava esmagar sempre que elas, para se alimentarem, sugavam o sangue do canídeo, comentavam uma para a outra:

- Sabes qual é o nosso problema? Nós não voamos, só sabemos saltar. Daí nossa hipótese de sobrevivência ser tão baixa. É por isso que existem muito mais moscas do que pulgas.

E então decidiram contratar, como consultora, uma mosca, que as levou a tirar o brevet de voo. Quando já voavam a primeira pulga disse para a segunda:

- Se calhar saber voar não é o suficiente, porque temos um tempo de reacção muito longo, demoramos muito tempo a levantar voo e a pata do cachorro é rápida. Temos de aprender a fazer como as abelhas, que sugam o néctar e, rapidamente, levantam voo.

Então contrataram o serviço de consultoria de uma abelha, que lhes ensinou a técnica de levantar voo rapidamente. Funcionou, mas não resolveu. A primeira pulga fazendo a análise da situação explicava:

- A nossa bolsa de armazenamento de sangue é muito pequena e por isso temos de pousar muitas vezes para sugar o sangue necessário. Escapar, a gente até escapa, mas não nos estamos a alimentar bem. Temos de resolver este problema.

E então contrataram um mosquito que lhes prestou uma consultoria para incrementar o tamanho dos seus abdomens.

O caso ficou resolvido mas por pouco tempo. Como tinham ficado maiores, o cachorro apercebia-se facilmente da sua chegada e espantava-as mesmo antes de elas pousarem. Foi então que encontraram uma pulguinha saltitante:

- Ena pá! Vocês estão enormes! Fizeram alguma operação plástica?

- Não, fizemos reengenharia. Agora somos pulgas adaptadas aos desafios do século XXI. Voamos, picamos e podemos armazenar mais alimento.

- E por que é que estão com essa cara de fome?

- Isso é temporário. Já estamos a fazer consultoria com um morcego, que nos está a ensinar a técnica do sonar. E tu como estás?

- Eu vou bem, obrigada. Forte e sadia.

Era verdade. A pulga estava viçosa e bem alimentada. Mas as pulgonas não queriam dar a pata a torcer:

- Mas não estás preocupada com o futuro? Não pensaste em fazer reengenharia?

- Pensei pois! Contratei uma lesma como consultora.

- Mas o que é que as lesmas têm a ver com as pulgas?

- Tudo. Eu tinha o mesmo problema que vocês as duas tinham. Mas, em vez de dizer para a lesma o que queria, deixei que ela avaliasse a situação e me desse a sua opinião. A lesma passou três dias, quietinha, a observar o cachorro e então deu-me a solução.

- E qual foi a solução?

- "Não mudes nada. Passa é a viver no cocuruto da cabeça do cachorro. É o único lugar que a pata dele não alcança".

3 Comments:

At terça-feira, março 14, 2006 12:57:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Este é o drama dos economistas. Os engenheiros e a engenharia é fazer bem ao mais baixo custo. Os economistas como falham continuadamente e normalmente sem responsabilidades, arranjam sempre desculpas: conjuntura externa, causas endogenas, entropias... recorrem com facilidade à reengenahria, ou melhor, fazem várias engenharias financeiras e como normalmente a maior parte para quem são feitas estes analises não tem capacidade de estudos, cometem-se erros sucessivos. Se por analogia comparassemos os erros produzidos pelos economistas com a engenharia civil metadade dos edificios do país tinha entrado em rotura. Façam engenharia não reengenhem.
Engenheiro.

 
At quarta-feira, março 15, 2006 9:14:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Este engenheiro é o máximo! Onde terá estudado?

 
At sexta-feira, março 17, 2006 12:27:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Em parte é verdade.

Caro Dr. obrigado por voltar aos artigos de gestão. Continue!

 

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