REENGENHARIA

Sempre fui muito mais pela mudança gradual de processos do que pela rotura rápida e pela reinvenção radical, que penso dever ser guardada para alguns casos (muito) drásticos. Penso até que a reengenharia, tão louvada por alguns consultores, foi responsável por muitas empresas caírem na armadilha de fazerem mudanças drásticas de coisas que, ao fim e ao cabo, não precisavam de alteração, apenas de simples melhorias.
Embora o conceito tenha sido esmagado, quase no seu início, pelo Downsizing e, posteriormente, pela atenção dada à Nova Economia, continuou a ter um importante grupo de seguidores e a actual crise parece querer fazê-lo renascer das cinzas. Daí o aparecimento do mais recente livro de Hammer The Agenda: What Every Business Must Do To Dominate The Decade, ao mesmo tempo que Champy lançou X-Engineering The Corporation, onde reclama a "reinvenção" da reengenharia no quadro do mundo digital de hoje.
Meus amigos. A reengenharia está de volta e, portanto, convém relembrar histórias antigas, antes que se voltem a cometer os mesmos erros.
Aqui vai uma muito conhecida, ao jeito de fábula, que, pensamos, pode servir para esclarecer algumas mentes menos atentas.
Duas pulgas que viviam no pêlo de um cachorro em contínuo terror de serem trucidadas pela patorra do bicho que as procurava esmagar sempre que elas, para se alimentarem, sugavam o sangue do canídeo, comentavam uma para a outra:
- Sabes qual é o nosso problema? Nós não voamos, só sabemos saltar. Daí nossa hipótese de sobrevivência ser tão baixa. É por isso que existem muito mais moscas do que pulgas.
E então decidiram contratar, como consultora, uma mosca, que as levou a tirar o brevet de voo. Quando já voavam a primeira pulga disse para a segunda:
- Se calhar saber voar não é o suficiente, porque temos um tempo de reacção muito longo, demoramos muito tempo a levantar voo e a pata do cachorro é rápida. Temos de aprender a fazer como as abelhas, que sugam o néctar e, rapidamente, levantam voo.
Então contrataram o serviço de consultoria de uma abelha, que lhes ensinou a técnica de levantar voo rapidamente. Funcionou, mas não resolveu. A primeira pulga fazendo a análise da situação explicava:
- A nossa bolsa de armazenamento de sangue é muito pequena e por isso temos de pousar muitas vezes para sugar o sangue necessário. Escapar, a gente até escapa, mas não nos estamos a alimentar bem. Temos de resolver este problema.
E então contrataram um mosquito que lhes prestou uma consultoria para incrementar o tamanho dos seus abdomens.
O caso ficou resolvido mas por pouco tempo. Como tinham ficado maiores, o cachorro apercebia-se facilmente da sua chegada e espantava-as mesmo antes de elas pousarem. Foi então que encontraram uma pulguinha saltitante:
- Ena pá! Vocês estão enormes! Fizeram alguma operação plástica?
- Não, fizemos reengenharia. Agora somos pulgas adaptadas aos desafios do século XXI. Voamos, picamos e podemos armazenar mais alimento.
- E por que é que estão com essa cara de fome?
- Isso é temporário. Já estamos a fazer consultoria com um morcego, que nos está a ensinar a técnica do sonar. E tu como estás?
- Eu vou bem, obrigada. Forte e sadia.
Era verdade. A pulga estava viçosa e bem alimentada. Mas as pulgonas não queriam dar a pata a torcer:
- Mas não estás preocupada com o futuro? Não pensaste em fazer reengenharia?
- Pensei pois! Contratei uma lesma como consultora.
- Mas o que é que as lesmas têm a ver com as pulgas?
- Tudo. Eu tinha o mesmo problema que vocês as duas tinham. Mas, em vez de dizer para a lesma o que queria, deixei que ela avaliasse a situação e me desse a sua opinião. A lesma passou três dias, quietinha, a observar o cachorro e então deu-me a solução.
- E qual foi a solução?
- "Não mudes nada. Passa é a viver no cocuruto da cabeça do cachorro. É o único lugar que a pata dele não alcança".
3 Comments:
Este é o drama dos economistas. Os engenheiros e a engenharia é fazer bem ao mais baixo custo. Os economistas como falham continuadamente e normalmente sem responsabilidades, arranjam sempre desculpas: conjuntura externa, causas endogenas, entropias... recorrem com facilidade à reengenahria, ou melhor, fazem várias engenharias financeiras e como normalmente a maior parte para quem são feitas estes analises não tem capacidade de estudos, cometem-se erros sucessivos. Se por analogia comparassemos os erros produzidos pelos economistas com a engenharia civil metadade dos edificios do país tinha entrado em rotura. Façam engenharia não reengenhem.
Engenheiro.
Este engenheiro é o máximo! Onde terá estudado?
Em parte é verdade.
Caro Dr. obrigado por voltar aos artigos de gestão. Continue!
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