sábado, março 31, 2007

Laisser faire...


O meu amigo Carlos Martins fez-me, há dias, uma agradável visita. Bem tentei que aprofundasse a sua opinião sobre o que então escrevi sobre o PDA-EM (e o seu CEO) mas ele fechou-se em copas. Sinceramente, penso que por concordar comigo mas, neste mundo do “politicamente correcto”, não o poder publicamente declarar.

O Carlos Martins que, coerentemente, alinha o seu discurso com a teoria económica neoliberal, enaltece as virtudes do mercado e defende a privatização e a desregulação da economia.

Hoje lembrei-me dele. Estava sossegado a tomar uma bica enquanto na mesa ao lado um jovem casal conversava em voz alta, tão alta, que mesmo eu que sou um bocado surdo não pude deixar de ouvir.

Dizia ela:

- Ó Manel (o Manel era o namorado), na segunda-feira vou ao Aljube e, se calhar, demoro o dia inteiro.

- Ao Aljube Rita? dizia ele (a Rita era ela). E que vais tu fazer ao Aljube, amor? Mau mau!

- Nada de mais, respondeu ela. Não te preocupes. É que pedi um certificado de habilitações, na minha escola, e falta-me colher a assinatura do reitor.

Não pude deixar de me rir e de pensar que, no caso particular do ensino, a privatização e o “livre” mercado não conseguiram resolver tudo. No mínimo deixaram umas “pontas” para os tribunais resolverem!

Lembrei-me então do Carlos. Mas para ele não ficar zangado comigo, por aqui o confessar, deixo-lhe uma fotografia do célebre Cadillac que, há alguns anos atrás, era visto a voar baixinho pelas ruas de Chicago, com o seu “Nobel” predilecto ao volante. Estou certo que vai ficar contente (quanto mais não seja, vai seguramente sorrir, ao rever a matrícula).

8 Comments:

At domingo, abril 01, 2007 9:20:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Penso que Rita deveria passar lá ao Domingo !!!...

 
At domingo, abril 01, 2007 10:56:00 AM, Anonymous Anônimo said...

ENIGMAS E CHARADAS

Com esta, bem nos "lixou",
Pois nesta grande charada,
Pouca gente adivinhou
Qual a "cousa" aqui "postada".

Vou tentar adivinhar
Este enigma, então.

O Reitor não vai comprar
Este valente "carrão":
Não vê que ele tem que pagar
Aquela enorme caução!

MV é MoveAveiro,
Isso qualquer cego vê.
Irá mudar de verdade?
No carro diz: p´ra PQ:
Para o Parque da Cidade?

Será p´ró Mário Duarte?
Melhor fora p´rás alminhas,
Já que o campo, em toda a parte,
Só cria ervas daninhas.

Na cidade de Chicago
Não sei de Nobel nenhum;
Já me lembro.Óh! carago!
Era o Nobel do: pum! pum! pum!

Para a próxima, doutor,
Clarifique o conteúdo.
Que o QREN é bom, sim senhor,
Mas não nos resolve tudo...

ZÉ MALAGUETA

 
At domingo, abril 01, 2007 8:20:00 PM, Blogger RM said...

Deixe lá Zé Malagueta,
Coisas de economistas.
Raul Martins

 
At segunda-feira, abril 02, 2007 3:51:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Senhor Dr. raul
Sou a Clara Sousa fui sua luna Há 10 anos,não sei se se lembra de mim, sou frequentadora do blogue, mas não percebio onde quer chegar com este texto. pode-me dar uma ajuda, estou a fazer um trabalho sobre doutrinas económicas.
Gosto mais do que escreve quando explica tudo.
Clara Sousa

 
At terça-feira, abril 03, 2007 11:13:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Deixe dar-lhe uma ajuda, na medida em que a angustia do desconhecido pode dar-lhe cabe da paciencia para fazer o trabalho doutrinal. A primeira parte, trata-se de uma conversa privada, que para ser percebida precisa de acompanhar as reuniões da Assembleia Municipal; a segunda parte, como foi aluna do Dr. lembra-se certamente de Irving Fisher, um excentrico e economista que ganhou a vida a vender teorias economicas... pois este era o carrinho dele, e fazia-se acompanha com a formula que mais dinheiro lhe rendeu:
- MV=PQ, que significa que a massa de moeda multiplicada pela velocidade com que ela é trocada tem que ser igual aos preços vezes a quantidade de produtos. Claro como a agua (ou vinho) confrome a preferencia.

 
At quarta-feira, abril 04, 2007 12:12:00 AM, Blogger RM said...

Cara Clara Sousa,

Realmente não me lembro de si. Não leve a mal mas já foram alguns milhares de alunos que tiveram a desgraça de me ter de aturar e só pelo nome não chego lá.

Relativamente à sua questão o anónimo já deu pistas mas, vou juntar-lhe mais algumas:

Existe um ilustre deputado do PP na AM de Aveiro (o meu amigo Carlos Martins) que, coerentemente com a sua opção partidária (o que é raro) defende a teoria económica neoliberal e como sabe eu, que sou socialista, perfilho ideias diversas baseadas nas teorias económicas neokeynesianas. E eu, que o considero e acho que pode ter um excelente futuro, gosto de me meter com ele.

Sinteticamente a escola neokeynesiana tem muitos matizes e autores. Eu gosto particularmente de Paul Krugman (e da sua critica cerrada às políticas de Bush), de Robert Mundell e dos seus trabalhos sobre movimentos internacionais de capitais, de Paul Samuelson o homem da “síntese neoclásica” e co-autor do “tijolo” que, na minha altura, era obrigatório ler, de Joseph Stiglitz , prémio Nobel e conselheiro do Clinton (cujos trabalhos sobre globalização é obrigatório que leia) e de Robert Solow, ente outros.

Para o que aquí interessa e de forma muito redutora e simplista (uma discussão profunda iria levar séculos) contrariamente aos neoliberais que acreditam piamente na "economia de mercado" e defendem que a redução do peso do Estado na economia e a livre actuação das pessoas e dos mercados acarreta o desenvolvimento económico, os neokeynesianos, embora aceitem a lógica do mercado como motor da economia, advogam a interferência do estado para reduzir as distorções ou disfunções do mercado, para administrar os impactos das crises e para fazer face aos caos sempre à espreita nos jogos das "forças do mercado", ou seja, preconizam a criação de mecanismos para domesticar (“regular“) a lógica de mercado por forma a diminuir os seus efeitos preversos.

Por seu lado o neoliberalismo defende a absoluta liberdade de mercado e uma quase integral restrição à intervenção do estado na economia, que apenas poderá ocorrer em sectores imprescindíveis e, ainda assim, num grau mínimo.

Está certa a descrição da fórmula e a sua autoria feita pelo anónimo anterior a quem agradeço a ajuda.
Porém o Cadillac da foto pertencia a Milton Friedman que, como sabe, morreu há pouco tempo, (vd. Blog neoliberalismo) e foi um dos fundadores da Escola de Chicago, que defendia que o melhor governo é aquele que governa menos cabendo-lhe, sobretudo, controlar a oferta de moeda e criar condições para o funcionamento do mercado. Escudado na equação de Fisher, Friedman desenvolveu, a teoria do monetarismo, que sublinha a importância do controlo da emissão de moeda e não de políticas fiscais, para combater a inflação.
Os Chicago Boys ensaiaram as sua políticas no Chile de Pinochet e o neoliberalismo acabou por, no final da década de 70, fornecer a consistência teórica ao “Thatcherismo” e ao Reaganismo”, fomentando a privatização e a desregulação das economias inglesa e americana e desmantelando totalmente o Estado Social.

Espero que estes elementos lhe sirvam de guia. Mas atenção. O simplismo da explicação precisa ser aprofundado e trabalhado.

E só para acabar o sentido com que coloquei o post digo-lhe que sempre estudei em escolas públicas e ensinei em escolas públicas e as minhas filhas sempre foram alunas do ensino público. Graças a Deus e também a algum esforço suplementar para obtenção de notas para entrar.

E para quem advoga que as privatizações são (em todos os sectores da economia, principalmente quando deixadas ao livre arbítrio do mercado) a melhor das soluções, estes problemas em mais uma universidade privada devem dar para reflectir, se as privatizações (no ensino ou noutros sectores estratégicos fundamentais) valem realmente a pena.

Está claro que muitos, indiferentes aos verdadeiros desígnios do sector privado, vão chutar para a frente e dizer que a culpa é do Estado que tinha o dever de fiscalizar. Mas isso é outra história…

Cumprimentos
Raul Martins

 
At quarta-feira, abril 04, 2007 10:03:00 PM, Blogger Carlos Martins said...

Caro Dr Raul Martins...

Não sei que lhe diga...

Por um lado sinto-me honrado pela importância que me presta.

Mas por outro envergonhado por não ter tido a disponibilidade de responder... E também nao vai ser hoje...perdoe-me.

Parece desculpa de mau pagador, mas foi pura falta de tempo. Prometo dar uma olhadela ao assunto nesta altura mais calma da Pascoa...

Até lá, fico contente por ver que a discussão ao nível da teoria económica é também aqui feita. É bem mais interessante que as discussões mais vazias, mas nem por isso menos participadas que florescem.

Cumprimentos

 
At quarta-feira, abril 04, 2007 10:15:00 PM, Blogger Carlos Martins said...

Ah...e gostei da evocação a Fisher, embora seja apenas um pormenor e um passo útil para o pensamento neoliberal. De qualquer forma, ajuda a +erceber como funciona a inflação e a formação dos preços.

De facto, e isto é inegavel, quando ha uma qualquer fixação de preços que nao respeite esta formula de M.v=p.Q há a criação de uma ineficiencia no mercado.

Ao fixar-se o preço de algo, não significa que o valor bem ou serviço seja também fixado. Pelo contrario. A diferença terá que ser paga pelos agentes de uma forma ou de outra. Seja via impostos, deficit (que significa impostos no futuro), inflação (via depreciação de salarios reais e poder de compra), caso a fixação venha do Estado. Caso esta fixação seja fruto de ausencia de concorrência (assumpção sempre necessária na teoria neoliberal, porque optimiza recursos, e minimiza custos para o consumidor) entao quem sofre é o consumidor, pois tem que pagar o lucro do monopolista.

Mas como disse, a formula de Fisher é apenas a explicação de uma das vertentes da economia.

 

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