sábado, julho 11, 2009

Histórias com (alguma) moral – Prestar atenção



O ainda jovem emigrante sentia-se um vencedor. Com muita sorte, alguma argúcia e uma mão cheia de pouco escrupulosos negócios, tinha conseguido enriquecer rapidamente. Tão rapidamente que o seu feito só muito recentemente foi batido (e por um seu conterrâneo de Aguiar da Beira, diga-se em abono da verdade).

Faltava-lhe o reconhecimento do seu sucesso pelo seu honrado pai, velho Beirão de rija cepa, que sempre suspeitara de tão rápida fortuna.

O filho bem lhe gabava as oportunidades que tinha encontrado no ubérrimo Brasil onde arribara. Mas o velhote habituado a tratar das vinhas e a esperar muitos verões até as cepas produzirem touriga que desse rendimento de jeito, desconfiava.

Em desespero de causa o filho dizia-lhe, nas cartas que de longe a longe lhe escrevia, que no Brasil corriam rios de leite e mel e que o pão crescia das árvores. Olhe pai, por cá até há animais que falam, contou-lhe um dia.

Encheu-se de brios o nosso emigrante perante o encolher de ombros do pai. E, despeitado, decidiu comprar o mais palrador dos papagaios que havia no Nordeste e enviá-lo para a sua vila natal.

Custou-lhe uma nota preta mas valeu a pena. O bicho falava pelos cotovelos emplumados. Agora só era preciso mandá-lo ao vapor da carreira para ser entregue ao seu pai.

Em má hora o fez pois o marinheiro que ficou responsável pela encomenda era bem mais amante da cachaça do que de descer as escadas do porão para dar a fruta e as sementes ao engaiolado louro. E, cedo, o palrador entregou a alma ao criador dos papagaios, morto de fome e de tédio.

Aflito, o amante da canha viu a sua vida a andar para trás. Que havia de ser da sua carreira se alguém soubesse que tinha deixado morrer o tão recomendado pássaro? Mas, esperto como era, conseguiu substituir o finado por um mocho que há muito habitava no cavername do navio, sem que ninguém de nada suspeitasse.

Daí a fazê-lo entregar por mão própria ao progenitor do protagonista desta história, foi um passinho de pardal.

O nosso emigrante, logo que soube que a “encomenda” já tinha sido entregue, até telefonou ao Ti Ferreira da farmácia pedindo-lhe para, com urgência, chamar o seu pai ao telefone.

O pai, receoso de más novas, correu à botica esbaforido.

Então pai! Já acredita em mim? O pássaro tem falado muito?

Olha meu filho, respondeu-lhe o pai a recuperar o fôlego. Falar não fala. Mas presta muita atenção!

4 Comments:

At sábado, julho 11, 2009 11:57:00 PM, Anonymous Anônimo said...

parece o èlio. não fala mas presta muita atenção

 
At domingo, julho 12, 2009 10:56:00 AM, Anonymous Anônimo said...

o Élio não fala, presta muita atenção e manda falar os outros em seu nome...

Até dá pena ver o tempo que se perde com este homem que apenas presta muita atenção, mesmo quando os assuntos não são de sua compreensão mas acena com a cabeça como se fosse um daqueles cáezinhos de peluche que os antigos Datsun transportavam junto ao vidro de trás.... a cabecinha quase sempre abanava que simmmm, de cima para baixo como que indicando uma compreensão extrema das matérias tratadas....

É Laaaamentável..... trelim tim tim tim......

 
At domingo, julho 12, 2009 12:02:00 PM, Blogger RM said...

Caro anónimo
Cumpre-me salvar a honra dos ex-possuidores de Datsuns. No meu 1200(ai que saudades) nunca entrou nenhum cãozinho de peluche.
Veja lá se modera a linguagem...

 
At segunda-feira, julho 13, 2009 9:20:00 AM, Anonymous Anônimo said...

HO HO HO....

Mil desculpas, é verdade era mais nos Ford Escort.
Aquele Abraço

 

Postar um comentário

<< Home