domingo, janeiro 11, 2009

Será só mau-hálito?

Na última Assembleia Municipal, com aquele ar de superioridade intelectual de "jovem zecutivo” omnisciente que o Dr. Pedro Ferreira, às vezes, ostenta, quando inquirido (por duas vezes) em que foram aplicados os 36 milhões de euros (do empréstimo dos 58 milhões) já utilizados (dado que a informação do Presidente não era clara nesse aspecto), enfadadamente, lá respondeu que tinham sido aplicados priritariamente no pagamento do factoring, juntas de freguesia, associações e fornecedores da Câmara com dívidas inferiores a 5.000 euros. Riu-se quando lhe pedi para confirmar as prioridades seguidas e rematou paternalistamente “como aliás está escrito na informação”.

Apanhou-me em falso, que não gosto de falar de coisas de que não tenho a certeza, pois não me lembrava de ter lido qualquer referência relativamente ao pagamento prioritário do factoring na comunicação do Sr. Presidente.

Fui novamente verificar se a minha memória me tinha traído. Mas não. Na comunicação não consta, de facto, nenhuma referência ao pagamento do factoring, muito menos prioritário. O que consta é que já estaria em curso o processo de pagamento das dívidas às Juntas de Freguesia, às associações e aos fornecedores, embora entre os dias 1 de Setembro e 30 de Novembro de 2008, intervalo de tempo a que reporta a comunicação não seja, aparentemente, relevado contabilisticamente qualquer pagamento (vd. pág. 1 da comunicação).

O que realmente encontrei num melífluo parágrafo da página 31 do referido documento é que “a contratação do empréstimo liberta a Câmara do pagamento de juros altíssimos que se estavam a pagar, por exemplo, entre outros, pelo “lease-back” dos terrenos do Plano de Pormenor do Centro”. Ora, o empréstimo não pode ser utilizado no pagamento do “lease-back” como, aparentemente, se pode deduzir desta “prosa”.

Mas, se calhar, era a esta afirmação errada e enganadora que o Dr. Pedro Ferreira se estava a referir. Mas, quem contrai um empréstimo de 58 milhões de euros a 12 anos (com 3 de carência nos quais que só paga juros) optando por uma taxa fixa de 5,9% ao invés de ter optado pela taxa euribor a 3 meses (actualmente inferior a 2,7%) adicionada de um pouco menos de 0,64% de encargos sem, ao que sabemos, ter salvaguardado a possibilidade de se verificarem “alterações substanciais nos Mercados Financeiros das quais resulte um claro prejuízo do Município” conforme lhe havia sido recomendado pelo Departamento Económico Financeiro da Câmara Municipal (Inf. Final n.º 206/DEF/10-2008 de 9/10/2008, pág. 3), é bem capaz de confundir factoring com lease-back.

Também não conseguimos descortinar a lógica da Câmara não ter pago as dívidas aos médios fornecedores, normalmente pequenas empresas a quem, em alturas de fim de ano, tanto jeito daria receber a dívida há tanto tempo reclamada. Porque é que não foram feitos esses pagamentos? E porque é que, mesmo assim, não se utilizou a totalidade dos 36 milhões recebidos, tendo transitando 4,5 milhões em caixa para 2009.

A explicação dada obviamente que não nos satisfez. Nem nos satisfaz! Porque é que não foi utilizada uma maior parcela do empréstimo e porque é que a utilização não foi feita mais cedo para, pelo menos as pequenas empresas da região, poderem receber os seus créditos nesta difícil quadra de pagamentos de subsídios de Natal? Será só incompetência e insensibilidade?

Somos de opinião que um gestor consciente e socialmente responsável, sabendo que a CGD iria transferir para a sua conta uma tranche com data-valor anterior a 31/12, nunca iria festejar a entrada do novo ano sem ter emitido (e distribuído nem que para isso fosse necessário fazê-lo pessoalmente) os cheques correspondentes. Mas isso são coisas de que os tecnocratas de hoje zombam e provocam contidos sorrisos aos "jovens zecutivos”. Que em vez de fazerem sacrifícios preferem legar aos vindouros a solução do problema herdado. Problema agora engordado com os seus erros e egoísmos politiqueiros.

Finalmente gostaria de partilhar convosco, a minha crescente convicção que, com a experiência, os gestores desenvolvem ao longo do seu percurso profissional um sentido que lhes é fundamental. O "cheirómetro". Um sentido que, mesmo num quadro de inexistência de factos concretos e ausência de informação correcta, lhes fornece muitas vezes a difusa sensação do que se passa e estará para acontecer. Sensação que, na maior parte das vezes se vem a verificar correcta e os factos acabarão por confirmar. E querem crer uma coisa? Este processo não me está a cheirar nada bem.

Oxalá me engane e seja apenas mau-hálito. Que isso tem cura.

1 Comments:

At terça-feira, janeiro 13, 2009 11:43:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Caro DR.
Não é mau-hálito. É pé-de-atleta.

 

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