quarta-feira, abril 16, 2008

Ninguém acreditaria?

Quem me conhece sabe - e quem lê o que eu escrevo nos dias em que me apetece falar a sério (o que é raro) certamente já concluiu - que eu tenho grande admiração por Joseph Stiglitz e pelo fundamental contributo que deu à esquerda moderna.

De tal forma que, se mandasse, obrigava quem quisesse aderir ao Partido Socialista a estudar primeiro a sua obra (e a muitos dos que por cá andam a reler os seus ensinamentos).

E não apenas pela sua contribuição para a teoria dos mercados em que existe informação assimétrica que mandou às urtigas as teorias neoliberais de que os mercados são, no mundo real, (quase) sempre eficientes, por demonstrar que, afinal, a famosa “mão invisível” não se vê porque não existe, ou ainda por provar que a desejada intervenção e regulação do Estado pode induzir eficiências mais elevadas na criação de riqueza e emprego do que as advenientes de uma economia de mercado (não vou aqui aprofundar a matéria porque senão o meu amigo Carlos Martins salta-me às canelas como, salvo seja, cão ao bofe, principalmente se eu falar das ineficiências de Pareto que Stiglitz considera existirem em economias de mercado).

Mas, como estava a dizer, não sou seu admirador apenas por esta razão (que lhe valeu aliás a partilha de um Nobel da Economia), ou sequer pela sua contribuição para o modelo “Shapiro-Stiglitz” de eficiência dos salários mas, essencialmente, pela sua clarividente análise do fenómeno da globalização e das suas consequências.

Mas como estava a dizer (a conversa é como as cerejas) aprecio muito o antigo conselheiro de Clinton. De tal forma que, à míngua de tempo para me deslocar aos EUA para ouvir uma das suas conferências, andava à espera de ele se deslocar a Aveiro, para numa nova e certamente memorável conferência, poder beber (mais) um pouco da sua sabedoria.

Só que ao ler um recente artigo de sua autoria (que foi traduzido e transcrito pelo Diário Económico) fiquei, pela primeira vez, desapontado e até escandalizado com aquilo que escreveu.

Falando da Administração Bush afirmou que “ninguém acreditaria que uma administração pudesse causar tantos danos em tão pouco tempo”.

É óbvio que Stiglitz não conhece Aveiro e não sabe dos efeitos negativos que, no passado recente, a administração autárquica causou ao nosso Município. Senão não defenderia aquilo que, só o desconhecimento da nossa realidade o levou, infundadamente, a escrever.

Mas, a partir de agora é fundamental trazê-lo cá. Até para o Carlos Martins ficar feliz quando o vir emendar a mão e mudar de opinião. Que tal nos 250 anos da elevação de Aveiro a cidade? Não valeria a pena fazer umas economiazitas com o pessoal supérfluo que está a preparar as comemorações?

3 Comments:

At quarta-feira, abril 16, 2008 11:15:00 PM, Blogger Carlos Martins said...

Caro RM,

Nao respondendo às suas sempre traçoeiras provocaçoes, limito-me so a lembrar-lhe que ao contrario do que se diz, foi precisamente durante o periodo em que esse senhor era conselheiro de Clinton que as piores decisões foram feitas em termos económicos, e, em última analise, onde foram lançadas as bases para o aparecimento da bolha do subprime. Sempre sob o comando de Greenspan, que apesar do seu ar de escola de Chicago, nunca deixou de intervir fortemente na economia, nao so atraves da politica monetária.

Mas se nao está convencido, lembre-se quando foram iniciados os programas (de redistribuiçao de riquieza neo-keynesiana, digo eu) de massificaçao de acesso ao crédito à habitaçao. Todos compraram casa, os que podiam os que nao podiam, tudo porque o Estado facilitou o acesso ao crédito. E legalmente permitiu que fossem sempre retomado o crédito sobre 100% do valor do imovel, partindo do pressuposto (la esta a informaçao assimetrica...a ir contra os neo-keynesianos e suas proprias politicas) que o valor dos imoveis nunca iria cair, e ajudando assim os menos favorecidos pelo mérito proprio. E isto é nos EUA onde o mérito até é reconhecido e a mobilidade social apreciavel...

Esse senhor so apontou o óbvio, que a assimetria de informaçao traz ineficiencia e que os mercados dificilmente sao perfeitamente eficientes, qualquer um pode ver. Que a soluçao seja criar mais ineficiencias e introduzir deformaçoes ao mercado deu sempre mau resultado... porque no longo prazo..o mercado global é eficiente!

 
At quinta-feira, abril 17, 2008 9:23:00 AM, Blogger RM said...

Caro Carlos Martins,

Folgo muito em o ver por cá. E saber que, mesmo que por pouco tempo ajudei ao chill out do dia a dis de trabalho (e a esquecer a derrota do benfica).
Pondo de lado as considerações que faz às minhas palavras (que como sabe não são triçoeiras) custa-me que diga mal do Clinton que como é reconhecido (mesmo por alguns pensadores de quadrantes mais à direira) foi um dos melhores presidentes dos EUA de sempre. Está claro qur fez algumas asneirolas e não só originadas nas hormonas. Algumas das quais foi dar ouvidos a alguns boys de Chicago que juravam a pés juntos estar reconvertidos. Bem, por cá também acontece.
Agora o meu amigo pegou num asunto que juro-lhe nunca tinha pensado. Diz que a culpa da crise que actualmente se vive deve-se ao facto de Clinton ter permitido que a maior parte dos americanos tivesse acesso a habitação própria. E eu que sempre julguei que as razões eram outras...
Fico porém satisfeito por não me contrariar na questão principal e saber que certamente vai ajudar a que o Stiglitz venha mais uma vez a Portugal fazer um colóquio.
E, já me esquecia, aceito que acredite que a longo prazo os mercados são eficientes. Só que, como sabe (e aí a evidência empirica joga a meu desfavor) a longo prazo... vamos estar todos mortos.

 
At sábado, abril 19, 2008 3:57:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Dr.
Saiu um texto muito interessante do Vital Moreira em
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1112478.html

 

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