quarta-feira, outubro 17, 2007

Como avalia o memorando de entendimento que visa regular a relação entre o Município e o Beira-Mar?

Em Portugal existe uma atávica relação de promiscuidade entre a política e o futebol. Na mira de se apropriarem da notoriedade que este oferece, alguns políticos procuram, de forma mais ou menos velada, contornar o impedimento legal da atribuição de subsídios ao futebol profissional, alimentando os seus faraónicos orçamentos e os seus, normalmente deficitários, resultados de exploração, na esperança de repartirem o fulgor público de eventuais sucessos desportivos.

Embora reconheçamos o importante papel que os Clubes de Futebol podem realizar na nossa sociedade, entendemos que a política não pode ser refém do futebol e ansiamos pelo dia em que o poder político se afirme e o coloque no mesmo plano dos outros sectores e que, na atribuição de apoios ao futebol, se passem a utilizar critérios de rigor, transparência, equidade e respeito pelos dinheiros dos contribuintes, idênticos aos que devem ser aplicados aos sectores social, cultural e económico.

Ao pretender resolver todos os problemas em aberto e, simultaneamente, definir o futuro da relação entre a autarquia, a EMA e o Beira-Mar, o “memorando de entendimento” espelha, de forma exemplar, o “modus operandi” a que este executivo nos habituou. Confrontado com a necessidade de tomar uma decisão incómoda, o Dr. Élio Maia, primeiro evita-a, depois adia-a até ao limite e, quando já não lhe é possível justificar o adiamento por mais tempo, propõe a imediata votação de um acordo de contornos pouco claros, na ânsia da oposição o “chumbar” e, assim, poder lançar sobre ela as culpas da não resolução do problema.

Esperamos que com a aprovação do ”memorando” a maioria apresente, rapidamente, uma proposta que ofereça uma solução que permita resolver, de forma clara e transparente esta questão, proposta que deve ser discutida e votada em reunião camarária a que a maioria forneça quórum. E como é impossível solver a razão invocada pelo Dr. Capão Filipe para se ausentar da última reunião, terá de ser resolvida previamente a situação do Dr. Caetano Alves, simultaneamente vereador e dirigente do Beira-Mar, para que a reunião obtenha esse pré-requisito deliberativo essencial.

Gostaríamos, no entanto, de fornecer alguns contributos que consideramos essenciais, para a elaboração da solução:

1- A proposta deve conter o apuramento e quantificação de todas as dívidas da EMA e da CMA (que deverão ser rapidamente pagas apesar dos constrangimentos financeiros existentes), bem como a quantificação de todos os direitos existentes.

2- Não deverá, em princípio, prever pagamentos ou acertos de contas em valores patrimoniais e, se tal acontecer, estes deverão ser previamente avaliados por entidade externa idónea.

3- Deverão ser evitados ónus sobre o Estádio (e a EMA) que possam impedir ou limitar a sua possível integração no PDA.

4- Relativamente à ocupação do estádio pelo Beira-Mar, deverá ser elaborado um protocolo de gestão especificando as obrigações e direitos das partes e, na eventualidade da Câmara ter de comparticipar em algumas despesas, deve discriminar integralmente a razão desses valores, demonstrando que não escondem qualquer subsídio encapotado ao futebol profissional.

Publicado no DA, 17/10/2007

12 Comments:

At quarta-feira, outubro 17, 2007 5:38:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Finalmente alguem que põe o dedo na ferida e diz que o Rei vai nu. O Caetano Alves tem de assumir e demitir-se. Força Raul
NB

 
At quarta-feira, outubro 17, 2007 11:42:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Já não ficamos admirados. Há quem comente a maneira como foi constituída a Sociedade AveiroBasket. Alguns credores pressionaram para poder receber "algum" que tinham lá metido. São sempre os mesmos! A História repete-se... Quanto ao Protocolo, achamos que deve ser deliberado por toda a Câmara (9). Todos têm que ficar comprometidos. E esta da Rota da Luz não querer pagar a Jantarada em Espanha???

 
At quarta-feira, outubro 17, 2007 11:52:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Dr. Raul Martins,
As propostas, ou seja a substancia e é sobre ela que me quero pronunciar, parecem refletir apenas os interesses de uma das partes. É bom não esquecer que a Camara tem que negociar com o Beira Mar com base num pressuposto muito importante: quatro(?) protocolos em vigor.
Concordo em absoluto com o primeiro ponto, duvido que o Beira Mar aceite o terceiro.
Se conseguir obter mais informação, prometo que voltarei ao comentário.
Cumprimentos.
Borges Coutinho

 
At quinta-feira, outubro 18, 2007 9:46:00 AM, Anonymous Anônimo said...

também a este propósito li num blog sobre o Beira-Mar este comentário "... Neste momento o Beira-Mar clube que atingiu diversos pontos altos não tem património nem nunca terá pois a propalada dívida não existe e os terrenos da piscina não podem ser doados sem contrapartidas aceites e razoáveis aos olhos do Tribunal de Contas que tem de aprovar antecipadamente as operações anunciadas. Mesmo a entrega da gestão do Estádio da EMA ao Beira-Mar tem de ser objecto de um concurso público não podendo ser entregue directamente ao clube. Estamos a falar de verbas comunitárias que foram utilizadas para proveito da comunidade e com a contribuição fiscal da comunidade.
NO CASO DE SER ENTREGUE O ESTÁDIO AO BEIRA-MAR a decisão pode ser facilmente impugnada por qualquer entidade privada ou mesmo pública...". Se quem escreveu tem razão... está tudo dito! andré santos

 
At quinta-feira, outubro 18, 2007 9:47:00 AM, Anonymous Anônimo said...

falta dizer que o blog é o bancada norte e quem escreve assinou carlinhos. Obrigado. André

 
At quinta-feira, outubro 18, 2007 10:28:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Mais uma vês, o Dr. Raúl Martins, vem ensinar e chamar à atenção desta Camara, de tomadas de posição de tamanha incompetencia.

Será que eles nunca abrem os olhos?

 
At sexta-feira, outubro 19, 2007 2:45:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Dêem-lhes dinheiro para o futebol e eles abdicam de tudo ( piscinas, pavilhão ) são encargos que não interessam a ninguém. A câmara que faça a conservação do elefante branco e está tudo resolvido. Dinheiro para pagar aos jogadores e sem encargos e está tudso certo. Mai nada. Prá frente futebol e que se f... o desporto.

 
At sexta-feira, outubro 19, 2007 11:01:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Comentário ao primeiro parágrafo (se o Dr. tiver coragem para o publicar): é claramente dedicado ao anterior presidente e ao seu "acólito menor" (expressão utilizada em AM muito recentemente).

Por dois motivos:

a) só assim se explica terem assinado um protocolo entre a CMA e o "Beira", por 20 anos, a 500.000,00€/ano, isto é, num valor total de 10.000.000,00€. Mais ainda porque esse protocolo estabelece que são cedidas ao clube as áreas desportivas e depois lhes retira uma parte - os camarotes, em contrapartida dos 500.000,00€/ano. Basicamente, arrenda-se uma coisa de que se é proprietário. Curioso, não?

b) Está mais que provado que o Beira Mar, infelizmente, não vai a lado nenhum (ou talvez para a 3ª divisão, se não tiver cuidado). Isso é mais evidente nos últimos 2 anos e portanto a Câmara actual sabe que não vai fazer qualquer tipo de flores com os resultados do clube. Já no "reinado" anterior esta situação não era tão evidente e, portanto, mais propicia a estas situações.

Agora releiam o parágrafo: "Em Portugal existe uma atávica relação de promiscuidade entre a política e o futebol. Na mira de se apropriarem da notoriedade que este oferece, alguns políticos procuram, de forma mais ou menos velada, contornar o impedimento legal da atribuição de subsídios ao futebol profissional, alimentando os seus faraónicos orçamentos e os seus, normalmente deficitários, resultados de exploração, na esperança de repartirem o fulgor público de eventuais sucessos desportivos."

Tenho ou não razão?

Tem coragem de publicar este comentário, Dr. Raúl Martins? Se tiver, outros se lhe seguirão...

 
At domingo, outubro 21, 2007 10:15:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Doutor,

Só lamento o PS ter votado este documento que é a desgraça de uma instituição com mais de 80 anos.
´Saíam como os outros e eles que ficassem com o caixão.

 
At segunda-feira, outubro 22, 2007 12:03:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Comentário ao 2º parágrafo...
Mas afinal, que importante papel é esse que o Beira Mar tem feito por Aveiro? E não teria sido principescamente pago com a cedência das instalações no novo estádio? Era necessário ainda a atribuição de 500.000,00€/ano?

E atenção que não contesto subsídios à formação. Mas gostaria que já tivessem sido aplicadas as novas regras. Claro que é certo e sabido que, a aplicá-las, o "Beira" levava uma bela duma machadada. Tenho quase a certeza que clubes como o Taboeira passavam a receber um apoio financeiro superior. Mas Jorge Greno, como era seu costume, apregoava mais do que fazia. E o novo vereador do desporto? Se o "negócio" do estádio não fosse para a frente, teria coragem de as aplicar?

Uma terceira nota: A CMA dá subsidios a mais. Qualquer gato pingado acha que é obrigação dela subsidiar actividades que não têm sentido, não têm público e, numa grande maior parte dos casos, não têm utilidade nenhuma senão satisfazer o ego de alguns. A CMA não pode ser a principal fonte de financiamento das instituições sociais, desportivas ou culturais do concelho. Esses senhores (do desporto, da cultura e das instituições sociais) andam a obrigar todos os munícipes a suportar financeiramente actividades sem interesse nenhum, numa grande parte dos casos. Não deveria ser essa a função da CMA.

Uma lembrança: Alberto Souto, um belo dia, resolver cancelar subsídios com que se tinha comprometido e que estavam em atraso. Também não concordo com esta postura mas foi um laivo de realismo que na altura teve...

2º Parágrafo: "Embora reconheçamos o importante papel que os Clubes de Futebol podem realizar na nossa sociedade, entendemos que a política não pode ser refém do futebol e ansiamos pelo dia em que o poder político se afirme e o coloque no mesmo plano dos outros sectores e que, na atribuição de apoios ao futebol, se passem a utilizar critérios de rigor, transparência, equidade e respeito pelos dinheiros dos contribuintes, idênticos aos que devem ser aplicados aos sectores social, cultural e económico."

 
At terça-feira, outubro 23, 2007 11:39:00 AM, Anonymous Anônimo said...

3º Parágrafo (e, para comentar este não vai chegar um post...):

"(...) Confrontado com a necessidade de tomar uma decisão incómoda, o Dr. Élio Maia, primeiro evita-a, depois adia-a até ao limite e, quando já não lhe é possível justificar o adiamento por mais tempo, propõe a imediata votação de um acordo de contornos pouco claros, na ânsia da oposição o “chumbar” e, assim, poder lançar sobre ela as culpas da não resolução do problema."

Do que aqui é dito, devo depreender que o PS é contra este memorando mas não quis manifestar-se nesse sentido para não ficar com o ónus de ser acusado de culpado pela não resolução da questão? É que essa atitude é de manifesta cobardia...

Ou, por acaso, o Dr. está a insinuar que o Élio Maia está a propor um acordo com o qual ele próprio não concorda?

Não percebi muito bem o que quer dizer mas penso que compreendo as intenções de Élio Maia - uma solução barata e a contento de todos (já que ninguém, PS incluído, vai ter coragem de manifestar que a principal situação - passagem da gestão do novo estádio para o "Beira", é uma m... de uma solução!

(Continua...)

 
At quinta-feira, outubro 25, 2007 1:02:00 PM, Anonymous Anônimo said...

4º Parágrafo: "Esperamos que com a aprovação do ”memorando” a maioria apresente, rapidamente, uma proposta que ofereça uma solução que permita resolver, de forma clara e transparente esta questão, proposta que deve ser discutida e votada em reunião camarária a que a maioria forneça quórum. E como é impossível solver a razão invocada pelo Dr. Capão Filipe para se ausentar da última reunião, terá de ser resolvida previamente a situação do Dr. Caetano Alves, simultaneamente vereador e dirigente do Beira-Mar, para que a reunião obtenha esse pré-requisito deliberativo essencial."

Mas porquê, Dr? Não poderá a solução vir a ser aprovada pelos vereadores do PS? Ou não querem ser co-responsáveis pela solução? É que, se assim for, o PS perde a vantagem da táctica "dar-lhes corda para se enforcarem", não é? Pois é... Grande dilema...

E será que o Élio Maia vai deixar ficar-se "nas mãos" do PS relativamente a esta matéria? Se verdadeiramente estiver interessado na aprovação de uma solução nos moldes apresentados, não vai deixar isso acontecer, certo? Não me parece o tipo de pessoa que deixe cair uma solução por falta de quorum. E aliás, quem são os grandes interessados na aprovação de uma solução que traga "dinheiro já" para o Beira Mar, de entre todos os vereadores, com ou sem pelouros? No entanto, dada a próximidade do Eng.º Roque com os elementos da bancada socialista na AM (e posterior visita do presidente do BM aos deputados, certamente a conselho dele) faz-nos indiciar que pode haver mais que dois vereadores interessados...

Curioso mesmo é que o "memorando" inicial tenha sido negociado entre o Roque (funcionário da CMA, como já era antes, mentor do anterior protocolo, muito lesivo para os interesses da instituição para a qual trabalha e em representação do "Beira") e pelo Greno (ex-dirigente do BM, que, diga-se, teve algum bom senso ao afastar-se formalmente do clube, ao contrário do seu sucessor).

 

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