segunda-feira, março 31, 2008

Luís Gomes de Carvalho

1- Com o fim de por cobro aos queixumes resultantes das situações desastrosas em que vivia a economia local e acabar com as frequentes epidemias dos povos que então viviam à volta do “charco” lagunar, o Príncipe Regente D. João, a 2 de Janeiro de 1802, decidiu entregar o projecto da Nova Barra aos militares Reinaldo Oudinot e seu genro Luís Gomes de Carvalho, notável engenheiro de rijo carácter, a quem Aveiro ficou a dever assinalados serviços particularmente depois da partida, no ano seguinte, do seu sogro para a Ilha da Madeira.

2- A 3 de Abril de 1808 foi aberta a Nova Barra, acto assim descrito pelo Comandante Silvério da Rocha e Cunha:

“Às 7 horas da tarde, em segredo, acompanhado por Verney, pelo marinheiro Cláudio e poucas pessoas mais, arrancam a pequena barragem de estacas e faxinas que defendia o resto da duna na Cabeça do Molhe. Cortam a areia com pés e enxadas e Luís Gomes, abrindo um pequeno sulco com o bico da bota no frágil obstáculo que separava a Ria do mar, dá passagem à onda avassaladora da vazante para a conquista da libertação económica de Aveiro, depois de uma pressão que durava há 60 anos”

3- Passados 12 dias lavrou-se o auto de abertura da barra, subscrito por Miguel Joaquim Pereira da Silva que, após referir os trabalhos preparatórios de abertura e a maneira como se deu o rompimento, regista:

“As águas que cobriam as ruas da praça, desta cidade, e os bairros do Albói e da Praia, abaixaram três palmos de altura dentro de vinte e quatro horas e outro tanto em o seguinte espaço, e em menos de três dias já não havia água pelas ruas e toda a cidade ficou respirando melhor ar por estas providências com que o Céu se dignou socorrê-la e a seus habitantes com esta grande Obra da Barra”.

4- No ano seguinte entrou na Barra e ancorou na Praia da Senhora um comboio marítimo composto por trinta e oito navios de transporte, escoltado pelo brigue de guerra PORT MAHON, com víveres e forragens para o exército inglês, que nos ajudava a rechaçar os invasores Franceses.

5- A 21 de Junho de 1823, "a vereação municipal de Aveiro, em reunião extraordinária, presidida pelo excelentíssimo D. Rodrigo de Sousa Teixeira da Silva Alcoforado, ilustre Barão de Vila Pouca, com a assistência do Clero, da Nobreza e do Povo, deliberou, por unanimidade, expulsar da cidade o engenheiro Luís Gomes de Carvalho, por indesejável, jacobino, liberal e incompetente!"

Na acta de expulsão era afirmado que
continuando Luís Gomes de Carvalho a dirigir as obras da Barra Nova, “Aveiro se tornará inteiramente infeliz e desgraçado, sendo este o unânime voto do clero, Nobreza e Povo, com o qual se conforma esta Câmara”.

6- Sobre o ambiente da época, o decurso dos trabalhos e a forma como os miguelistas Aveirenses trataram esse enorme vulto no desenvolvimento de Aveiro, essa admirável (e também tantas vezes esquecida) associação que é o CETA - Círculo Experimental de Teatro de Aveiro, que tanto tem feito entre nós pela promoção e divulgação da cultura e arte teatrais, apresenta-nos aqui a peça Longa Marcha para o Esquecimento de Jaime Gralheiro. Vale a pena recordar.

1 Comments:

At segunda-feira, março 31, 2008 11:21:00 PM, Blogger Marechal Ney said...

Meu caro:

Do texo publicado ressalta a personagem de Luís Gomes de Carvalho, "notável engenheiro de rijo carácter".
Interessantissima esta adjectivação de "rijo carácter".Porque assim era, o Engº Gomes de Carvalho, foi expulso de Aveiro, na sequência de uma deliberação da vereação municipal.

E, este homem, porque na ocasião via o futuro, sofreu a inquisição dos cépticos.

Ainda hoje, passados tantos anos, aqui e acolá lá vamos para nosso desgosto e pena, encontrando sinais e até atitudes muito semelhantes.

Basta, para isso, estarmos atentos.

Do Marèchal Ney

 

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