domingo, março 25, 2007

Quem receia as comissões de acompanhamento?

Na última sessão da Assembleia Municipal de Aveiro, os deputados municipais do PPD/PSD e do CDS/PP, que suportam o actual executivo municipal, numa votação estranha e inesperada, rejeitaram, entre outras, a criação de uma comissão de acompanhamento ao desenvolvimento do PDA-EM, apresentada pela bancada do PS.

Esta insólita rejeição veio alterar, de forma radical, a forma de actuação da nossa Assembleia Municipal que, no passado, sempre soube conjugar, de forma hábil, o trabalho das sessões plenárias com uma intensa e profícua actividade de comissões de acompanhamento. Comissões de acompanhamento que, para além de terem permitido obter muitos consensos dificilmente alcançáveis em plenário, foram o alfobre de inúmeras ideias, que provaram ser de grande utilidade para o desenvolvimento dos projectos acompanhados.

A inédita e gratuita rejeição desta comissão multipartidária, impede uma activa e relevante contribuição da oposição para este projecto e assume uma enorme gravidade, por várias ordens de razões, entre as quais se salientam:

- Em primeiro lugar, o papel que o projecto pode jogar na desejada dinâmica de crescimento e desenvolvimento sustentado que se pretende para o nosso concelho e a sua importância na criação de uma nova centralidade municipal.

- Em segundo lugar, o facto do Presidente do Conselho de Administração desta Empresa Municipal ser ao mesmo tempo um destacado militante distrital e líder local do PPD/PSD.

- Finalmente e talvez a não menos importante das razões. A PDA poder jogar um papel fundamental na resolução de dois dos problemas que muito preocupam os Aveirenses e para os quais urge arranjar solução: O problema da EMA e do Estádio Municipal e o problema da dívida do município.

Deixando para outra ocasião a análise da relevância desta parceria público privada, em que os fins sociais se devem articular, harmoniosamente, com os fins económicos na prossecução de um integrado e sustentado desenvolvimento local e regional, sempre diremos que, não sendo por natureza desconfiados, ficamos no mínimo intrigados acerca dos motivos que justificam vedar aos membros da Assembleia Municipal, cuja função é por natureza fiscalizadora, a possibilidade de acompanharem de perto o desenvolvimento de um projecto desta natureza e importância. Contrariamente ao que, no passado, aconteceu relativamente à EMA e ao Programa Polis e, principalmente, quando a justificação aduzida para justificar o “chumbo” à comissão é que "as estratégias de investimento exigem prudência e sigilo” e que “não se podem gerir bem empresas, correndo o risco das suas decisões virem parar à praça pública".

Mas, perguntamos, passa-se alguma coisa nesta Empresa Municipal de tanta gravidade, ou que exija tal sigilo, que um restrito grupo de deputados municipais não possa conhecer? Passa-se alguma coisa de que o líder local do PPD/PSD tem, obviamente, cabal e total conhecimento (e certamente o seu partido bem como o seu parceiro da Coligação), mas que os Partidos da oposição e, particularmente, o PS, não podem saber?

Sinceramente, queremos acreditar que não mas, convenhamos, esta questão apresenta-se, no mínimo, com contornos pouco claros. E, enquanto aguardamos pela data em que possamos vir a conhecer “as estratégias de investimento” que exigem tal “prudência” e tal “sigilo” vamos tentar perceber quem é que o Sr. Dr. Ulisses Pereira realmente representa no Conselho de Administração do PDA-EM.

Ora, como todos já percebemos, o que verdadeiramente está em causa, o que verdadeiramente aflige a Coligação é a forma como, rapidamente e em força, poderá proceder à privatização do PDA-EM. E esta indisponibilidade para partilhar informação, o secretismo que defende, preocupa-nos e preocupa ainda mais todos os aveirenses conscientes da importância que a empresa pode ter na resolução dos problemas da EMA e da dívida municipal.

Fazendo tábua rasa da garantia, que em tempos deu, de que o financiamento do ambicioso projecto lúdico desportivo “iria ser integralmente suportado pelo parceiro privado”, o Dr. Ulisses Pereira, pasme-se, vem agora afirmar que a Câmara tem de “meter dinheiro” no PDA-EM para que o projecto “avance” e se “realize e não fique a patinar” e, “uma vez que a Câmara de Aveiro não tem condições para participar financeiramente no projecto”, defende a “imediata e progressiva alienação do capital social” da empresa detido pela Câmara Municipal de Aveiro.

Temos defendido (e continuaremos a defender) que, previamente à privatização da PDA-EM deverá ser estudada (e concretizada) a forma de nela ser integrada (por aquisição, fusão ou outra forma que melhor faça a gestão fiscal da integração), a EMA, que engloba o Estádio Municipal bem como as infra-estruturas e os terrenos anexos. Esta operação permitirá que a Câmara Municipal de Aveiro fique a dispor dos meios necessários para poder ocorrer aos aumentos de capital social que, como accionista maioritário do PDA, deliberar realizar na empresa.

E não nos venham dizer que este assunto devia ter sido resolvido na altura em que foi deliberado aumentar o capital do PDA-EM para 500.000 euros e proceder à alienação de 49% do capital da empresa. Basta relembrar que o desenvolvimento deste processo decorreu no ano de 2003, enquanto se construía (e se procurava financiar) o Estádio para o Euro 2004, para que toda esta falaciosa argumentação se desmorone.

Também não vence a ideia que o parceiro privado não quer, sequer, encarar a possível integração da EMA. A Visabeira é, reconhecidamente e sem qualquer sombra de dúvida, um grupo económico de referência e, não consta, que goste de desprezar investimentos potencialmente geradores de benefícios futuros. A Visabeira reconheceu as potencialidades da empresa do PDA-EM, na altura em que esta era ainda uma empresa embrionária em fase de arranque (e estava tecnicamente falida) de tal forma que ofereceu (e pagou) um prémio de emissão de 1 milhão e trezentos mil euros, quando adquiriu 49% do seu capital por 245.000 euros. E estou convicto que, apesar de todos os incidentes de percurso, continua a considerar ter feito um excelente investimento,

A EMA detém o Estádio, onde se investiram mais de 55 milhões de euros, que não tem conseguido rentabilizar, mas muito se poderia aumentar ao seu actual valor e melhorar na sua rentabilidade futura se o Plano de Urbanização dos terrenos anexos, aproveitando as infra-estruturas existentes, previsse uma nova centralidade de qualidade (Centro Comercial, Hotel, Centro Congressos, Restaurantes, Bares, ou outros equipamentos que permitam criar sinergias com o estádio). Esses equipamentos que, por múltiplos motivos, seriam bem vindos a essa zona de Aveiro poderiam, ainda, ser projectados para harmoniosamente integrarem e complementarem o complexo lúdico-desportivo do PDA e aí jogarem um papel fundamental. A solução não é simples e implica, naturalmente, muito trabalho. Mas será que, por Aveiro e pelo seu futuro, não vale a pena tentar? E quanto ficaria valer o PDA se, integrando a EMA, tivesse a possibilidade de implementar este projecto?

Finalmente e para que fique bem claro. Somos totalmente contrários à progressiva alienação do capital social do PDA-EM. Se, apesar de todos os conselhos e avisos, o actual executivo persistir no processo de privatização da empresa, sem previamente ser efectuada a integração da EMA, sujeitando-se ao anátema de uma medida que vai certamente ficar escrito nos anais da (má) história económica municipal contemporânea, nunca o deverá fazer progressivamente.

Se o fizer, perde, definitivamente e sem remissão, a sua posição maioritária que, embora fragilizada por um acordo parassocial, a que levantámos dúvidas, mas as circunstâncias da época, obrigaram a subscrever, ainda lhe permite o controlo do processo e tem um valor determinante. Se perdesse a maioria, a Câmara Municipal de Aveiro apenas ficaria a fazer o papel de parceiro morto no projecto e a sua percentagem no capital social da empresa poderia vir a ser sucessivamente diminuída, bastando para tal que não lhe fosse possível subscrever os sucessivos aumentos de capital social que o accionista maioritário, com o desenvolvimento do projecto, irá, nestas circunstâncias, certamente, propor.

Se persistir, no que consideramos o grave erro de privatizar imediatamente o PDA-EM, o executivo camarário liderado pelo Dr. Élio Maia deverá, no mínimo, em nome da transparência e do rigor que deve presidir à gestão da coisa pública, abrir um concurso público para a venda da totalidade da participação da Câmara Municipal de Aveiro na empresa (51%).

Mas, sinceramente, esperamos que o não façam pois, mesmo que em termos de rigor e transparência seja possível acautelar a tomada de decisão, a contingência em que actualmente vivemos vai, certamente impedir que se acautelem os interesses económicos e financeiros do nosso Município. E isso, os aveirenses, tão cedo, não iriam esquecer.

5 Comments:

At segunda-feira, março 26, 2007 2:53:00 AM, Blogger Terra e Sal said...

Meu Caro Dr. Raul Martins:

Acho interessante o seu cuidado politico em tratar estes assuntos, no que se refere há não formação de Comissões de acompanhamento do PDA- Empresa Municipal, e logicamente nas negociações que me parecem andarem já a decorrerem entre a Câmara/PDA, e o seu parceiro naquele projecto...

Os deputados do PSD e CDS disseram, segundo os jornais, que o negócio deve ser sigiloso, bem guardado, e quanto menos se souber deles melhor, já que, pode ir tudo por água abaixo.
Resumindo: Ali parece-me estar um negócio da China!
Ora, eu, que de regras formais e do “politicamente correcto” nada entendo, penso que, um negócio, seja ele qual for, e que mexa com os dinheiros públicos, deve ser feito bem às clarinhas, e sem esconder nada a ninguém, como do mesmo modo penso, que aquele ditado do “o segredo é a alma do negócio” não pode, nem deve, aplicar-se à coisa publica.

É que, por causa dos sigilos e dos “segredos e segredinhos” e dos “negócios escondidos” que vamos lendo todos os dias nos jornais, o que se vai passando nas Câmaras, por aí acima, e por aí abaixo...
Além disso, penso, que a Câmara com o segredo que tanto quer guardar, não pensa “vigarizar” o “pobre” do “sócio” só porque ele é aí de cima, do interior...

Para acabar que já vou longo.
Quanto à não aprovação das Comissões de acompanhamento: Efectivamente é chocante o modo como as bancadas do PSD e CDS se comportam, negando agora à oposição, aquilo que sempre lhes foi dado. Mas ao mesmo tempo dá-me vontade de rir, por aquilo que fizeram aos deputados do PS, BE, e PCP...

Eu sei que o Partido Socialista quando foi poder admitia sem reservas Comissões de acompanhamento fosse para o que fosse, e integrava nelas, todas as bancadas com “assento parlamentar” ou seja: PCP, PSD e CDS.
Pois é, era lindo sim, mas esqueceram-se de um ditado velho:
Nunca dês pão a “cães vadios” porque eles mais dia, menos dia, vêm a morder-te a mão.
Registe isso, para quando os Socialistas forem poder.
Cumprimentos.

 
At segunda-feira, março 26, 2007 10:15:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Conversa entre a Dona Coligação e o seu marido(o Senhor Acompanhamento)

MARIDO:
Eu quero-te acompanhar,
P´ra ver se andas metida
Com alguém, que quer ficar
Com os bens, que a trabalhar,
Amealhei toda a vida!

DONA COLIGAÇÃO:
Isso eu não vou permitir.
Quero ser eu a mandar.
Ser eu só a decidir
Sem precisar de te ouvir
Sempre a dizer: vais falhar!

MARIDO
Dizem que é de Viseu
O teu novo namorado!

DONA COLIGAÇÃO
E se for? Agora é meu!
Dizem que já pertenceu...
Bom...não interessa...é passado!

É com ele que vou casar
Nos campos de Taboeira.
Só a mim ele quer "emar",
E por isso eu vou ficar
Com ele para a "vida...beira"...

ZÉ MALAGUETA

 
At segunda-feira, março 26, 2007 1:42:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Quemos viu, a impedir o progresso,
e quem os vê, a serem retrogrados!
Pobre coligação!...

 
At terça-feira, março 27, 2007 7:36:00 PM, Blogger Carlos Martins said...

Sob o ponto de vista da PDA-EM - e apenas sob este ponto de vista - o aumento de capital pode ser crucial para o seu desenvolvimento e crescimento.

A questão é que muito provavelmente apenas a Visabeira terá capacidade de fazer esse aumento, pelo que a CMA teria que remeter-se a papel secundário.

É um dilema difícil, a CMA ou mantém o controlo da PDA actual, ou permite esse eventual (para mim, incontornável) aumento de capital e abre caminho ao crescimento da PDA...

 
At quarta-feira, março 28, 2007 8:09:00 PM, Blogger RM said...

Caro Terra e Sal:

concordo em absoluto consigo quando afirma que é chocante o modo como as bancadas do PSD e CDS se comportam, negando agora à oposição, aquilo que sempre lhes foi dado. Mas lembre-se, um dia é da caça...

Quanto à existência de negócios escondidos é óbvio que os negócios que eventualmente se estão a delinear nas costas dos deputados municipais estão a ser escondidos.

Mas têm o rabo de fora. E na minha visão aristotélica do mundo cumpre-me acreditar que não sejam escuros.


Caro Zé Malagueta

Brilhante como sempre.
Não há encómios que lhe façam justiça.


Caro Carlos Martins

Bem-vindo à discussão. Fico contente pois como já disse (e repito), considero-o o político aveirense de direita (o único se calhar), com o seu pensamento económico (neo-liberal) estruturado e arrumado. O resto é uma grande confusão de conceitos autofágicos (aliás na infeliz senda da situação actual do seu partido).

Está claro que não defendo essas ideias mas respeito-as como, estou certo, respeitará a minha posição (neo-keynesiana) e (ambos) sabemos das virtudes e das fragilidades destas (das?) escolas de pensamento económico.

Penso que leu o meu artigo com alguma ligeireza, ou, no mínimo, pretende-o reduzir a um modelo simplista. De facto, a questão tem de ser enquadrada no tempo e no espaço actual e ter em linha de conta as contingências existentes. Este problema pode, eventualmente, ser transformado numa oportunidade única que permita gerar (muito) valor, absolutamente necessário para ajudar a resolver as restrições financeiras (e económicas) da CMA e, concomitantemente, resolver os problemas da EMA, do Estádio e até do Beira-Mar que atravessa um mau momento (que todos esperamos consiga ultrapassar e, para o qual, nesta altura de dificuldades, devem convergir as boas vontades de todos os aveirenses de boa-fé que amam a sua cidade e as suas instituições de referência, certo que já vejo todos aqueles que nos momentos das gloriosas vitórias do clube se acotovelam para ficar na fotografia e dela extraírem o máximo proveito político pessoal, acomodados, a assobiar para o ar e até a criticar o trabalho dos que ousam e se empenham (literalmente) em fazer coisas mesmo quando o êxito não está assegurado).

Está claro que não é um problema simples e exige, competência técnica, muita dedicação à causa pública e, naturalmente, muito trabalho.

Coisas que pelo que constatamos não abundam, especialmente quando vemos, em tão curto prazo de tempo, o Presidente do CA do PDA dar o dito por não dito (aliás todos sabíamos, especialmente quem tem o mínimo conhecimento de como funciona o mercado, que o que ele disse - e o Presidente da Câmara corroborou - nada mais era do que uma treta sem qualquer valor), ou agora quando ouvimos o Presidente da EMA (puxe-lhe as orelhas que ele merece) a apresentar aquela razão do IVA para a manutenção da empresa durante 20 anos (ou pelo menos 10).
Penso até que por ali andará a mãozinha de um bem conhecido administrador da EMA que, certamente será muito competente na sua área técnica de formação, mas nestas coisas da gestão e da fiscalidade...

Mas voltando à vaca fria, que a conversa é como as cerejas. Sinceramente espero que não tenha internalizado a triste história da câmara tesa e desamparada que numa empresa em que é maioritária se tem de render ao poder económico do sócio minoritário, mas que mesmo assim deve continuar no projecto.

E já agora, que sei que é um homem que dá a cara pelas suas convicções responda-me por favor:

- Acha, sinceramente, que a venda pela CMA de 10% dos seus 51% no PDA por 2 milhões de euros (que segundo sei é parte do tal negócio que se pretende esconder mas que todo Aveiro conhece), perdendo todo o controlo do processo é solução para qualquer dos problemas da CMA.

Acha que esta é a melhor forma de gerir um activo de tão grande potencial e importância para o nosso município?

Agradeço que responda até porque sei que é uma pessoa séria e competente que não alinha em certas jogadas demagógicas e não vai utilizar e gastar a justificação (que alguns sigilosamente têm guardada na manga) de que é um valor muito elevado quando comparado com o cerca de 1,5 milhões que a Visabeira pagou pelos 49% iniciais.

Ou que fazer a integração da EMA é difícil (impossível dirão alguns).

Fico à espera da avalizada opinião de um técnico que sei domina bem estas questões. Espero que não me (nos) desiluda.

Abraço a todos
Raul Martins

 

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