domingo, julho 05, 2009

In illo tempore – Aveirenses



De presença varonil, de trato rude e franco, de conversação imaginosa e fluente, o aveirense contrasta singularmente com os outros povos da sua provincia.

Não ha n’elles essa docilidade humilde que em geral se encontra no povo portuguez, nem aquelle ar timido e acanhado dos homens de uma condição inferior, que infelizmente ainda se observa na gente do nosso povo, quando trata com os nobres, ou com outros individuos collocados em uma posição mais feliz, ou mais elevada.

O aveirense geralmente tem o sentimento da igualdade dos homens profundamente arraigado no coração; e por isso um pescador de Aveiro quando falla com o mais elevado funccionario do seu paiz trata-o sempre de igual a igual.

Nas mulheres apparece esta feição moral ainda mais pronunciada. – Uma varina não conhece outra distinção entre as pessoas do seu sexo senão a de belleza. – E ellas são geralmente bellas; e até se afirma que as varinas de Aveiro e Ovar, são quem vingam a reputação de menos formosas, que dizem ter as mulheres portuguezas.

Perfeitamente a vontade no seu garboso e elegantíssimo trajo, a varina tem movimentos naturaes e graciosos, quando falla, quando anda, e quando baila nas danças de roda, acompanhadas do cantar poetico da sua voz argentina.

O corpete de côres variadas, que vestem e atacam com cordões de seda, sobre uma camisa de homem, desenhando-lhes a cinta estreita, e as fórmas flexiveis e voluptuosas, a saia curta e o sóco mal calçado em pés de neve, cujo tamanho faria morrer de inveja uma andaluza, dão a estas mulheres um aspecto por tal fórma original, que a felicidade, o prazer e a malicia que se lhes lê nos olhos, sempre escuros, atrahe os sentidos e sobresalta o coração.

Jacintho Augusto de Freitas Oliveira, 1863, José Estêvão – Esboço Histórico

4 Comments:

At domingo, julho 05, 2009 8:54:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Isso era antigamente. Agora até cortaram a proa aos moliceiros

 
At segunda-feira, julho 06, 2009 2:32:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Nada como viver de esboços históricos, porque os de hoje não são como os de ontem e nem para lá caminham... hoje é cada um por si, e em conjunto muito pouco ou nada valem. E veja-se para o efeito, a dimensão dos ultimos 10 anos; a perdida claro.

 
At segunda-feira, julho 06, 2009 9:22:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Ao tempo que não há disso em Aveiro. Vivemos no meio de fingidos e de feiosas

 
At terça-feira, julho 07, 2009 12:15:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Pena é que Aveiro caminhe para Ilhavo e não o contrário.

 

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