Histórias com (alguma) moral – Prestar atenção

O ainda jovem emigrante sentia-se um vencedor. Com muita sorte, alguma argúcia e uma mão cheia de pouco escrupulosos negócios, tinha conseguido enriquecer rapidamente. Tão rapidamente que o seu feito só muito recentemente foi batido (e por um seu conterrâneo de Aguiar da Beira, diga-se em abono da verdade).
Faltava-lhe o reconhecimento do seu sucesso pelo seu honrado pai, velho Beirão de rija cepa, que sempre suspeitara de tão rápida fortuna.
O filho bem lhe gabava as oportunidades que tinha encontrado no ubérrimo Brasil onde arribara. Mas o velhote habituado a tratar das vinhas e a esperar muitos verões até as cepas produzirem touriga que desse rendimento de jeito, desconfiava.
Em desespero de causa o filho dizia-lhe, nas cartas que de longe a longe lhe escrevia, que no Brasil corriam rios de leite e mel e que o pão crescia das árvores. Olhe pai, por cá até há animais que falam, contou-lhe um dia.
Encheu-se de brios o nosso emigrante perante o encolher de ombros do pai. E, despeitado, decidiu comprar o mais palrador dos papagaios que havia no Nordeste e enviá-lo para a sua vila natal.
Custou-lhe uma nota preta mas valeu a pena. O bicho falava pelos cotovelos emplumados. Agora só era preciso mandá-lo ao vapor da carreira para ser entregue ao seu pai.
Em má hora o fez pois o marinheiro que ficou responsável pela encomenda era bem mais amante da cachaça do que de descer as escadas do porão para dar a fruta e as sementes ao engaiolado louro. E, cedo, o palrador entregou a alma ao criador dos papagaios, morto de fome e de tédio.
Aflito, o amante da canha viu a sua vida a andar para trás. Que havia de ser da sua carreira se alguém soubesse que tinha deixado morrer o tão recomendado pássaro? Mas, esperto como era, conseguiu substituir o finado por um mocho que há muito habitava no cavername do navio, sem que ninguém de nada suspeitasse.
Daí a fazê-lo entregar por mão própria ao progenitor do protagonista desta história, foi um passinho de pardal.
O nosso emigrante, logo que soube que a “encomenda” já tinha sido entregue, até telefonou ao Ti Ferreira da farmácia pedindo-lhe para, com urgência, chamar o seu pai ao telefone.
O pai, receoso de más novas, correu à botica esbaforido.
Então pai! Já acredita em mim? O pássaro tem falado muito?
Olha meu filho, respondeu-lhe o pai a recuperar o fôlego. Falar não fala. Mas presta muita atenção!
4 Comments:
parece o èlio. não fala mas presta muita atenção
o Élio não fala, presta muita atenção e manda falar os outros em seu nome...
Até dá pena ver o tempo que se perde com este homem que apenas presta muita atenção, mesmo quando os assuntos não são de sua compreensão mas acena com a cabeça como se fosse um daqueles cáezinhos de peluche que os antigos Datsun transportavam junto ao vidro de trás.... a cabecinha quase sempre abanava que simmmm, de cima para baixo como que indicando uma compreensão extrema das matérias tratadas....
É Laaaamentável..... trelim tim tim tim......
Caro anónimo
Cumpre-me salvar a honra dos ex-possuidores de Datsuns. No meu 1200(ai que saudades) nunca entrou nenhum cãozinho de peluche.
Veja lá se modera a linguagem...
HO HO HO....
Mil desculpas, é verdade era mais nos Ford Escort.
Aquele Abraço
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