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"O presidente Élio Maia é um autocrata com ar bonacheirão"

Raul Martins, 56 anos, licenciado em Finanças pelo Instituto Superior de Economia e mestre em Estudos Europeus pela Universidade do Minho, é o presidente da Comissão Politica Concelhia de Aveiro do Partido Socialista (PS) e integra a Comissão Nacional dos socialistas há mais de 15 anos, tendo já sido líder distrital do PS aveirense. É um forte critico da gestão de Élio Maia na Câmara Municipal de AveiroLíder do partido que há dois anos perdeu as eleições para a Câmara de Aveiro, Raul Martins, uma "velha raposa" dos socialistas aveirenses, tem enfrentado a ingrata tarefa de liderar a Oposição na Assembleia Municipal aveirense à gestão de Élio Maia, um independente que já presidiu à Junta de Freguesia de S. Bernardo, que a coligação do PSD-CDS-PP foi buscar para destronar o socialista Alberto Souto.

Jesus Zing/JN - A derrota de Alberto Souto foi uma surpresa?

Raul Martins - Foi uma surpresa, embora houvesse alguns indícios, designadamente nas últimas sondagens, que indiciavam o que poderia acontecer. É óbvio que este sentimento se fortaleceu quando se verifica que existe uma coligação que congrega os dois partidos da Direita e a sociedade aveirense tem um cariz conservador.

JZ/JN - E esta coligação, ao fim de dois anos, como é que se pode qualificar?

RM - Foi criada com o único fito de ganhar as eleições, mas não tem um programa nem uma linha política comum ou um projecto de desenvolvimento para a cidade. Daí estar condenada ao fracasso a médio prazo. Nada tem sido feito de concreto, limita-se a carpir as mágoas da dívida que lhe foi deixada. Não há uma centelha de ideias neste Executivo camarário. Acho que Élio Maia, com o folhetim da dívida, está a portar-se muito mal roçando a desonestidade intelectual. Ainda não teve a coragem de assumir o valor da dívida e de o transpor para as contas da Câmara. Outro facto que transmite fielmente a imagem deste Executivo foi o plano de reequilíbrio financeiro apresentado que, como todos os aveirenses já se aperceberam, seria de morrer a rir, caso não fosse tão trágico.

JZ/JN - A oposição tem sido bem tratada?

RM - Completamente marginalizada. Élio Maia rege a Câmara com laivos de autocracia que ninguém lhe conhecia. Transformou-se num autocrata encapotado num ar bonacheirão. Não dá conhecimento dos assuntos e das decisões aos vereadores da Oposição, e até penso que não dá total conhecimento da evolução dos assuntos aos próprios vereadores do CDS, que são seus parceiros na coligação.

JZ/JN - Defende que Aveiro regrediu algumas dezenas de anos com a eleição da equipa de Élio Maia. Porquê?

RM - Direi antes que a designação mais correcta é que Aveiro "aparolou". Depois de ter demonstrado que era uma cidade e um concelho de ponta em áreas como a inovação e a cultura, está a transformar-se numa grande Junta de Freguesia e perdeu qualidade com isso.

JZ/JN - Élio Maia acaba de cumprir duas promessas eleitorais as célebres avenidas de S. Bernardo e Santa Joana...

RM - No caso de S. Bernardo, parece que a população não quer e tem todo o seu direito - e os cofres municipais até agradecem... Registo, em particular, no entanto, os interesses de quem estaria mais talhado para cuidar dos Caminhos do Senhor. Quanto a Santa Joana, a fazer-se aquela avenida, acho inadmissível que o traçado não tenha em conta o futuro desenvolvimento da freguesia e que seja feito às curvas, como este Executivo camarário pretende. É como fazer uma auto-estrada Porto-Lisboa e, de cada vez que se encontra uma casa, fazer uma curva. Numa sociedade democrática, os legítimos interesses particulares têm que submeter-se ao interesse colectivo.

JZ/JN - E a" célebre" política de privatizações?

RM - Não se conhece. Mas registo com particular preocupação o secretismo que tem vindo a rodear os contactos tendo em vista possíveis privatizações, e relembro a Élio Maia que este processo tem de ser claro, transparente e amplamente debatido. Se assim não for, tiraremos as devidas ilações (e agiremos em conformidade).

JZ/JN - O "ferry" para S. Jacinto está aí...

RM - Estamos expectantes, mas há algumas questões que se colocam: Não nos parece que os preços dos bilhetes permitam a sustentabilidade financeira a médio prazo. Ainda não temos informação total sobre se o "ferry" serve os turistas ou os interesses de S. Jacinto e continuamos a suspeitar das condições técnicas do barco. Ainda há dias assistimos a uma paralisação provocada pelo nevoeiro. Parece que o barco tem um radar de "ouvido".

JZ/JN - Como antevê o futuro político deste Executivo?

RM - Com a saída de Jorge Greno e com eventuais novas saídas da vereação, se se agudizarem questões que, no passado, já levaram a pedidos de demissão, haverá um progressivo enfraquecimento político de Élio Maia, tanto mais que o CDS já se apercebeu de que esta coligação está a exaurir o peso político que aquele partido detinha na sociedade aveirense. A entrada de Caetano Alves e a possível entrada de Ulisses Pereira vão trazer motivos de interesse, que vão animar a agenda política local nos próximos tempos. Restará ainda saber quem vai ganhar as eleições no PSD...

JZ/JN - E o PS já pensa em candidato?

RM - Estamos a analisar possíveis candidatos. Esperamos a curto prazo dar a conhecer aos aveirenses aquele que, em 2009, será o novo presidente da Câmara Municipal de Aveiro.

Nota: Excertos "retocados" de uma entrevista dada ao JN na pessoa do Jesus Zing. Dadas as limitações impostas pela paginação do jornal as respostas foram abreviadas e muito ficou por transcrever. Mas o Zing se quiser conta... Mas não apertem muito com ele pois como me baptizou passou a ser o meu novo padrinho. E eu não me vou esquecer do folar...